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Rossio, 4 de Junho, ainda: um testemunho diferente
por JONA LOPES, PORTUGAL, Blog Entre as brumas da memória
Conheço a Maria Vitória Pato há muitos anos, vimos ambas da safra dos chamados «católicos progressistas», colaborámos em tarefas clandestinas e semi-clandestinas desde os anos 60. Ontem à noite, enviou-me este texto porque pretende que aquilo que viveu no Rossio seja conhecido. Não tem rastas nem é mal cheirosa e tem quase 80 anos (Na foto, a falar com um polícia.)
No Sábado 4 de Junho, pelas 15h, cheguei acompanhada de uma amiga ao Rossio, ao grupo da Acampada. Mal cheguei, vi polícias. Eram da Polícia Municipal a chegarem e a derrubarem tudo e arrancando fotografias expostas sobre fios. Puxavam pelos fios e arrancavam. Empurravam as pessoas que estavam sossegadas. Tudo sem sentido. Empurravam as e os jovens e eu só vi eles quererem explicar e perguntar o que se passava para aquela violência. Não vi ninguém dos jovens bater em polícias. O que vi depois foi um jovem ser arrastado de forma bruta, era um jovem de t-shirt amarela. Os polícias arrastavam-no violentamente pelo chão até o meterem num carro. Acontece que os jovens tinham material de som e fugiam a guardar o material. Ouvi dizer que foram três os arrastados e presos, mas só vi a violência ser feita a um.
Eu, como tenho 79 anos, achei que devia falar com os polícias para ver se ao menos a uma velha eles eram capazes de ouvir e dialogar, se havia vestígios de respeito e dignidade. Mas, sobretudo aos mais velhos, só queriam empurrar e eram incapazes de ouvir o que quer que fosse, era só empurrar. «Estão a meter-se em trabalhos e vocês são novos e há fotógrafos aqui de todo o mundo», disse eu a um dos mais novos que, em fila de defesa em frente a nós, sempre me ouvia. «Não empurrem!» Mas eles empurravam. Então uma rapariga do grupo dos Acampados começou a dizer: «Eis o que fazemos» e atirou pétalas de flores. Eu apanhei as pétalas das flores e colocava-as em cima de um jovem polícia , um com ar terrível como se estivesse a receber flechas (aparece no Público online). Eu só queria ver se eles, que eram jovens, acordavam da emboscada em que os chefes os meteram e recusavam trabalho tão absurdo. Mas o polícia ficava irritado por eu lhe atirar também as pétalas de flores…Devem ser treinados para a violência e não para o apaziguamento, não sabem lidar com calma nenhuma. Houve um que me empurrou de tal maneira com um cassetete que me magoou, mas não foi nada de grave - só um empurrão bruto. Então eu quis falar com os mais velhos dos polícias que tinham ar de chefiar, mas esses empurravam ainda mais e não queriam ouvir nada, mesmo nada, chegar junto deles era só receber empurrão.
A um polícia novo, perguntei: «Qual a razão por que vieram aqui empurrar e magoar os jovens?» . A resposta foi: «São ordens.» Eu disse-lhe que já conhecia essa frase de a ter ouvido já lá vão sessenta anos. Disse-lhe ainda: «Pensem que os polícias de baixo é que "se lixam".» Ele tentou explicar-me «que sendo o Rossio a praça nobre da cidade e a estátua o ícone dela, tinha de ser preservada de papeis e pessoas à volta». E em resposta ao perigoso que era serem acusados de brutalidades, respondeu-me: «Eu por mim já estou por tudo.»
Depois daquela confusão, todos os polícias se foram embora. Eram 16h30, mais ou menos, enfiaram-se na carrinha que estava mal estacionada (não havia por ali nenhuma Emel para a multar e bloquear…) e isto sobre a bela praça do Rossio e junto ao seu ícone o Rei D Pedro IV.
Maria Vitória Vaz Pato
BI 1651480
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