Minha mãe sempre diz que prefere os cães aos homens. Eu a contrariava até que há doze anos enchi minha casa de gatos e cães abandonados. Doze anos explico: sai de um apertamento e fui para uma casa. Daí os vizinhos jogavam esses indesejados bichos em meu portão. E eu cedi aos apelos deles. Comida, água, banho, carinho. Minha mãe Rosa tinha razão. As vezes, os cães são melhores companhias do que os humanos. J. M. Coetzee em A VIDA DOS ANIMAIS trata da nossa relação com os animais. Sublime livro, que ganhou o Nobel em 2009. Tenho lido avidamente todos os livros de Coetzee. Confesso que DESONRA me abateu e me marcou mais. Mas, sigo adiante com Coetzee. O livro polemiza - por meio da protagonista da história, Elizabeth Costello - a distinção que fazemos entre humanos e animais. Para Costello, devemos tratar os animais com simpatia por sua sensação de ser. Se nós pensamos e escrevemos, temos a Razão (com R maiúsculo), então conversemos com os animais abrindo o coração. "Se somos capazes de pensar nossa morte, porque diabos não somos capazes de pensar a vida de um morcego?". Nesse livro encontramos profundas reflexões sobre como tratamos os animais. Como objetos. Espantosamente leio sobre Khöeller, um psicólogo alemão que trabalhou com macacos. Khöeller que fez estudos científicos sobre a capacidade de os macacos terem estratégias para pensar e agir é criticado por Costello. Para madame Costello, Khöeller nunca perguntou se os macacos queriam fazer aquilo que ele pescreveu. Será que os macacos não fariam outras coisas se eles não fossem os objetos e sim pessoas não-humanas como diz Bárbara Smuts?
No final do livro há uma série de comentários de personagens que trabalham com antropologia, com religião, com ética e uma bárbara primatóloga, a Bárbara Smuts. Bárbara trabalhou com babuínos na África Central. Chorei ao ler o texto de Bárbara. Desejei voltar a trabalhar com Biologia.
Na página 137 li:
Meus olhos cruzaram então com o cálido olhar de uma fêmea adolescente (de babuíno), Pandora. Continuei olhando para ela, em silêncio, projetando minha amizade. Inesperadamente, ela levantou e sentou mais perto. Parou bem na minha frente e apertou seu grande nariz na altura do meu, inclinou-se para a feente a pertou seu grande nariz chato contra o meu. Sei que e4la estava grudada em mim porque me lembro claramente que seu hálito quente e doce embaçou meus óculos e me cegou. Não senti medo e continuei concentrada na enorme afeição e respeito que sentia por ela. Ela ter ter sentido minha atitude, porque no momento seguinte senti seus barços de macaca, incrivelmente compridos, enrolarem sobre mim, e durante segundos preciosos ela me abraçou. Então ela me soltou, me olhou nos olhos mais uma vez e foi mascar suas folhas.
SUBLIME!
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