Morte e perseguição dos pardais
Pablo Neruda In: Defeitos Escolhidos
Editora LPM, 2000
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Eu estava na China
Naqueles dias,
Quando Mao Tsé-Tung, sem entusiasmo,
Decretou de imediato
Falecimento de todos os pardais.
Com a mesma admirável
Disciplina
Com que se construiu a grande muralha
A multichina se multiplicou
A cada chinês procurou o inimigo.
Os meninos, os soldados, os astrônomos,
As meninas, as soldadas, as astrônomas,
Os aviadores, os coveiros,
Os cozinheiros chineses, os poetas,
Os inventores da pólvora, os
Camponeses do arroz sagrado,
Os inventores de brinquedos, os
Políticos de sorriso chinês,
Todos se dirigiram
Ao pardal
E este caiu com milionária morte
Até que o último, um pardal supremo,
Foi fuzilado por Mao Tsé-Tung.
Com admirável disciplina então
Cada chinês partiu com um pardal,
Com um triste, pequeno cadáver de pardal
No bolso
Cada um
De setecentos e trinta
Cidadãos chineses com um pardal em
Cada um
De setecentos e trinta
Milhões de bolsos,
Todos marcharam entoando antigos
Hinos de glória e guerra
Para enterrar lá longe,
Nas montanhas da Lua Verde
Um por um os pardais mortos.
Durante dezessete anos seguidos
Cada um em pequeno mausoléu,
Ossário individual, tumba florida
Ou rápido cemitério coletivo
Um por um sucessivamente
Ficaram sepultados
Completamente os pardais chineses.
Mas aconteceu algo estranho.
Quando foram os enterradores
Cantavam os pequenos enterrados:
Um trovão de pardais
Passou trovejando pela terra chinesa:
A voz da trombeta planetária.
E aquela voz despertou os mortais,
Os antigos mortos,
Os séculos de chineses enterrados.
Voltaram às suas vidas
Aos seus arados, à sua economia.
Não faço censuras. Deixem-me tranqüilo.
Mas assim bem claro
Porque há mais chineses e menos pardais
A cada dia no mundo.
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