Óssip Mandelstam, a poesia pode causar sua morte...
Óssip e os "dedos gordos de Stálin.
Óssip e os "dedos gordos de Stálin.
DAQUI
01-Em um artigo de novembro de 2005 para o The New Yorker, John Updike considera que Isaac Babel e o poeta Óssip Mandelstam, que morreu em 1938 num campo de concentração, foram as mais ilustres vítimas literárias de Stálin. Babel tem merecida fama internacional, mas Mandelstam é um poeta russo comparativamente pouco conhecido dentro e fora do seu país, mas é talvez o melhor daquela galáxia de bons poetas, ofuscados pelo stalinismo.
02-Mandelstam nasceu em Varsóvia (1891) em uma rica família judia. Seu pai era comerciante de couro e logo após o nascimento de Óssip a família mudou-se para São Petersburgo. Em 1900 Mandelstam entrou na famosa Escola Tenishevsky, onde Vladimir Nabokov e outras figuras importantes da cultura russa e soviética estudaram. Depois de uma viagem a França e Alemanha, Mandelstam entrou na Universidade de São Petersburgo (1911).
03-Depois de um caso com Anna Akhmatova, Mandelstam casou-se com Nadzhda (1922) e mudou-se para Moscou. Trabalhou como tradutor (19 livros em 6 anos) e correspondente do jornal “The Times” da Irlanda. Seu casamento entrou em crise devido à paixão de Mandelstam por outras mulheres, nomeadamente Olga Vaksei (1924) e Petrovykh Maria (1933-1934).
04-No outono de 1933 Óssip Mandelstam escreveu e divulgou entre um grupo de amigos um poema satirizando e criticando Stálin e sua corte. O poema foi descrito como uma “sentença de morte de dezesseis linhas”.
05-O poema foi motivado provavelmente pelos efeitos da Grande Fome da Ucrânia, que Mandelstam presenciou ao visitar a Criméia em férias. Óssip foi preso em 1934, mas sua vida foi poupada e ele nem sequer foi condenado ao Gulag – um evento miraculoso, geralmente explicado devido ao interesse pessoal de Stálin em seu destino.
06-Mandelstam foi “apenas” exilado em Cherdyn, no norte dos Urais com sua esposa. Depois de uma tentativa de suicídio, a pena foi atenuada e ele foi banido das maiores cidades, mas pode escolher seu novo local de residência. Ele e a esposa escolheram Voronezh.
07-Mandelstam (como era esperado dele) escreveu vários poemas que pareciam glorificar Stálin (incluindo uma “Ode a Stálin”), mas em 1937, no início do Grande Expurgo, o mundo literário começou a sofrer um assalto sistemático por parte do NKVD. Em 5 de maio de 1938, Mandelstam foi preso acusado de “atividades contra-revolucionárias”. Foi condenado há cinco anos em campos de correção na Sibéria, onde morreu em 27 de dezembro de 1938.
08-A causa oficial de sua morte foi uma doença não especificada. Cumpriu-se assim uma profecia do próprio Mandelstam: “só na Rússia, a poesia é respeitada a ponto de levar a morte. Existe qualquer outro lugar onde a poesia é motivo tão comum para assassinato?”.
09-Vejamos o poema causador do confinamento e morte de Óssip Mandelstam:
Vivemos, sem conhecer a terra em que pisamos,
A dez passos nossas falas não se ouvem,
Mas onde surge uma meia conversa
O montanhês do Kremlin não a perde.
Seus dedos são gordos, inchados como vermes,
E as palavras, pesadas, são definitivas.
Riem seus bigodes de barata
E suas botas brilham.
Uma corja de chefões atarracados
Serve-lhe à volta de brinquedo – semi-homens.
Como ferraduras forja ukazes
Para atingir na testa, no sobrolho, na virilha.
Cada execução é uma festa
E é largo o peito do osseta.
10-Na versão do poema que caiu nas mãos da NKVD, os dois últimos versos da primeira estrofe eram:
Tudo o que se ouve é o montanhês do Kremlin,
O assassino matador de camponês.
11-Óssip menciona, no último verso do poema, o termo “osseta”. A Ossetia é uma região do Cáucaso, dividida entre a Rússia e a Geórgia (onde Stálin nasceu) e seus habitantes, do grupo iraniano, são bastante diferentes dos georgianos. Havia rumores persistentes de que Stálin tinha sangue osseta.
