TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Da Mary, Blog A feminista, AQUI
Eu trabalho numa faculdade classe C. Todos os meus alunos, sem exceção, fazem parte dos batalhadores do Brasil. Eu ainda não li o livro do Jessé Souza mas gostei bastante da entrevista que ele deu pra Folha. E eu quero ler o livro e mostrar pros alunos. Porque eu trabalho demais essa questão em sala de aula. Já faz tempo que eu acredito que a falta de capital cultural é o grande complicador pra eles. É um complicador tão grande que eles não percebem que é um grande complicador. Eles acreditam piamente que a diferença entre nós é o tempo de escolaridade. E eu digo que não é e tal. E eles não conseguem perceber. Quando eu comecei a dar aula, uma das professoras do curso de Pedagogia me explicou que nossos alunos não tinham perspectiva histórica. Que eles não conseguiam pensar em mundo se transformando e tal. Ela me disse isso porque minha aula de Sociologia tinha ficado atolada na Revolução Industrial. Freeze mesmo. O que é esse negócio de feudalismo que você fala, professora? É latifúndio que você tá falando? E não adianta muito fazer pra eles aquilo que me fizeram no colegial. Tipo passar O Nome da Rosa. Porque eles ficam atrás de saber se tal monge era ou não biruta ou má pessoa. Eles só conseguem pensar em coisas assim. Alguns alunos mais espertos já me explicaram mais de uma vez. Que eles nunca tiveram aula dessas coisas e que os professores de história trabalham com um texto na aula. Leva o texto, lê o texto, discute o texto*. E na aula seguinte, outro texto. Que nada tem a ver com o anterior. Então a gente fica um tempão pra ver isso. Que o mundo hoje é assim. Mas antes era assado. E com o mundo assim, tais e tais coisas começaram a existir. Eu li um livro outro dia que o moço dizia que a sociedade atual está radicalizando a ideia de democracia. Mas para poucos. Que a internet é tipo a Grécia Antiga mesmo. E eu acho que concordo com ele. O caso, na verdade, não é esse. O caso é outro. Na verdade, dois casos. Primeiro. Eu dei aula no curso de Pedagogia ontem. E eu tenho 3 ex-alunos lá. Eles se formaram em História e agora estão fazendo Pedagogia. Eu entendo alguém fazer outra graduação e MUDAR de área. Eu fico triste quando eu vejo alguém fazendo outra graduação para REFORÇAR a primeira. Daí eu passei um trecho de Maria Antonieta pros meus alunos ontem. O da Copollinha. Eles não sabem nada, meus alunos. De ter pão. De comer brioches. Nada disso eles sabem. Aí um dos ex-alunos de História me ajudou com a caixa de som. Que não tava funcionando direito. E ele pegou o filme na mão e falou "eu já ouvi falar dessa mulher, quem é ela mesmo?". E ele é graduado em História. Isso é uma coisa. Agora a outra coisa. Na Pedagogia sempre tem umas véias. E eu tava fumando no intervalo e três delas vieram falar comigo. Aí papo furado. Tão gostando? Tão tendo dificuldade? E uma delas me disse que está tendo muita dificuldade com o uso do computador**. E que é o mais difícil. E que não é do tempo dela. E que a filha adolescente tá ajudando. E eu sendo muito carinhosa com ela. E dizendo "o desafio maior a senhora já topou, que é estar aqui" etc. Ela é crente. Tipo usa o coque e a saia e etc. Mas aí eu comecei a achar ela absurdamente nova. Pelos traços e pela pele. Mas continuamos. E ela verbalizou uma coisa que me emocionou demais. Ela é formada em Técnico de Enfermagem. Mas não exerce. Ela trabalha num frigorífico porque paga melhor. E o sonho é fazer uma faculdade. Porque o reconhecimento é maior, ela me explicou. Na minha igreja, quando alguém se forma, o pastor fala e chama lá em cima; quando eu me formei em técnica, ele não me chamou. Essa história aí que ela contou. Eu fumando antes de entrar pra sala e falar sobre essa maldita burguesia que tá dando golpe por aí desde mais ou menos 1789. Aí eu não sabia o que dizer. Aí eu perguntei. Quantos anos a senhora tem?. Ela respondeu "35". Eu já sabia que vinha uma coisa assim porque eu fiquei reparando durante a conversa. Então não preciso mais te chamar de senhora, eu falei. Porque, né? Sou mais velha que ela.


*E eu sei que isso é uma metodologia. Eu sei que se chama construtivismo. Eu sei que não, não é construtivismo. Eu já vi toda essa discussão. Sei onde quer chegar isso tudo. Mas sei que não chega e eu fico mais de mês dando história pra eles e explicando o que é monarquia. Até isso teve esse ano. O que é monarquia, professora? Então nem tô criticando o método não. Tô só dizendo que os meus alunos se queixam do método.

**Eu tenho essa disciplina de Sociologia com elas. Na sala de aula. Mas também dou uma disciplina on line.
Eu preciso dizer que ODIEI o título do livro. Batalhadores Brasileiros. Tem isso. Sociólogo esquerdinha faz uma puta pesquisa. Descobre um monte de coisa mas não consegue evitar de romantizar a pobreza etc. Não achei só ruim o título. Acho que enfraquece mesmo. Acho que temos que nomear essa classe. Claro que temos. Mas sem flertar com o melodrama etc.

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