Vejo nos jornais, sites e nas TVs. Dilma X Serra. O aborto será a bola da vez. Já recebo emails condenando a Dilma por ser a favor do aborto. Mais uma vez o tom moral. Moral dos carneiros. O tema é difícil para as mulheres. Há mulheres a favor e há contra. São subjetividades cambiantes diante de algo desejado (ou muito odiado) pelas mulheres: ser mãe ou ter filhos. E começa o "rolo" por aí. Queremos ser mães ou ter filhos? São coisas diferentes. Há outra dimensão. Há uma minoria de mulheres que não querem os pais perto. Há uma imensa maioria que precisa ter os pais de seus filhos juntos. Outro problema: há homens que nunca se tornam pais. Há mulheres que trabalham e seus salários sustentam a família. Há outras que precisam da ajuda dos pais para criar os rebentos. Há homens que abandonam as suas companheiras e filhos e nunca mais. Há tanta coisa para pensar. Há épocas em que dá para ter um filho. Outras, não. Presumo que para ter um filho (ou mais) há a principal circunstância: desejo de ser mãe. Abdicar de algumas coisas por um tempo. Tem dinheiro? Pode alimentar seu filho? Enfim, para ser mãe há ESCOLHAS duras (talvez haja outras mais fáceis). O amor romântico que nos criou impõe ter família, ter filhos, casa, cama etc. Mas, esse amor existe? Não sei. Não creio.
Aos treze anos de idade li do Sartre o livro A idade da razão. Como eu não fazia curso de filosofia, era apenas uma predadora de livros, li o livro. Li como pessoa, adolescente, menina, mulher. Não li para analisa-lo. Li como um manual de sobrevivência. Não sabia quem era Sartre. Mas, mudou minha cabeça. Acabou com o romantismo, pelo menos isso. O protagonista Mathieu Delorme, sente-se "velho” aos 34 anos. É professor de filosofia, não tem dinheiro. Mora em Paris. Sua amante/namorada fica grávida. Ou faz um aborto e precisa de muito dinheiro ou se casa. O resto são descrições angustiantes de um personagem que vê o desenvolvimento do embrião como um monte de células que borbulham e crescem.
Li também relatos de mulheres estupradas no Brasil que não obtiveram direito de abortar. Uma delas se suicidou; outra matou o filho; outra tornou-se esquizofrênica.
O ato sexual não é mecânico para as mulheres (creio que nem para os homens). Muitas mulheres têm asco de homens. Por muitas razões. Da mais banal à mais profunda. Da falta de higiene ao estranhamento corporal, sexual. Estranhamento ... Imagino o estupro.
O argumento dos moralistas: tudo é vida.
Não parece. Não é VIDA ser violentada, e gerar algo estranho à vida. Não é vida ter um filho e condená-lo à morte por fome, ou inanição afetiva. Não é vida ficar em um casamento porque temos filhos. O que será VIDA?
Os montões de jornalistas, consultores e até economistas falarão de ABORTO esses próximos dias. Argumentarão contra o aborto tratando de saúde pública. Todos um dia (ou quase todos), pelo menos já foram em uma clinica clandestina de aborto, para acompanhar uma namorada, ou com uma amiga ...
7 comentários:
Cara colega:
A minha revolta é que o debate sobre a questão polêmica do aborto não está sendo colocado neste momento eleitoral de forma séria, mas apenas para que certos políticos obtenham votos com isso, principalmente aqueles que querem de volta o poder nacional a qualquer custo. Passadas as eleições, continuaremos sabendo de muitas mulheres, as mais pobres, abortando em clínicas clandestinas, e correndo risco de vida. Por outro lado, o Brasil está sendo infestado, a cada dia mais, por um tipo de pensamento religioso, que antes era quase que totalmente apadrinhado pelos católicos, mas que no atual momento está sendo compartilhado com os evangélicos, que simplesmente decretam como sendo inegociável até mesmo uma discussão sobre o que poderia ser permitido ou não no nosso país, como se devêssemos colocar a Bíblia acima das leis feitas pelos homens. É proibido discutir, e quem for supostamente a favor de uma maior abertura deste debate, não deve merecer seus votos para presidir a “Nação de Deus”. Estou preocupado com o futuro de nosso país, se este tipo de religiosidade alienante, preconceituosa, e intolerante, continuar crescendo e impedindo que conversemos abertamente sobre alguns assuntos.
Eu, pessoalmente não sou a favor do aborto, exceto em casos de estupro, mas não me recuso a escutar os argumentos de quem o defende, e quero estar com a mente sempre aberta e livre de algemas religiosas, para que eu possa, se achar por bem, mudar minha opinião sobre alguns pontos. Por enquanto, acho que deveria haver sim, uma maior facilitação ao acesso de todos, principalmente das classes sociais menos favorecidas, à grande diversidade dos métodos anticoncepcionais existentes, principalmente aqueles adotados pelas mulheres, já que infelizmente, e eu conheço alguns, muitos homens ou não gostam, ou simplesmente não usam mesmo a camisinha.
Mas enfim, é como o debate sobre as cotas universitárias, e como professora você também deve ter sua posição. Ficamos procurando uma solução provisória, e muitas vezes até brigamos entre nós, ao passo que, sabemos, a solução definitiva está está em outro foco, que consiste em investir mais nas escolas públicas de Ensino Médio e Fundamental, principalmente, para que os estudantes destas escolas, na hora do vestibular, possam competir em igualdade de condições com os que estudaram em colégios particulares.
Então acho isso, colega: A hipocrisia das pessoas, e principalmente de alguns políticos nestas horas, esconde os interesses pessoais de cada um, e aí, lamentavelmente, ficamos sempre andando em círculos nestas questões. E é lógico, haverá sempre os que lucram de alguma forma com a cegueira e ignorância do grande rebanho de ovelhas.
PS. Desculpa. Deve ter percebido que não tenho facilidade em sintetizar um texto. Obrigado por seguir meu blog, e parabéns pelos seus dois excelentes blogs. São necessários, e perto de tanto lixo que a gente vê na net, eles realmente se destacam pelos belos textos e imagens, produzidos e escolhidos por uma pessoa que demonstra muita sabedoria.
Excelente análise, querida amiga Marta. E lembrando que "se homem engravidasse, o aborto seria lei”.
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