TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sábado, 25 de junho de 2011

Indivíduo, grupo e sociedade: somos isso....e é difícil

Foto da Ana Cristina Teodoro da Silva, de 2009, creio, em seu quintal...

Do Blog de ROBERTO ROMANO


Professor, o artigo é instigante. Pensei bastante e aqui vão minhas críticas ao texto do Alon Feurwerker.


Desarrumação lógica
Alon Feuerwerker
Arrisco dizer que seremos uma sociedade mais coerente quando a vida humana merecer a mesma defesa radical que merecem hoje as plantas e animais.



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Esse argumento é interessante. Já o ouvi mais de uma vez de meus amigos de esquerda ortodoxa. Sempre rebato: Cada um de nós tem o direito de se integrar no movimento EMANCIPATÓRIO que quiser. Defender plantas e animais - no contexto da sociedade em que vivemos - é, de certa maneira, defender a vida humana. Cada árvore que cai de uma floresta, cai um homem. A monocultura na Índia destruiu os hindús. No Brasil a cada plantio de cana de açucar, movimentamos milhões de carros, mas para POUCOS HOMENS. Para quê defender o óleo de mamoma para carros, alcóol para carros, se continuam sendo apenas CARROS. Nas tardes em que volto da Universidade a pé, conto duzentos carros por minuto saindo do mesmo portão que atravesso. São apenas duzentas pessoas. Equivalem a dois ônibus.



Os animais? Li, leio e releio Darwin. Um dos livros prediletos é A EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES NO HOMEM E NOS ANIMAIS. Por quê não defender os animais? Eles têm emoções, são parte do planeta. Como as lindas flores. No mais expresso utilitarismo digo: as árvores consomem o CO2 exalado pelos trinúmeros carros desse trânsito maluco de automóveis.




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Há algo desarrumado numa sociedade que exige criminalizar todo desmatamento enquanto, com o mesmo ímpeto, exige também o amplo direito ao aborto, a ser catalogado entre as prerrogativas inalienáveis da mulher.

Num caso, prevalece a responsabilidade social. No outro, a liberdade individual. Por quê? Ninguém explica.



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Outro argumento que quer nos confundir. Desde o nascimento do Estado moderno a tensão entre indivíduo e coletivo existe. Até hoje não foi solucionada. E estamos longe da solução. E eu me pergunto se ela existirá algum dia. O desmatamento das florestas VINCULA-se à manutenção da vida coletiva, do planeta. E vários cientistas mostram isso. O aborto não diz respeito à manutenção da vida planetária. à que vida, então, fala? Nessa tensão indivíduo X coletivo, o pêndulo verte à mulher, ao seu corpo, à sua vida. Alguém decide fazer um aborto sem sofrimento? Sem culpa? sem crise? Creio que não! Alguém que decide fazer o desmatamento o faz sem precisar nada na sua balança coletiva. O desmatamento é uma expressão de classe social. Um pequeno grupo de empreendedores capitalistas decidem fazer e fazem. Planeta? Ah, que planeta?!


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Arrancar uma planta é em princípio criminoso, mas arrancar um embrião ou feto do útero materno deveria ser livre, em nome do direito de a mulher decidir sobre o próprio corpo.

Ainda que no rigor lógico-científico o embrião, ou feto, não faça parte do corpo da mãe. Ela apenas o abriga. São duas vidas, e não uma só.

Não estou, e penso que o leitor ou leitora já notou, fazendo juízo de valor sobre os temas, apenas enfatizando o desarranjo, uma assimetria sistemática.


Essa assimetria chama-se historicamente falando, tensão da modernidade. se estivéssemos vivendo em sociedades antigas e medievais quem ditaria a norma seria a coletividade. Acontece que não estamos. Somos a manifestaçãod esse dilema moderno. Não é uma assimetria ora usada pelo indivíduo ora pelo grupo. É histórica. Difícil de ser pensada, mas necessária. Difícil de ser posta em ação.



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Que fica também evidente no contraste entre a proteção militante à vida animal e a condescendência com as ameaças à vida humana.

Desde há muito as pessoas mobilizam-se em defesa de outras espécies. Já há nessa agenda uma ética consolidada. Matar um bicho ou fazê-lo sofrer lança o sujeito no rol da execração. Usar peles de bichos, por exemplo, é encrenca na certa.

Num episódio célebre após o falhado levante comunista de 1935, o advogado católico Sobral Pinto defendia presos ligados ao movimento derrotado e pediu que eles tivessem respeitados pelo menos os direitos previstos pela lei de proteção aos animais.

Arrisco dizer que seremos uma sociedade mais coerente quando a vida humana merecer a mesma defesa radical que merecem hoje as plantas e animais.


Creio que o autor não foi às últimas consequencias de sua ideia. Está falando de que defesa animal? Conheço uma ONG aqui em Maringá de proteção aos animais. Já vi cães presos com arame farpado, já vi cães serem surrados até a morte e VEJO que as pessoas dessa ONG são as mesmas que trabalham politicamente a favor da vida de homens e mulheres e crianças. Não as vejo separando animal dos homens. São poucas e com muito trabalho.



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No debate do Código Florestal exige-se a perseguição e a punição implacáveis a todos que um dia decidiram ocupar beiras de rio para dali tirar o sustento, seu e de suas famílias.


Fico assustada com o jornalista. Desconhece que rios são assoreados quando ocupados. Vidas humanas são devastadas quando os rios desaparecem. Temos que reler os clássicos de cientistas como Rachel Carson, Carl Sagan, .... É URGENTE.



Ademais o NOVO Código Florestal é pior do que o de 1965 - feito por agrônoimos e cientistas. O novo foi feito com o PCdoB e ruralistas. Quem deve mandar no código é uma aliança dessa? Sem as vozes de cientistas? Então, para que serve a ciência no Brasil?



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Aqui as circunstâncias não servem de atenuante.

Já quando alguém menor de 18 anos comete um crime hediondo o vento sopra no sentido contrário: aqui é imperioso olhar atentamente para as circunstâncias. Imperioso reabilitar, dialogar, integrar.

E não simplesmente condenar. Ou punir.

Se o leitor pedir a explicação do desarranjo, dos dois pesos e duas medidas, admitirei que não tenho uma pronta e acabada. Esta coluna é só divagação. Mas desconfio que a raiz esteja mesmo é na desumanização. Ou humanofobia.



Alguém já disse (Foucault, Nieztche?) que o humanismo é a prostituta da intelectualidade. Qualquer desavença, chama-se o humanismo.



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O homem visto como estorvo, como vetor daninho, a ser contido e evetualmente removido.

A não ser que persista em “estado natural”, signifique isso o que significar. Então o problema não está no homem, mas na civilização, talvez olhada apenas como ampliação das consequências do pecado original.


O jornalista fala de estado natural. Para mim essa foi apenas uma metáfora para Rousseau, Locke e outros para desenvolver suas teorias. O que temos, e nisso o jornalista tem razão, é ora um antropocêntrismo, ora uma visão mítica da supremacia da vida natural. A essa dualidade temos muitos caminhos a desfiar. Caminhos políticos e não uma assimetria sem lógica. São os dilemas contemporâneos que não são fáceis de entender e por em ação. Mas são belos desafios.

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