TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Quem tem medo dos homossexuais? Ou a hipocrisia da defesa da família (aspas).

Foto de Alexandra Martins Costa do Blog da Lola.

03.06.11 - Mundo
Defesa da família, homossexuais e novo ecumenismo

Jung Mo Sung
Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo
Adital

Nas décadas de 1970 a 90, surgiu na América Latina um tipo de ecumenismo bem prático entre pessoas e grupos diversas igrejas cristãs. Não um "diálogo” oficial entre os representantes das igrejas em torno de questões teológicas ou litúrgicas, mas uma "aliança” em torno de opção pelos pobres e luta pela justiça social e direitos humanos. Era tempo de ditaduras militares, com um capitalismo selvagem, explorador dos trabalhadores e das riquezas nacionais.

Tive a felicidade de ter vivido esse momento tão rico de experiências e aprendizagem. Como estudante católico em uma faculdade de teologia católica, estudei com professores protestantes com quem eu me identificava muito mais do que alguns professores católicos de linha teológica mais intra-esclesiástica e pouco profética. Nos diversos trabalhos junto às comunidades mais pobres e pelos direitos humanos, fui companheiro e fiz muitas amizades com protestantes de mais variadas denominações. Foi um tempo de um ecumenismo fecundo porque tínhamos um objetivo comum que ia além e era mais importante do que diferenças denominacionais ou teológicas.

Estou recordando essas coisas porque vejo surgir no meio de nós uma nova aliança entre setores católicos, protestantes e evangélicos. A concorrência entre as denominações cristãs para ver quem conquista mais fiéis e qual é a verdadeira Igreja de Cristo não pode nos "cegar” para o fato do surgimento de uma aliança prática em torno da "defesa da família”. É claro que nenhuma das diversas partes assume esta aliança como uma prática ecumênica, nem que há uma aliança. Pois isso seria ir contra o discurso que tem norteado a identidade de cada Igreja: "nós somos a única e verdadeira Igreja de Cristo”, as outras seriam falsas ou meras "comunidades eclesiais”, mas não igrejas.

Na verdade, a base da aliança não é a defesa da família em um sentido abstrato, mas a defesa da família contra o que eles vêem como a ameaça homossexual. Na década de 1960, setores conservadores da sociedade e das igrejas se juntarem pela defesa da família contra a ameaça comunista. Agora que não há mais esta ameaça, esses mesmos setores estão se aliando contra a ameaça homossexual.

A reação da hierarquia da Igreja Católica e das principais lideranças das Igrejas protestantes e evangélicas contra a lei da união civil entre homoafetivos e agora a mobilização contra a PL 122, projeto que criminaliza a homofobia, mostram surgimento desta aliança. Não estou dizendo que teria havido reuniões ou algo assim para selar essa aliança, mas a convergência de interesses e de visões teológico-pastorais levou a essa aliança de fato com igrejas que consideram adversárias ou inimigas da fé.

Tanto o ecumenismo em torno da opção pelos pobres, quanto esse "ecumenismo” ou aliança em torno da defesa da família contra a ameaça homossexual mostram que os diálogos, alianças ou cooperações se dão, de fato, não em torno de doutrinas teológicas, mas por conta de objetivos maiores ou inimigos comuns. E estes objetivos e/ou inimigos não são definidos a partir da doutrina, mas sim de opções éticas de fundo que determinam ou condicionam a cosmovisão que realmente conta na vida prática.

Se olharmos com cuidado, não há muita diferença entre esses grupos católicos e evangélicos que estão se levantando contra homossexuais em nome da família. Apesar de se tratarem como opostos, no fundo, compartilham das mesmas visões e opções éticas. Não dialogam, mas lutam juntos.

Isso me faz lembrar uma freira idosa que conheci no I Fórum Mundial de Teologia e Libertação. Ela trabalha com mulheres prostitutas e em situações de extrema vulnerabilidade em Filipinas e na discussão do grupo, disse algo assim: "não acredito mais em diálogo inter-religioso, pois estas pessoas dialogam, dialogam e depois de um tempo não voltam mais, agora preferimos o termo co-operação religiosa. Quem quiser vir para trabalharmos juntos por essas mulheres, venham! Na luta, cada pessoa contribui com o que há de bom na sua religião para mudar a situação.”

[Autor de "Deus em nós: o reinado que acontece no amor-solidário aos pobres”, Paulus. Twitter: @jungmosung].

Um comentário:

Anônimo disse...

Tanto os católicos, qnto os evangélicos, seguem os preceitos de um livro que atribui um deus a criação do mundo e de tudo o que nele existe, o que inclui o homem e a mulher. De acordo com esse livro, a mulher foi criada para servir de companhia ao homem, e deve ser submissa a ele. obviamente, não há espaço para a relaçõa homossexal. O grande problema é que, embora o Estado seja laico, os partidos se misturam com grupos religiosos - até mesmo aqueles que "pregam" ideais marxistas. Certamente, um candidato à presidência que se declarasse ateu não teria a menor chance de vencer, por melhor que fosse sua proposta (já que td - ou quase td - que acontece de ruim nesse mundo é causado por aqueles que não têm Deus no coração). Infelizmente, a pressão religiosa ainda vai perdurar por muito tempo, contribuindo para a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis (sei que já tem outro nome, mas estou com preguiça de pesquisar...), para o nascimento de crianças indesedas que são abandonadas ao relento ou assassinadas de modo cruel ou comercializadas como mercadorias(já que investem contra o uso de contraceptivos e do aborto), e ainda impedem o avanço da ciência alegando razões éticas e tal... Sei lá qual será o fim disso tudo, mas sinto muito por viver em um país cujos partidos políticos interessam-se apenas em ocupar cargos para extrair mais do dinheiro público - o país fica por aí, ao "deus" dará...

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