Levantei-me hoje e não vi minha Milla. Uma cachorra pastora. Há duas semanas parou de andar. Minha casa tornou-se abrigo de cães enjeitados, famintos e quebrados quando mudei-me para cá, uma casa com quintal grande. A Milla é da safra de 1997, creio. Está agonizando; ajudo-a ficando junto. Eu não era muito ligada a cães, nem gatos. Hoje sou. Morar numa casa em um bairro como o meu, os cães e gatos fazem parte da paisagem. Comecei a ver melhor os cachorros quando, na minha adolescência, li JACK LONDON, Chamado selvagem, tradução da Clarice Lispector. Batizei, inclusive, o cachorro de minha tia Djanira de Buck, nome do cão adestrado que foge dos grilhões humanos e se torna, de novo, selvagem. Chamado selvagem: a lua, a floresta, os uivos chamaram Buck. Chamaram Jack London também. Ele sempre viajou como Buck, desobedecendo patrões. Hoje vejo que há um outro chamado: o da morte. Minha Milla resiste, mas não há como sobreviver. É uma pena. É o outro chamado.
Ah, esse livro lindo foi escrito em 1903.
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