TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Entrevista com Roberto Romano

Entrevista de Roberto Romano à Revista Eletrônica do IHU-Unisinos
Confira no Blog a entrevista toda
‘O governo do Brasil retoma a ética conservadora e contrária à democracia, o que exige da Igreja o papel vicário’.
Entrevista especial com Roberto Romano
“Hoje, eu diria, sem temor de errar, que o governo do Brasil retoma a ética conservadora e contrária à democracia, o que exige da Igreja o papel vicário assinalado por Max Weber”, comenta. Enquanto existir a Igreja, complementa: “(sobretudo na forma católica), haverá choque essencial entre dirigentes eclesiásticos e civis”. Nessa disputa, o discurso religioso ganha vantagens, já que esse é movido por “um mandato que não vem da finitude, nem de sujeitos humanos, mas cuja origem é Deus”, considera.
Por um longo período, em especial na ditadura militar, a Igreja serviu “para impor limites ao despotismo e como barreira que protegia os direitos”, lembra o filósofo Roberto Romano, da Unicamp. Ainda hoje, na tão citada democracia, o “nosso estado é explicitamente contrário às conquistas democráticas, especialmente no que diz respeito aos direitos sociais e individuais”, avalia. Prova disso, foi o “confronto” entre o presidente Lula e D. Cappio, quando da greve de fome do bispo contra a transposição do Rio São Francisco.
Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Roberto Romano disse que o Brasil é um estado “despótico e inimigo dos direitos humanos”. E disparou: “O privilégio de foro político mostra que não somos uma república e, menos ainda, estado democrático. Alguém que levante a voz, não dobre a espinha diante dos poderosos de Brasília, é visto com admiração e respeito. É o caso de D. Cappio”.
Roberto Romano cursou doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), França e é professor de filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Escreveu, entre outros, os livros Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo: Kairós, 1979); Conservadorismo Romântico (2ª ed. São Paulo: Ed. UNESP, 1997) e Moral e Ciência. A monstruosidade no século XVIII. (São Paulo: Senac Ed., 2002).
Confira a entrevista: http://www.unisinos.br/_ihu/index.php
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Lula: conservador e autoritário?
O governo de Luis Inácio Lula da Silva não abandonou tal cultura política habitual. Pelo contrário, ele exacerbou a preeminência desmedida do poder executivo, com base em seu carisma pessoal e numa longa lista de lutas do seu partido, o PT, em prol dos direitos e da ética na política.
Ao impor um projeto cujas conseqüências são imprevisíveis, o desvio do São Francisco, e isto manu militari, o governo atual retoma a tradição despótica do estado brasileiro, sempre contra qualquer tipo de “accountability”.
As crises do governo têm sido eludidas com base em muita cooptação, inclusive financeira, com muita propaganda e, last but least, com um assistencialismo demagógico que usa os bens do público em favor de um grupo político. Como a Igreja pensa em horizontes mais amplos, é inevitável que surjam novos problemas, dos quais o caso do bispo Cappio é apenas um prenúncio. Hoje, eu diria, sem temor de errar, que o governo do Brasil retoma a ética conservadora e contrária à democracia, o que exige da Igreja o papel vicário assinalado por Max Weber.
IHU On-Line - Como o senhor define o "poder" de influência social de D. Cappio? Como entender que um homem sozinho foi capaz de provocar tamanha repercussão num contexto em que se fala de crise da representação política, do estado, etc
Roberto Romano - É preciso distinguir a solidez de caráter daquele bispo e sua causa. Caráter tão sólido quanto o dele ostentavam os bispos que se insurgiram contra o Império, na defesa das teses Ultramontanas e conservadoras, durante a “Questão Religiosa”. A causa dos bispos ultramontanos e a de Dom Cappio são divergentes. Mas é impossível esquecer que o peso das suas atitudes é imenso. Os bispos que receberam sentença de trabalhos forçados no Império sabiam, e o bispo Cappio sabe, que suas ações não têm repercussão imediata, mas se inscrevem na ordem ampla do tempo, ancorada no eterno. O fato é que no Brasil o estado é despótico (em especial no poder Executivo) e inimigo dos direitos. O privilégio de foro político mostra que não somos uma república e, menos ainda, estado democrático. Alguém que levante a voz, não dobre a espinha diante dos poderosos de Brasília, é visto com admiração e respeito. É o caso de Dom Cappio.
IHU On-Line - O senhor disse, certa vez, que os religiosos católicos enxergaram no PT a nova oportunidade de unir doutrina eclesiástica sobre justiça social e socialismo democrático. Como o senhor avalia a atual relação entre a Igreja e o partido? As opiniões mudaram de acordo com os interesses? Governo e Igreja ainda têm algo em comum?
Roberto Romano - Pelo que noto, existe um imenso desconforto no PT, sobretudo nos setores católicos e religiosos em geral, contra o “realismo” oportunista do governo. Sim, as opiniões mudaram com os interesses. Se eu fosse nomear as pessoas que estiveram comigo em seminários em prol da ética na política, da transparência democrática, etc. nos últimos 20 anos, certamente o balança seria mais do que triste, seria melancólico e letal. A corrosão do caráter, na corrida pelo poder, é um dos fatos mais assustadores da sociedade humana.
IHU On-Line - Ministros do governo Lula, oriundos dos movimentos sociais mais ligados à Teologia da Libertação, se posicionaram clara e duramente contra o bispo. Como analisar isso?Roberto Romano - A Teologia lhes serviu como fonte de slogans, jamais como pensamento sobre Deus e a vida humana. Quem assistiu o belo filme Mephisto, percebe o que ocorreu e ocorre no Brasil, com a manipulação dos enunciados apenas como instrumento para chegar ao poder ou subir na escala social.
IHU On-Line - O senhor estudou o conservadorismo romântico da assim chamada Igreja da Libertação. Se reescrevesse a tese hoje, o que senhor mudaria, fundamentalmente?
Roberto Romano - Pouca coisa. Eu acentuaria o “pathos” romântico do futuro, algo que hipnotizou o pensamento do século XIX e seguiu caminho pelo século XX. O “futuro”, quando se manifestou, era pretérito e carcomido. O cinismo dos “realistas” choca mais do que a violência de Getúlio Vargas. É possível violar direitos, mas preservar a sua vigência. É pior quando os próprios direitos são ironizados por quem os defendia ainda ontem. Quando o presidente diz ser “uma metamorfose ambulante” é tal corrosão axiológica que ele patrocina e abençoa.
IHU On-Line - Conhecendo o contexto político e histórico de Lula, como entender a posição do presidente em relação à transposição do Rio São Francisco?
Roberto Romano - Ele se instalou nas prerrogativas presidenciais, que seguem os privilégios do antigo Poder Moderador. Assim, temos na verdade um imperador temporário, não um magistrado. E na corte predominam os interesses dos mais fortes, estimulados pela simples lisonja.
IHU On-Line - O senhor diz que o PT perdeu o desafio de lidar com as diferenças e as distintas formas de pensamento social e político. Por esta razão Lula e Cappio não chegaram a um acordo?Roberto Romano - Não apenas. O acordo era impossível, porque Dom Cappio é homem de princípios éticos e religiosos. Assim, quando o governo rege seus atos pela razão de estado e não pela razão científica ou social, temos o desastre ocorrido. Devo deixar clara minha desaprovação à greve de fome do antístete. Foi um gesto eloqüente, mas em prazo longo. Creio que o mais importante seria uma análise dos projetos envolvidos, um debate nacional amplo e isento, para que resoluções sábias fossem acertadas. Como o governo não é transparente, mas, pelo contrário, age de maneira despótica, não existiu o amplo debate e a necessária análise técnica. Quem apóia Dom Cappio cita exames acurados em sentido ecológico, econômico, estratégico, etc. em favor de suas posições. Mas ao povo não foram dadas explicações sobre o sentido do desvio do São Francisco.
IHU On-Line - Ministros de Lula acusaram o bispo de 'intransigente' e o bispo criticou Lula chamando-o de autoritário. Em sua opinião, o bispo foi é 'intransigente' e Lula é 'autoritário'?
Roberto Romano - Que Luis Inácio Lula da Silva é autoritário, mostrei há muitos anos em artigo que me trouxe aborrecimentos com petistas, artigo cujo título é O senhor da razão. Ali, mostro o quanto o estilo do líder resume-se ao egocratismo. Quanto ao bispo, minha pergunta ruma para o contrário: o que significa ser “transigente”? É aplaudir sem parar as iniciativas, as falas, os slogans dos governantes? Assim, os mais lúcidos e transigentes políticos seriam os que, nos longos discursos de Stalin, batiam tanta palma que suas mãos inchavam.
Por tal motivo, sempre que o “Pai de todas as Rússias” falava, na parede traseira do teatro se postavam funcionários com baldes, para aliviar os apoiadores do poder. Tais pessoas sumiram. Resta na memória histórica quem resistiu, não aplaudiu e foi jogado no exílio ou prisões. Com todos os equívocos de Dom Cappio — e percebo muitos em sua prática — ele estará no escrínio da memória nacional. Já os bajuladores e realistas de hoje....

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto perigossissimo para os comparsas/companheirso completamente imbecis, eles nao estao acostumados a pensar.

Cervo™ $$$$$$$$$$$ Servo™

Braziu!

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