TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 26 de junho de 2011

Uma doença incurável chamada consciência....



Dostoievski nas nuvens por RUI BEBIANO, Portugal, Blog A terceira noite aqui
Publicado em Livros & Leituras, Olhares, Pensamento a 25 de Junho de 2011


Dostoievski pintado por Ernesto Sábato
Uma das avaliações póstumas de Dostoievski condenou-o a um novo exílio siberiano. Até 1953, os manuais universitários em vigor no seu país ajuizavam-lhe a obra como «expressão da ideologia reaccionária burguesa individualista». O fundamento da acusação e da condenação liminar não se encontrava tanto nos enredos dos seus romances ou na evocação neles contida de valores caducos próprios de um tempo que a revolução bolchevique pretendera superar, mas sim na tipologia dos seus heróis, preocupados com a fidelidade aos princípios e aos objectivos mesmo quando as circunstâncias os faziam vacilar. O próprio autor comentou um dia que o seu mal, o seu tormento, provinha de «uma doença incurável chamada consciência», enfermidade própria de quem tinha pouco sentido prático e preferia viver nas nuvens, como um sonhador. «E vocês sabem o que é um sonhador, cavalheiros?», deixou-nos nos Escritos Ocasionais, «é um pecado personificado, uma tragédia misteriosa, escura e selvagem, com todos os seus horrores frenéticos, catástrofes, devaneios e fins infelizes». Depois continua: «Um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, outras vezes muito triste, às vezes rude, noutras ainda terno e compreensivo, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honrados sentimentos (…). Não é uma vida assim uma tragédia? Não é isto um pecado, um horror? Não é uma caricatura?». A noção da tensão entre aquilo que se é e o que profundamente se deseja ser faz parte da matriz dos heróis dostoievskianos, e é ela que os torna inextinguíveis. No Mito de Sísifo, Camus comentou que todos eles se interrogam sobre o sentido da vida, sem excessivo pragmatismo, vincando que «é nisso que são modernos: não temem o ridículo». Não pode existir melhor elogio à grandeza de viver de absolutos, combatendo sempre por ser-se melhor do que aquilo que se é.

Nenhum comentário:

Braziu!

Braziu!

Arquivo do blog

Marcadores

Eu

Eu

1859-2009

1859-2009
150 anos de A ORIGEM DAS ESPÉCIES

Assim caminha Darwin

Assim caminha Darwin

Esperando

Esperando

Google Analytics