TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 9 de março de 2008

No meio dos barões, a morte

Foto Reuters, Soldados equatorianos em sua fronteira com a Colômbia
Violência secreta
TENSÃO ENTRE COLÔMBIA E EQUADOR ESCONDE CRISE HUMANITÁRIA E AMBIENTAL DE GRANDES PROPORÇÕES, PREJUDICANDO AGRICULTORES E DESALOJANDO 4 MILHÕES DE PESSOAS
Metade dos 3 a 4 milhões de desalojados colombianos tem menos de 15 anos de idade
Reuters
KENNETH SERBIN, ESPECIAL PARA A FOLHA
Além da encenação política e militar provocada pelo assassinato de Raúl Reyes, o nº 2 das Farc, pelo governo de Álvaro Uribe em 1º/3, uma profunda crise humanitária afeta as vidas de milhões de colombianos e equatorianos comuns. Enquanto os presidentes da Colômbia, do Equador e da Venezuela e as guerrilhas e seus reféns ganham destaque na mídia, cerca de 3 a 4 milhões de colombianos -quase um décimo dos 44 milhões de habitantes do país- estão desalojados por causa da guerra entre o governo apoiado pelos EUA e as forças paramilitares, de um lado, e as guerrilhas que combatem principalmente em nome das Farc.
O que os colombianos chamavam de "la violencia" começou 60 anos atrás. Em 9 de abril de 1948, Jorge Eliécer Gaitán, um advogado de esquerda de 45 anos, senador e ex-candidato presidencial, foi assassinado por um pistoleiro conservador, o que provocou tumultos maciços e mortes. Nas duas décadas seguintes, cerca de 200 mil colombianos morreram vítimas da violência de origem política. Nas décadas de 1960 e 70, grupos revolucionários como as Farc e o M-19 surgiram em meio à luta violenta pelo poder.
Plano Colômbia
As Farc eram o maior grupo e passaram a controlar uma grande parte do território colombiano. Uma reportagem recente mostrou que elas também marcam presença na Venezuela. Enquanto a maioria das forças guerrilheiras da América Latina foi derrotada ou assimilada ao processo político pacífico até meados dos anos 1990, as colombianas encontraram novas forças aliando-se ao tráfico de cocaína. Em 2000, os EUA e a Colômbia lançaram o Plano Colômbia, um programa de bilhões de dólares para ajudar e assessorar o governo no combate ao narcotráfico e à guerrilha e para apoiar a democracia. Os EUA e a Colômbia conceberam esse plano durante o governo de Bill Clinton, e o presidente George W. Bush continuou a apoiar o programa e a elogiar os esforços de Uribe.
O Plano Colômbia inclui a fumigação das plantações de coca do país. Enquanto os defensores da fumigação afirmam que o processo tem um impacto mínimo sobre o ambiente, críticos e pesquisadores alegam que os efeitos são devastadores.
Segundo eles, o processo arruína a terra, mata os rios e desaloja centenas de milhares de pequenos agricultores. Contra os protestos de ambientalistas, o governo também borrifou parques nacionais. Apesar de esse programa eliminar a produção de coca, não oferece uma alternativa aos agricultores.
Herbicida poderoso
O programa utiliza Roundup, um poderoso herbicida comumente usado por moradores dos EUA para matar tudo em seus quintais antes de plantar grama. Fabricado pela multinacional do agronegócio Monsanto, com sede nos EUA, o Roundup deve ser aplicado com grande cuidado. As instruções publicadas no website da empresa, por exemplo, afirmam que os manipuladores do produto devem usar luvas resistentes a substâncias químicas. Os brasileiros conhecem a Monsanto por causa dos protestos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e outros militantes contra a introdução por essa companhia no país de sementes geneticamente modificadas. O Brasil legalizou o Roundup em 2003, por iniciativa do deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), e hoje a Monsanto vende sementes geneticamente modificadas resistentes ao Roundup no mercado brasileiro.
O Congresso dos EUA também aprovou os testes de mico-herbicidas -fungos existentes na natureza- para uso potencial contra plantações de drogas na América Latina e no Afeganistão. Os deputados Dan Burton e Mark Souder, dois republicanos de Indiana que apresentaram a lei, afirmaram que os mico-herbicidas podem "revolucionar" a guerra contra as drogas. As conseqüências dessa tecnologia não estão claras. Um site em inglês de informação sobre drogas refere-se a um desses herbicidas como "Fungo Frankenstein". A maior área das Farc está no sul, junto da fronteira do Equador, região onde Reyes foi morto. Em 2005, diplomatas equatorianos exigiram que a Colômbia parasse de fumigar a 10 quilômetros da fronteira. Ativistas de direitos humanos reuniram provas de mais de 3.500 casos de indivíduos prejudicados pela fumigação.
Em dezembro de 2006, o embaixador equatoriano na Colômbia deixou Bogotá em protesto contra novas fumigações junto da fronteira. Ele voltou dois meses depois. No ano passado, o governo equatoriano processou a Colômbia no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, por causa da fumigação. A região da fronteira tem sido atormentada por diversos grupos violentos de militares e traficantes. Na verdade, muito antes da morte de Reyes o Equador fez queixas freqüentes à Colômbia sobre soldados e aeronaves que cruzavam sua fronteira. Os tumultos na Colômbia produziram uma inundação de refugiados no Equador. Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, em 2007 o Equador tinha cerca de 14 mil refugiados colombianos registrados e mais 5.000 pessoas que solicitaram asilo. As autoridades equatorianas estimaram que há cerca de 500 mil colombianos no país, em maioria ilegais. Esse influxo representa uma grande sobrecarga para a já combalida economia do Equador. Além disso, em 2006 a Venezuela recebeu 200 mil pedidos de asilo.
Plano Equador
Em reação à crise, o presidente Rafael Correa anunciou em 2007 o início de um "Plano Equador" humanitário, de vários milhões de dólares, para combater os efeitos do Plano Colômbia. O programa pretende ajudar refugiados e outros desalojados, estimular a criação de empregos para reduzir a atividade criminosa e distribuir benefícios a milhões de moradores na área de fronteira. A crise humanitária pode ser terrivelmente exacerbada se ocorrer um conflito político ou militar mais amplo. Estima-se que a metade dos 3 a 4 milhões de desalojados colombianos tenha menos de 15 anos de idade. Toda uma geração de indivíduos oprimidos e descontentes está sendo forjada -um perigoso combustível para demagogia, conflito político e violência no futuro. Cabe aos líderes da Colômbia e do Equador -com a ajuda de outros países sul-americanos- manter discussões multilaterais sobre todos os aspectos dos problemas da região. É essencial que isso ocorra sem teatralidade, mas com a colaboração das áreas técnicas de cada governo para evitar uma maior politização negativa da crise.
KENNETH SERBIN é historiador e professor da Universidade da Califórnia, em San Diego, e autor de "Diálogos na Sombra" (Companhia das Letras). É presidente da Brasa (Associação de Estudos Brasileiros, EUA). Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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