Fontes: Wikipéida e blog de Gilfrancisco, julho de 2006.
01-Em um artigo de novembro de 2005 para o The New Yorker, John Updike considera que Isaac Babel e o poeta Óssip Mandelstam, que morreu em 1938 num campo de concentração, foram as mais ilustres vítimas literárias de Stálin. Babel tem merecida fama internacional, mas Mandelstam é um poeta russo comparativamente pouco conhecido dentro e fora do seu país, mas é talvez o melhor daquela galáxia de bons poetas, ofuscados pelo stalinismo.
02-Mandelstam nasceu em Varsóvia (1891) em uma rica família judia. Seu pai era comerciante de couro e logo após o nascimento de Óssip a família mudou-se para São Petersburgo. Em 1900 Mandelstam entrou na famosa Escola Tenishevsky, onde Vladimir Nabokov e outras figuras importantes da cultura russa e soviética estudaram. Depois de uma viagem a França e Alemanha, Mandelstam entrou na Universidade de São Petersburgo (1911).
03-Depois de um caso com Anna Akhmatova, Mandelstam casou-se com Nadzhda (1922) e mudou-se para Moscou. Trabalhou como tradutor (19 livros em 6 anos) e correspondente do jornal “The Times” da Irlanda. Seu casamento entrou em crise devido à paixão de Mandelstam por outras mulheres, nomeadamente Olga Vaksei (1924) e Petrovykh Maria (1933-1934).
04-No outono de 1933 Óssip Mandelstam escreveu e divulgou entre um grupo de amigos um poema satirizando e criticando Stálin e sua corte. O poema foi descrito como uma “sentença de morte de dezesseis linhas”.
05-O poema foi motivado provavelmente pelos efeitos da Grande Fome da Ucrânia, que Mandelstam presenciou ao visitar a Criméia em férias. Óssip foi preso em 1934, mas sua vida foi poupada e ele nem sequer foi condenado ao Gulag – um evento miraculoso, geralmente explicado devido ao interesse pessoal de Stálin em seu destino.
06-Mandelstam foi “apenas” exilado em Cherdyn, no norte dos Urais com sua esposa. Depois de uma tentativa de suicídio, a pena foi atenuada e ele foi banido das maiores cidades, mas pode escolher seu novo local de residência. Ele e a esposa escolheram Voronezh.
07-Mandelstam (como era esperado dele) escreveu vários poemas que pareciam glorificar Stálin (incluindo uma “Ode a Stálin”), mas em 1937, no início do Grande Expurgo, o mundo literário começou a sofrer um assalto sistemático por parte do NKVD. Em 5 de maio de 1938, Mandelstam foi preso acusado de “atividades contra-revolucionárias”. Foi condenado há cinco anos em campos de correção na Sibéria, onde morreu em 27 de dezembro de 1938.
08-A causa oficial de sua morte foi uma doença não especificada. Cumpriu-se assim uma profecia do próprio Mandelstam: “só na Rússia, a poesia é respeitada a ponto de levar a morte. Existe qualquer outro lugar onde a poesia é motivo tão comum para assassinato?”.
09-Vejamos o poema causador do confinamento e morte de Óssip Mandelstam:
Vivemos, sem conhecer a terra em que pisamos,
A dez passos nossas falas não se ouvem,
Mas onde surge uma meia conversa
O montanhês do Kremlin não a perde.
Seus dedos são gordos, inchados como vermes,
E as palavras, pesadas, são definitivas.
Riem seus bigodes de barata
E suas botas brilham.
Uma corja de chefões atarracados
Serve-lhe à volta de brinquedo – semi-homens.
Como ferraduras forja ukazes
Para atingir na testa, no sobrolho, na virilha.
Cada execução é uma festa
E é largo o peito do osseta.
10-Na versão do poema que caiu nas mãos da NKVD, os dois últimos versos da primeira estrofe eram:
Tudo o que se ouve é o montanhês do Kremlin,
O assassino matador de camponês.
11-Óssip menciona, no último verso do poema, o termo “osseta”. A Ossetia é uma região do Cáucaso, dividida entre a Rússia e a Geórgia (onde Stálin nasceu) e seus habitantes, do grupo iraniano, são bastante diferentes dos georgianos. Havia rumores persistentes de que Stálin tinha sangue osseta.
Fontes: Wikipéida e blog de Gilfrancisco, julho de 2006.
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