JANIO DE FREITAS, Folha de SPaulo Cenas conhecidas
JÁ OUVI , ouvimos, esse gênero de discursos que Lula adota com freqüência cada vez maior. Discursos mais vociferados do que pronunciados, com uma carga de agressividade insultuosa que até lhe transtorna o rosto, recendendo a ressentimentos que se confundem com ódios, se conscientes, inconfessáveis. Já ouvimos discursos assim de acusação e ofensa aos que divergem, de fato ou não, já ouvimos essa voz de uma prepotência que parece usar a fala porque não pode usar as mãos, o físico ou algo mais sólido, para extravasar. Já ouvimos discursos assim, mas não eram de Lula. Eram de coronéis e generais.Não, não é o empenho na aprovação deste ou daquele projeto. Nas reuniões de ares tão elegantes do Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico, em que estão numerosos representantes da boa e da má riqueza, junto a outras representações, Lula tem atacado com palavras muito pesadas a grande parte dos conselheiros. Por ele nomeados, o que implicaria escolha ou aceitação sua, mas, apesar disso, pela condição econômica "são os que querem que os pobres continuem sendo miseráveis para os ricos (eles mesmos, os conselheiros) serem cada vez mais ricos". E lá se vão os insultos subindo de tom e volume, no cenário de um rosto de repente encharcado de suor e fúria. Sem que o tema inicial fosse ao menos empolgante, sem que intervenções ou fatos precedentes justificassem reações de autoridade ou emocionais. Nada, só a irrupção súbita da agressividade prepotente.Não há situações preferenciais para os ataques ilógicos que se multiplicam. No Espírito Santo, sexta-feira, Lula voltou às afirmações de que contra a CPMF "só é quem sonega imposto, porque é o imposto que vai detectar quem está sonegando". Há razões em favor da CPMF e razões, inclusive a do mascaramento, que a condenam. Mas, se todas as semanas, a Polícia Federal e a Receita têm apanhado praticantes de diferentes sonegações, nenhum deles foi detectado pela CPMF, que não tem tal fim. Lida, a afirmação de Lula fica apenas como mais uma das comuns inverdades a que a demagogia e o ímpeto de agredir o levam. Pela TV, como terá sido ao vivo no Espírito Santo, a sua imagem de fúria e descontrole prepotentes foi muito impressionante. Sem nexo, absolutamente nenhum, senão com o teor antidemocrático da agressão: a incapacidade de admitir a discordância e de lutar de modo franco para vencê-la.É impossível imaginar o que Lula ainda esperaria da vida, e das pessoas em geral, para enfim vencer os seus ressentimentos, tão raivosos. Em vez disso, libera-os com formas e intensidade cada vez maiores e piores. Quase certamente, um prenúncio do nível a que poderão chegar quando o segundo mandato, próximo do final, suscite o confronto entre um terceiro e um mandato alheio.
JÁ OUVI , ouvimos, esse gênero de discursos que Lula adota com freqüência cada vez maior. Discursos mais vociferados do que pronunciados, com uma carga de agressividade insultuosa que até lhe transtorna o rosto, recendendo a ressentimentos que se confundem com ódios, se conscientes, inconfessáveis. Já ouvimos discursos assim de acusação e ofensa aos que divergem, de fato ou não, já ouvimos essa voz de uma prepotência que parece usar a fala porque não pode usar as mãos, o físico ou algo mais sólido, para extravasar. Já ouvimos discursos assim, mas não eram de Lula. Eram de coronéis e generais.Não, não é o empenho na aprovação deste ou daquele projeto. Nas reuniões de ares tão elegantes do Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico, em que estão numerosos representantes da boa e da má riqueza, junto a outras representações, Lula tem atacado com palavras muito pesadas a grande parte dos conselheiros. Por ele nomeados, o que implicaria escolha ou aceitação sua, mas, apesar disso, pela condição econômica "são os que querem que os pobres continuem sendo miseráveis para os ricos (eles mesmos, os conselheiros) serem cada vez mais ricos". E lá se vão os insultos subindo de tom e volume, no cenário de um rosto de repente encharcado de suor e fúria. Sem que o tema inicial fosse ao menos empolgante, sem que intervenções ou fatos precedentes justificassem reações de autoridade ou emocionais. Nada, só a irrupção súbita da agressividade prepotente.Não há situações preferenciais para os ataques ilógicos que se multiplicam. No Espírito Santo, sexta-feira, Lula voltou às afirmações de que contra a CPMF "só é quem sonega imposto, porque é o imposto que vai detectar quem está sonegando". Há razões em favor da CPMF e razões, inclusive a do mascaramento, que a condenam. Mas, se todas as semanas, a Polícia Federal e a Receita têm apanhado praticantes de diferentes sonegações, nenhum deles foi detectado pela CPMF, que não tem tal fim. Lida, a afirmação de Lula fica apenas como mais uma das comuns inverdades a que a demagogia e o ímpeto de agredir o levam. Pela TV, como terá sido ao vivo no Espírito Santo, a sua imagem de fúria e descontrole prepotentes foi muito impressionante. Sem nexo, absolutamente nenhum, senão com o teor antidemocrático da agressão: a incapacidade de admitir a discordância e de lutar de modo franco para vencê-la.É impossível imaginar o que Lula ainda esperaria da vida, e das pessoas em geral, para enfim vencer os seus ressentimentos, tão raivosos. Em vez disso, libera-os com formas e intensidade cada vez maiores e piores. Quase certamente, um prenúncio do nível a que poderão chegar quando o segundo mandato, próximo do final, suscite o confronto entre um terceiro e um mandato alheio.
Comentário:
Os estilos dos governantes são objeto de estudo. FHC, por exemplo, sempre falava manso, dava uma risada bem debochada e olhava de esguelha. Ria da nossa cara. Sarney, diferente, mantinha o ar de presidente e literato (sic). Um estilo mais adequado ao homem público. Collor apresentou um estilo do ódio. Bradava, gritava, gesticulava.... Itamar Franco tentou manter um estilo mais brejeiro até levar uma ex-modelo ao carnaval que foi fotografada sem calcinhas. Aí, o estilo velho assanhado grudou nele.
O estilo bom mocinho incomoda, mas o estilo do Lula é bem desagradável: muitos berros. Cansam. Seus discursos de sindicalista cansam.
Um comentário:
O que me incomoda nos discursos do Lula, é que ele nunca deixa o palanque, está sempre em campanha eleitoral... mas campanha sofre enorma carga de emoção, e governar exige serenidade.
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