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EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quarta-feira, 9 de março de 2011


Quarta-feira, 9 de Março de 2011
Stéphane Hessel e a chantagem da acusação de antissemitismo por Daniel Oliveira, Blog ARRASTÃO, Portugal
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"Indignai-vos!" (Objectiva), um manifesto que está a entusiasmar a deprimida esquerda francesa, já vendeu 1,3 milhão de exemplares em França e está a transformar-se num fenómeno internacional. Mais do que o seu conteúdo, o que dá força a este grito de revolta é o seu autor: Stéphane Hessel. Sobre o pequeno livro falarei noutra oportunidade. Agora concentro-me num incidente.


Entre as muitas causas a que Hessel, um herói nacional de 93 anos, se dedica é a do direito dos palestinianos a um Estado e o apoio à sua resistência pacifica. Apoiando ativistas israelitas pela paz e palestinianos defensores da via não-violenta. E advogando o boicote a Israel até ao reconhecimento pleno de um Estado palestiniano sustentável e independente. Isto chegou para que organizações de "vigilância" contra as atividades antissemitas tivessem lançado uma cruzada contra Stéphane Hessel que levou ao cancelamento de uma conferência sua na École Normale Supérieure, templo da intelectualidade francesa.


Quem é então Stéphane Hessel, subitamente transformado num medonho antissemita?


Descendente de judeus (os seus pais são duas das personagens retratatadas em "Jules e Jim", de Fraçois Truffaut), Hessel nasceu em Berlim e, ainda jovem naturalizou-se francês. Foi um dos principais heróis da resistência francesa, fez parte do Bureau central de renseignements et d'action, foi preso e torturado pela Gestapo, esteve nos campos de concentração de Buchenwald e de Dora-Mittelbau e, como diplomata, foi um dos autores da Declaração Universal dos Direitos do Homem.


Em matéria de defesa do povo judeu tem credenciais que só poderiam fazer os vigilantes que o perseguem vergarem-se perante a sua história. Dele não se conhece um gesto ou posição que se possa confundir com qualquer tipo de antissemitismo, que seria, aliás, contraditório com toda a sua vida. Conhecem-se posições sobre a política de um Estado, que sendo hebraico poderia ter qualquer outra religião oficial. Conhece-se a coerência e a coragem na defesa dos direitos humanos. Não olhando, como não pode olhar, a credos.


A acusação de antissemistismo tornou-se numa forma de chantagem para impedir qualquer critica às decisões do Estado de Israel. Uma forma nojenta de impedir o debate democrático, substituindo os argumentos pelo pior dos insultos. Que até Stéphane Hessel - que podia dar lições de combate ao antissemitismo a muitos dos que se julgam com estatuto para o condenar - apenas prova como esta forma tão eficaz de impedir a defesa dos direitos dos palestinianos é estúpida e cobarde. Tão estúpida que escolhe um homem com a história de Stéphane Hessel como vitima. Tão cobarde que tem o silenciamento como principal arma política. Envergonham estes censores todas as vitimas do verdadeiro antissemitismo, ao quererem, em nome delas, calar a liberdade da critica.


Publicado no Expresso Online


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