Em Alagoas. Do Blog de Roberto Romano
17.08.2011 19h30
O público, o sistema político e o privado
(*) JOALDO CAVALCANTE
Enquanto continuam pipocando denúncias contra autoridades das mais diversas esferas de poder no Brasil, sempre traquinando com o alheio, há de se refletir sobre a velha simbiose entre o público e o privado, costume lastimável que há muito tempo contamina boa parte da classe política. Em 2005, o 4º Fórum Global de Combate à Corrupção, reunindo mais de cem países, em Brasília, qualificou esse comportamento criminoso como uma espécie de fenômeno mundial, “que ameaça a democracia, o crescimento econômico e o estado de direito”.
Breve revisita na história identifica farta literatura acerca da conduta de misturar o particular com o pertence coletivo. O jornalista Laurentino Gomes, em seu livro-reportagem 1822, ao traçar o perfil de D. Pedro I, discorre sobre o espírito empreendedor do nosso príncipe-regente. Eis o que encontra: “Comprava cavalos comuns no Rio de Janeiro, marcava-os com o selo da Fazenda Real de Santa Cruz e os revendia por preço muito maior”. E o intermediário da negociação era o barbeiro do Palácio da Quinta da Boa Vista.
E havia outras travessuras reais: “D. Pedro se dedicava a várias outras atividades lucrativas: fabricava cachaça, comercializada nos botequins cariocas; arrendava os pastos da Real Fazenda para descanso do gado que descia de Minas Gerais e seus escravos cortavam o capim da Fazenda e vendiam nas ruas da cidade”. E olha que a propriedade pertencia à Coroa. Era, portanto, um bem de natureza pública.
A verdade é que a sociedade, desde a formação, não adquiriu o costume de respeitar o público.
O professor Roberto Romano, da Unicamp, cultiva o entendimento de que vamos ainda ralar bastante para superar essa fase, pois o fato de o cidadão não se sentir responsável pelo espaço público é algo embutido no processo civilizatório. Aí o exame talvez nos remeta para nossos colonizadores patrimonialistas da península Ibérica, lá no Sudoeste da Europa.
Só com democracia, educação, cidadania e politização das novas gerações se superam os vícios que vêm do passado. O Danado, entretanto, é testemunhar certos personagens agindo como inveterados patrimonialistas.
Alguns deles se rotulavam de esquerda, até com pregação trotskista e disposta a modificar as estruturas da sociedade, como o ex-ministro Antonio Palocci. Arrotavam idealismo hipócrita e depois, no poder, protagonizaram escândalos que bem denunciam um sistema político favorável à drenagem de recursos públicos para fins particulares.
(*) É jornalista.
17.08.2011 19h30
O público, o sistema político e o privado
(*) JOALDO CAVALCANTE
Enquanto continuam pipocando denúncias contra autoridades das mais diversas esferas de poder no Brasil, sempre traquinando com o alheio, há de se refletir sobre a velha simbiose entre o público e o privado, costume lastimável que há muito tempo contamina boa parte da classe política. Em 2005, o 4º Fórum Global de Combate à Corrupção, reunindo mais de cem países, em Brasília, qualificou esse comportamento criminoso como uma espécie de fenômeno mundial, “que ameaça a democracia, o crescimento econômico e o estado de direito”.
Breve revisita na história identifica farta literatura acerca da conduta de misturar o particular com o pertence coletivo. O jornalista Laurentino Gomes, em seu livro-reportagem 1822, ao traçar o perfil de D. Pedro I, discorre sobre o espírito empreendedor do nosso príncipe-regente. Eis o que encontra: “Comprava cavalos comuns no Rio de Janeiro, marcava-os com o selo da Fazenda Real de Santa Cruz e os revendia por preço muito maior”. E o intermediário da negociação era o barbeiro do Palácio da Quinta da Boa Vista.
E havia outras travessuras reais: “D. Pedro se dedicava a várias outras atividades lucrativas: fabricava cachaça, comercializada nos botequins cariocas; arrendava os pastos da Real Fazenda para descanso do gado que descia de Minas Gerais e seus escravos cortavam o capim da Fazenda e vendiam nas ruas da cidade”. E olha que a propriedade pertencia à Coroa. Era, portanto, um bem de natureza pública.
A verdade é que a sociedade, desde a formação, não adquiriu o costume de respeitar o público.
O professor Roberto Romano, da Unicamp, cultiva o entendimento de que vamos ainda ralar bastante para superar essa fase, pois o fato de o cidadão não se sentir responsável pelo espaço público é algo embutido no processo civilizatório. Aí o exame talvez nos remeta para nossos colonizadores patrimonialistas da península Ibérica, lá no Sudoeste da Europa.
Só com democracia, educação, cidadania e politização das novas gerações se superam os vícios que vêm do passado. O Danado, entretanto, é testemunhar certos personagens agindo como inveterados patrimonialistas.
Alguns deles se rotulavam de esquerda, até com pregação trotskista e disposta a modificar as estruturas da sociedade, como o ex-ministro Antonio Palocci. Arrotavam idealismo hipócrita e depois, no poder, protagonizaram escândalos que bem denunciam um sistema político favorável à drenagem de recursos públicos para fins particulares.
(*) É jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário