TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Irã

Foto: Zahra Rahnavard, esposa de Hossein Moussavi

As desculpas eternas dos golpistas. Por Roberto Romano, Professor de Filosofia na UNICAMP

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Quando ocorreu a invasão da Tchecolosváquia, um grupo de intelectuais esquerdistas estava reunido em São Paulo. Entre eles, integrantes das várias camadas daquele setor político. Poucos condenavam a tremenda agressão soviética (na verdade, só condenavam o golpe os que concordavam com a críticas de Sartre ao uso do poderio imperial pela URSS) e a maioria aprovava (conforme o seu ethos) o heróico exército proletário que estava prestes a salvar o país dos reacionários... Jovem ainda, ousei dar meu palpite sobre a democracia, o respeito às normas de auto-determinação dos povos, etc. Um integrante do Partido Comunista pula diante de mim, olhos esbugalhados e voz descontrolada e me pergunta se eu não sabia da presença dos nazistas entre os partidários de Alexandre Dubcek. Disse desconhecer tal presença. "Esta gente não descansa! Com ajuda da CIA, eles tentam dar um golpe contra o regime popular. Se tiverem sucesso, logo tomarão conta de todos os países socialistas!". Tive a arrogância de pedir provas. Recebi uma saraivada de adjetivos e de palavras de ordem em resposta.
O "argumento" da presença oculta dos inimigos é sempre o mesmo, em todos os golpes de Estado. Muda o personagem, que ora era o comunismo internacional, ora o imperialismo norte-americano. São desculpas dos criminosos que aplicam golpes de Estado covardes, dando-se licença para matar sua própria gente, em nome da defesa do Estado, da nacionalidade, etc.

É exatamente este o caso do Irã. G. Bush inventou o "eixo do mal" para justificar sua política externa irresponsável. No lado oposto, os sacerdotes tiranos classificaram os EUA como "o grande Satã". Os dois lados produziram ações insuportáveis (basta recordar, nos EUA, a Lei Patriótica, da qual um aluno meu prepara seu doutorado, tal lei abala os fundamentos do Estado democrático de direito na grande democracia) e com resultados mortíferos (recordemos a guerra entre Iraque e Irã, com milhões de mortos).
Hoje, Obama/Chamberlain deseja, como diz o nosso caipira, "assobiar e chupar cana ao mesmo tempo". Sua política é a de colocar panos quentes. Isto, até que seu país não suporte mais as pressões e chantagens dos regimes ditadoriais como a Coréia do Norte, o Irã, etc. Aí, a experiência é histórica, ele ou seu sucessor democrata jogarão novamente a juventude norte-americana em aventuras tremendas. Até que um republicano (recordemos o caso do Vietnã e da China) resolva, por via diplomáticas, a confusão causada pelos democratas lenientes no começo, falcões no final de todos os processos bélicos dos últimos tempos.
O pior, volto à esquerda brasileira, é a lingua travada dos intelectuais, jornalistas, etc., presa pelos slogans e palavras de ordem que interessam aos dirigentes, os "de cima". No caso que narrei, os dirigentes residiam em Moscou. Hoje, no Brasil, moram nos palácios, em Brasilia. Mas os papagaios da exquerda repetem frases feitas, com uma certeza maior do que a fé que move montanhas.

Bom mesmo é reler Bouvard e Pecuchet: a erudição dos nossos acadêmicos nãos lhes serve como apoio do pensamento. Eles não pesam as palavras e as coisas. Eles repetem lugares comuns. É por tal motivo que jamais deixam os limites da idiotia. RR

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