TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 12 de junho de 2011



MIRE-SE NO EXEMPLO DAS MULHERES DE DAGENHAM

Sally Hawkins abre caminho entre seus colegas de sindicato

do Blog ESCREVALOLAESCREVA AQUI

Instigada por algumas leitoras, procurei ver Revolução em Dagenham, filme britânico do ano passado que foi, agora em maio, lançado diretamente em DVD no Brasil (veja trailer legendado). É uma pena que as distribuidoras tenham decidido que o drama não tem apelo comercial. Espero que Revolução encontre seu público quando começar a ser passado nas aulas de escolas e universidades, porque ele é muito didático e instrutivo ― eu certamente vou pedir para que meus alunos o assistam.
O filme é todinho formidável, tirando talvez o título (que, no original, é Made in Dagenham). Pelo nome não dá pra ter a menor ideia sobre o que se trata, e também, espero que eu não seja a única a pensar que esse lugar fica na Holanda. Errado. Dagenham é um subúrbio industrial de Londres.
Baseado em fatos reais, Revolução se passa em 1968, quando 55 mil homens, e 187 mulheres, trabalham na planta de uma grande montadora automobilística, a Ford. As mulheres labutam o dia inteiro num galpão abafado, tanto que ficam apenas de sutiã, longe do olhar dos homens. Elas são maquinistas, isto é, costuram o couro para os bancos dos carros produzidos, mas não são vistas pela empresa como operárias qualificadas, e ganham metade do que recebem seus colegas com pênis. Pela primeira vez na história daquela planta, duas representantes das operárias sentam-se para negociar com os patrões, sempre com a mediação de um sindicato 100% masculino. Ninguém fora as funcionárias quer que elas entrem em greve, mas elas cruzam os braços até que consigam o mesmo pagamento, e também o recebimento de horas extras. Imagina uma revolução dessas!
Os patrões entram em pânico. Eles sabem que, se tal reivindicação for atendida na Inglaterra, ela rapidamente se espalhará para o resto do mundo. Então fazem de tudo para que as mulheres fracassem. Uma das estratégias é ameaçar a direção do sindicato, dizendo-lhe que, se eles não tomarem conta de suas mulheres, haverá demissões em massa e redução da contribuição sindical ― em outras palavras, os próprios empregos dos sindicalistas estarão ameaçados. E tudo por culpa das mulheres, que não sabem seu lugar!
Entre tantas cenas excelentes, há uma em que um dirigente sindical conversa com outro mais esclarecido que, por ter sido criado só pela mãe, que fazia tudo que seus colegas faziam mas ganhava a metade, é a favor da igualdade salarial. O sindicalista mais experiente tenta justificar a rasteira que dará nas funcionárias: “Como um sindicato, devemos nos lembrar quem vem em primeiro lugar: são os homens. Marx disse: 'Homens escrevem sua história'.” Ao que o outro responde: “Mas ele também não disse que 'o progresso pode ser medido pela posição social do sexo feminino numa sociedade'?”
Mesmo sem o apoio de seus colegas e do sindicato, as operárias entram em greve. Por um tempinho a empresa as ignora, mas logo tem que interromper a produção em todos os outros setores, porque sem bancos, não é possível fabricar carros! A falta de solidariedade dos operários com elas é impressionante. A maior parte pensa que mulher tem que ganhar menos mesmo, que cabe ao macho ser o provedor da casa, o rei do castelo. A principal representante das operárias (Sally Hawkins, de Simplesmente Feliz) sente essa ausência de empatia na pele, através do relacionamento com seu marido, que também é operário. Quando ela passa a ter mais atividades (reuniões, entrevistas, mobilizações, manifestações etc), ele precisa aprender a tomar conta da casa e dos filhos. E isso mexe com sua masculinidade, porque ele gostava de usar o tempo livre (que só era livre pra ele) pra ver TV e sair pra tomar cerveja com os amigos. E agora tem que ficar em casa limpando e cozinhando porque sua esposa está envolvida em outras frentes, onde já se viu?!
Finalmente o casal discute, e ele joga na cara dela que é um bom marido, já que nunca bateu nela ou nas crianças, nunca a traiu, nunca entornou todo o salário. E a resposta dela é exemplar: “É assim que tem que ser! Você não é um santo por não fazer essas coisas. Esses são direitos, não privilégios! E se você não entende isso, você não merece ficar comigo”. Não vou contar o que acontece.
Paralelo a esse relacionamento há um outro, de uma classe mais abastada: a de um dos executivos da fábrica e sua mulher (Rosemund Pike, a Bond girl de 007―Um Novo Dia para Morrer, e a irmã boazinha de Orgulho e Preconceito). Numa cena, o marido aparece inesperadamente com um chefe para jantar em casa. A prestativa esposa nem senta na mesa para comer -– ela fica indo da sala à cozinha para servi-los. Até que o chefe lhe pergunta o que ela acha da greve, e ela oferece uma resposta franca e bem informada. A reação do marido é uma só. Ele diz: “Queijo”. É a senha para que ela volte para seu espaço, a cozinha, e pare de interferir em assuntos de machos. Mais tarde, quando ela se encontra com a sindicalista, reclama: “Eu me graduei com louvor numa das melhores universidades do mundo, e meu marido me trata como se eu fosse uma tola”.
Outra personagem feminina de destaque é a Secretária do Estado Barbara Castle (interpretada pela sempre fabulosa Miranda Richardson, de As Horas e Harry Potter). Ela não tem muita paciência com seus assessores, jovens rapazes que, unicamente devido a seu sexo, acham que sabem mais do que ela. Quando ela decide reunir-se com as grevistas, eles a questionam se esse ato não representaria dar credibilidade à causa delas. E ela grita de volta: “Credibilidade?! Elas já têm credibilidade! É uma questão de justiça!”. Ainda assim, ela precisa enfrentar um dos chefões da montadora, que ameaça levar as fábricas para um país mais em conta se ela ajudar as operárias. Você vai ter que ver Revolução para se inteirar do resultado.
Mas posso adiantar que dois anos depois é aprovada a primeira lei britânica de equivalência salarial para mulheres e homens. Isso tudo é História, uma história que não conhecemos. E como é raro ver um filme feminista! Só encontrar um filme que tenha mulheres entre suas protagonistas já é uma dificuldade. Portanto, Revolução é fundamental. E antes que eu escute que sim, feminismo era importante naquela época, mas hoje não é mais, queria lembrar que atualmente uma mulher ganha 70 centavos para cada real pago a um homem. Houve avanços: antes ganhávamos 50% a menos. Hoje, é só 30%. Só?! Enfim. Revolução não deve ser o tipo de produção que patrões passarão para seus operários de ambos os sexos. Porém, como escolas e universidades são (ou devem ser) locais de transformação, de conscientização, taí uma ótima pedida.

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Meu comentário:


Boa! Ainda mais quando coleguinhas de Universidade - mulheres - chamam alguns homenzinhos para "ajudar" na reunião!

Feminismo e soberba de brejo.

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