TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 26 de dezembro de 2010

...o direito à resistência


Homo Seditiosus
de Rui Bebiano, Portugal, Blog A terceira noite AQUI
Em Roma sê romano.

Em «La rivoluzione è finita. Inizia l’età della rivolta», publicado no La Stampa do passado dia 16, o italiano Marco Belpoliti, escritor, crítico literário e professor de sociologia da literatura, confronta-nos com uma situação que não podemos ignorar. De Clichy-sous-Bois, nos arredores de Paris, em 2005, aos motins estudantis de Londres e de Roma em 2010, passando por Atenas em 2008, a revolta pura e dura parece ter ocupado o antigo lugar da revolução. Sem um programa ou objectivos políticos claros, sem um ideal a perseguir desenhado no horizonte, ela não se projecta no futuro mas antes no imediato.

A Ocidente como a Leste, em Nova Iorque como em Xangai, o estado de revolta «suspende o tempo histórico e cria o instantâneo», assegurando a aparente vitória do presente sobre o futuro. Este vive do instante e é no instante que se constrói. Belpoliti recorre a uma evocação de Walter Benjamin a propósito da forma como durante a Comuna de Paris os communards disparavam furiosamente sobre os relógios. Queriam que o tempo parasse ali mesmo, sem remissão, numa vitória efémera que durasse para sempre e pusesse termos às cadências opressivas da vida e do trabalho. Foi assim também muito tempo antes, durante os grandes levantamentos anti-senhoriais do século XIV, ou enquanto durou a Guerra dos Camponeses na Alemanha do século XVI. Prestes a serem massacrados na batalha de Mauthausen, os sublevados recusaram-se a aceitar a superioridade militar dos poderosos, pois esperavam que Cristo em pessoa entrasse no terreno de luta para suspender os factos e consagrar a vitória definitiva dos crentes e dos espoliados.

Nada disto tem já a ver com a «guerra civil», conduzida por gangs de delinquentes ou grupos de extrema-direita, que segundo Hans Magnus Enzensberger pelos finais dos anos oitenta pareciam preparar-se para tomar para si as ruas dos «bairros problemáticos» das grandes metrópoles do mundo industrializado. Esta é uma outra forma de violência, que parece antes uma resposta estrutural à ausência de perspectivas de uma mudança revolucionária. Combate-se nas ruas como Robin Wood e os seus se batiam nos arrabaldes de Nottingham, como um Zorro ficcional lutava em nome dos fracos e dos oprimidos: procurando mitigar a injustiça e exercendo por vezes o direito de vendetta. Sigo ainda Belpoliti: «Devemos preparar-nos para viver uma época diferente daquela que marcou a vida dos nossos pais e dos nossos avós, uma época que não possui um sentido único, ou pelo menos um destino preestabelecido.» Neste tempo, o homo seditiosus, o homem sublevado, apresenta-se como o campeão de uma humanidade que desce à rua. Hoje, mas igualmente amanhã, e depois de amanhã, para realizar «uma arte sem obra» determinada pelo direito à resistência. Uma perspectiva sobre a qual vale a pena ir meditando nos intervalos da acção.

Um comentário:

léo guedes disse...

Seria apenas curioso se não fosse espantoso! Liberdade sem ordem?O consumismo atinge seu auge diante dos desejos intelectuais. Temos de consumir, seja qual for a idéia. Mesmo que isso se traduza num caos. Felizmente é a própria natureza que freia os instintos humanos, como também a criatividade. Mas há os que se propõem em constestar as leis naturais. E com o aplauso dos idiotas. Lembro-me de uma passagem onde um superior interrogava um aspirante à padre e lhe perguntava sobre a onipotência divina. O candidato à padre respondeu: "Olha, se eu estiver jogando cartas com o criador e se ele tiver um dois na mão e eu um rei, ele perde". Vivemos tempos curiosos onde o reino da quantidade dá um chega prá lá no reino da qualidade. Há os que paguem R$200,00 por cabeça para ouvirem Mano Brown dizer que nossos heróis estão presos. Prefiro me garantir que há ordem no universo, independente da tesloucada liberdade humana.

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