TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 11 de novembro de 2007

Lá vai barão! Parabéns, Chinaglia!


POr Josias de Souza

Magnetizado pelo debate em torno da CPMF, o noticiário vem negligenciando um assunto tão relevante quanto explosivo: a Câmara dos Deputados incluiu na pauta de votações desta semana uma emenda constitucional que aumenta de 51.875 para 59.514 o número de vereadores no país. Ou seja, serão injetadas nas câmaras de vereadores dos 5.562 municípios do Brasil mais 7.639 cadeiras. Aprovada na Câmara, a emenda será enviada ao Senado.

A proposta vem sendo discutida, à surdina, há quatro anos. Ganhou impulso em maio do ano passado, ao ser aprovada numa comissão especial da Câmara. Trata-se de reação a uma resolução baixada pelo Tribunal Superior Eleitoral em abril de 2004. A decisão do TSE impôs a extinção de 8.528 cadeiras de vereadores em todo país. Se for aprovada, a proposta que tramita no Congresso praticamente reconstituirá o cenário que vigorava antes da intervenção moralizadora do tribunal. É o que demonstra um estudo realizado pelo IBAM (Instituto Brasileiro de Administração Municipal).

O TSE foi compelido a baixar a resolução que reduziu as cadeiras de vereadores depois de uma decisão do STF. Em julgamento realizado também em 2004, o Supremo constatara que a composição da Câmara Municipal da cidade paulista de Mira Estrela desrespeitava os limites impostos pela Constituição. Guiando-se pela sentença do STF, o TSE recalculou o número de vereadores de todos os municípios brasileiros. Daí a redução.

Nas pegadas da resolução do TSE, criou-se no Brasil uma entidade de nome sugestivo: MODEV (Movimento em Defesa da Constituição pela Volta do Número Legal de Vereadores). É ativo na internet. E exerce sobre o Congresso um fortíssimo lobby. Como os vereadores atuam no âmbito municipal como espécies de cabos eleitorais de deputados e senadores, a pressão mostrou-se de uma eficácia inaudita.

Coube ao deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) apresentar a emenda constitucional que restitui às câmaras municipais parte das cadeiras suprimidas pelo TSE. Por essa emenda, seriam recriadas 5.159 das 8.528 vagas de vereadores extintas pelo TSE. À proposta de Mattos seguiu-se um relatório do então deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-S), chamado, em linguagem parlamentar, de substitutivo. Aumentou para 7.639 o número de vagas ressuscitadas.

Numa tentativa de atenuar a má repercussão da manobra, os deputados enrolam-se numa bandeira que traz o rótulo da esperteza. Argumentam que a emenda que estão prestes a aprovar impõe uma redução dos gastos dos municípios com suas câmaras de vereadores. Uma tese de difícil deglutição. Junto com os novos vereadores viriam os salários –deles e dos inevitáveis assessores—, novos gabinetes e as inúmeras vantagens que costumam acompanhar o exercício da atividade parlamentar.

De acordo com o substitutivo do ex-deputado Greenhalgh, que tem preferência na votação sobre a proposta original de Pompeo de Mattos, cidades com população superior a 500 mil habitantes não poderiam gastar com os legislativos municipais mais do que 4,5% de seus respectivos orçamentos.

Valendo-se de dados coletados na STN (Secretaria do Tesouro Nacional) o estudo feito pelo IBAM verificou o seguinte: em 2004, quando ainda existiam no Brasil 60.320 vereadores, as despesas globais dos municípios com os seus legislativos foram, em média, de 3,38% do orçamento. Ou seja, em vez de aproveitar a resolução do TSE para podar os gastos dos municípios com o custeio de suas câmaras de vereadores, impõe-se no texto de Greenhalgh um “limite” (4,5%) que, a pretexto de economizar, abre uma janela para o aumento da gastança.

Premido pelo lobby municipalista, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) pretende reunir-se com os líderes partidários para acertar a votação da emenda dos vereadores. Ela consta da fila do plenário como quinto item, atrás apenas de três medidas provisórias e de um projeto que tramita em regime de urgência. Se tudo correr como planejado, tudo será votado nesta semana.

Chinaglia declara-se simpático a uma idéia levada à mesa pelo deputado Vitor Penido (DEM-MG). Prevê que, em vez de atrelar o custo das câmaras de vereadores ao orçamento, a despesa seria limitada a um percentual da arrecadação tributária das prefeituras: 4,5% nas cidades com arrecadação de até R$ 6 milhões anuais e 1,75% nos municípios em que a coleta de impostos superar a casa dos R$ 500 milhões. Não há um cálculo preciso acerca de como ficaria o volume global de gastos se prevalecer a proposta de Penido.

De concreto, tem-se, por ora, apenas duas certezas: 1) o número de vereadores está na bica aumentar; 2) a recriação de 7.639 novas vagas nas câmaras municipais impõe aos caixas dos municípios uma despesa adiconal que o bom senso recomendaria evitar. Tudo sob um silêncio ensurdecedor, amplificado pelo barulho da CPMF.
Escrito por Josias de Souza às 18h58

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta: a CPMF tem que ser aprovada urgente para socorrer a máquina faminta do Estado.

Braziu!

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