Fonte: primeira página da Zero Hora, 23/2/2011.
Ratos, por Leonardo Ferrari, psicanalista, Curitiba, aqui
Depois da saída de George W. Bush da presidência dos Estados Unidos, eu estava com saudade dos grandes filhos da puta. Na categoria dos filhos da puta, há os pequenos filhos da puta e há os grandes filhos da puta. Kadafi pertence a esta divisão. “Capturem os ratos. Tirem-nos de suas casas e acabem com eles, onde quer que estejam”. É a frase do ano. Nunca antes se ouviu coisa parecida. Aliás, relembrando Lacan, quando um ditador começa a falar de ratos, sem querer, está falando de si mesmo - é o que significa receber a própria mensagem de forma invertida. Ora, qual é a maior arma deste pútrida, deste calhorda perigosíssimo? São exatamente esses esfomeados, estropiados, esses fodidos que ele carinhosamente chama de “ratos” - em um outra variante, ele os chama de “agentes do imperialismo ianque”. A Itália e a Europa acompanham em pânico o desfecho desta revolução. Há o pavor de que, como vingança, essa ratazana-mor que se pensa gato abra as comportas para que os “ratos” invadam o continente europeu através da ilha de Lampedusa. Hordas de “ratos”, milhares de “ratos” se espalhando no meio de armanis e pradas, chanéis e mercedinhos, à procura de comida, à procura de abrigo, à procura do paraíso de Dante. Um terror, um pesadelo inimaginável. Ontem o fascista de plantão, Umberto Bossi, uma espécie de Kadafi-dois-ponto-zero, representante de todas as indústrias da parte norte da Itália, a parte “nobre”, cujo único projeto em 63 anos de república foi o de cortar fora a parte “sul” do país, os “miseráveis”, os “vagabundos” do sul, gritava enlouquecido que iria mandar os “ratos” africanos para a Alemanha – que a “sua” Itália não merece isso. Não é banal verificar mais uma vez a falta de memória histórica presente em todo fascista? Como assim a Itália não merece isso? Depois do que a Itália fez na Líbia durante as duas grandes guerras, quando a invadiu, a bombardeou, a sacaneou de todas as formas possíveis, a Líbia invadir a Itália é pouco. Eu torço para que isso aconteça. Que essa Itália fascistinha, que essa Itália narcisista seja arejada pela África, que aconteça com a Itália o que aconteceu com o mundo quando seus miseráveis vieram como imigrantes. Afinal de contas, um país que mantém Silvio Berlusconi no poder pode dizer o que de Kadafi? Nada. Que venham os africanos. É o que de melhor pode acontecer com a Itália.
Depois da saída de George W. Bush da presidência dos Estados Unidos, eu estava com saudade dos grandes filhos da puta. Na categoria dos filhos da puta, há os pequenos filhos da puta e há os grandes filhos da puta. Kadafi pertence a esta divisão. “Capturem os ratos. Tirem-nos de suas casas e acabem com eles, onde quer que estejam”. É a frase do ano. Nunca antes se ouviu coisa parecida. Aliás, relembrando Lacan, quando um ditador começa a falar de ratos, sem querer, está falando de si mesmo - é o que significa receber a própria mensagem de forma invertida. Ora, qual é a maior arma deste pútrida, deste calhorda perigosíssimo? São exatamente esses esfomeados, estropiados, esses fodidos que ele carinhosamente chama de “ratos” - em um outra variante, ele os chama de “agentes do imperialismo ianque”. A Itália e a Europa acompanham em pânico o desfecho desta revolução. Há o pavor de que, como vingança, essa ratazana-mor que se pensa gato abra as comportas para que os “ratos” invadam o continente europeu através da ilha de Lampedusa. Hordas de “ratos”, milhares de “ratos” se espalhando no meio de armanis e pradas, chanéis e mercedinhos, à procura de comida, à procura de abrigo, à procura do paraíso de Dante. Um terror, um pesadelo inimaginável. Ontem o fascista de plantão, Umberto Bossi, uma espécie de Kadafi-dois-ponto-zero, representante de todas as indústrias da parte norte da Itália, a parte “nobre”, cujo único projeto em 63 anos de república foi o de cortar fora a parte “sul” do país, os “miseráveis”, os “vagabundos” do sul, gritava enlouquecido que iria mandar os “ratos” africanos para a Alemanha – que a “sua” Itália não merece isso. Não é banal verificar mais uma vez a falta de memória histórica presente em todo fascista? Como assim a Itália não merece isso? Depois do que a Itália fez na Líbia durante as duas grandes guerras, quando a invadiu, a bombardeou, a sacaneou de todas as formas possíveis, a Líbia invadir a Itália é pouco. Eu torço para que isso aconteça. Que essa Itália fascistinha, que essa Itália narcisista seja arejada pela África, que aconteça com a Itália o que aconteceu com o mundo quando seus miseráveis vieram como imigrantes. Afinal de contas, um país que mantém Silvio Berlusconi no poder pode dizer o que de Kadafi? Nada. Que venham os africanos. É o que de melhor pode acontecer com a Itália.
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