TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Leitura uau


Da Mary, sempre uma leitura uau!


Eu queria falar um lance sobre isso. Da vida familiar ter se tornado o foco do way of life americano. Porque eu estou completamente absorvida por essas discussões. Da ética vingente e da identidade que ela possibilita e tal. Por conta do projeto de doutorado que tô fazendo. E claro que é muito recortado e não interessa pras pessoas, projeto de doutorado. Mas eu estou fazendo sobre riot grrls mesmo. Que é o que eu queria estudar desde sempre. E acho que é um grupo que meio que sintetiza o que eu quero estudar. Que agora eu chamo de transfiguração do político, por causa do Maffesoli. Se esses grupos transfiguram o político (a ponto de podermos pensá-los como despolitizados num certo sentido) ao mesmo tempo que atuam sistematicamente, eu achei que eu precisava ter alguma coisa sobre identidade. Porque ela tá transmutada também, se a ação política está virada de ponta cabeça. Eu acredito mesmo que primeiro é a ética que muda, depois muda a identidade, depois muda o agir político. Mais ou menos assim. Daí eu peguei um livro maravilhoso, que eu já tinha tido contato, por ordem do meu co-orientador de mestrado. Eu acho que ele queria me mostrar como se construiu essa ética da pluralidade, mas eu vi outra coisa. E agora então. Tanto tempo depois. Tô lendo focada mesmo nas ativistas do feminismo contemporâneo. Mas, né? Charles Taylor não escreveu um livro. Ele escreveu um tratado de 700 páginas sobre a construção da identidade moderna. E então eu tô aprendendo muita coisa. E organizando outras que eu já sabia. Dentre as coisas que eu tô aprendendo, uma é absolutamente uau. A ponto de eu fechar o livro quando li. E ficar sentindo o meu coração acelerado. Com a sensação de "não é possível, todo mundo sabia isso, menos eu". Vamos então, ao post. Porque preâmbulo é a especialidade da casa. Ele situa o Locke como o cara da identidade moderna. Pra ele tá ali a coisa toda e tal. Mas aí ele explica. Como foi possível que assumissemos esse tipo de ética. Aí ele explicas as éticas anteriores. Porque a identidade é o resultado da configuração que a sociedade tem em determinado momento etc. Configuração pra ele é uma palavra super importante. E eu ando encantada por essa palavra. Ele diz assim. Que uma ética tem três eixos. Que são mais ou menos valorizados numa determinada sociedade. Primeiro, o respeito ao próximo. Segundo, o significado de viver uma vida que vale a pena (sentido da vida). Terceiro, a dignidade (o quanto eu sou merecedor do respeito). Ele diz que a moral orbita em torno disso aí. Ele diz que na antiguidade, existia a "Ética Guerreira". E que o mais importante nela era a dignidade. Sendo que ter uma vida plena significava ter o respeito dos demais.

O primeiro eixo era super precário na Grécia Antiga, por exemplo. O outro não merecia maiores atenções e eles jamais entenderiam o quanto o primeiro nos é caro etc. A nossa época, pelo que eu entendi, tem quatro éticas. E aqui a porca torceu o rabo pra mim. Ele diz que o segundo eixo (sentido da vida) é fundamental pra gente. Mesmo porque nós somos a época que mais diz que NÃO há sentido. O que é uma celebração desse eixo e dá mostras contínuas do quanto nos importamos com ele. Discutimos até para concluir que ele não existe. Nós temos a discussão mas NÃO temos configuração que nos dê a resposta. Os gregos tinham, eles sabiam porque deviam viver e morrer. Nós? Não. E aí ele diz algo já. Que gregos viviam pela fama. Pela imortalidade. Claro que já vem BBB na minha cabeça, né? Mas eu tiro porque não dá pra passar a vida analisando *o* programa. Ele resolve o problema da fama, mas não vai caber aqui tudo que ele fala etc.

O primeiro eixo ele fala que nós levamos ao limite. O Direito se ocupa de transformá-lo em lei obrigatória etc. E que a configuração mais escancarada que temos é a ausência de uma configuração comum a todos. Daí ele fala que Platão se colocou contra a "Ética do Guerreiro". E sugeriu uma "Ética Racional". Por isso eu digo que temos três éticas (ou quatro se considerarmos que a "Ética Teológica" ainda vigora pros tontos etc). Daí o sentido da vida seria a autonomia mesmo. E viver bem é viver a supremacia da razão sobre o desejo. Os estóicos etc. Ele diz que nós temos uma apropriação disso. Que é o indíviduo desprendido. Aqueles que conseguem objetificar o mundo e os próprios sentimentos. Aqueles que possuem distanciamento e autocontrole nas diversas situações e tal. Que vê o mundo desencantado, no sentido weberiano mesmo. Eu sou assim, sabe? Eu vivo essa atualização da ética platônica. Autocoerência e eficácia instrumental estão no centro dessa ética. E todo mundo a conhece. Porque ela é a ética do capitalismo. Nós também fazemos uso do altruísmo como um valor e nosso respeito ao outro é marcado por ele. Isso é atualização de ética religiosa, como é óbvio etc. Aí tem uma "Ética da Expressão". Que seria dos artistas. Porque nossa sociedade valoriza as artes como nunca antes e tendemos a considerar que viver para se expressar confere à vida um sentido. E os artistas vestem essa ética. Mesmo artista que não vinga, tem um sentido pra vida. Que seria poder fazer sua arte e se expressar etc. Nós legitimamos essa ética. Ele diz que a gente leva em conta, por exemplo, opinião política de artista etc. Eles dão norte pra todos nós e não há qualquer explicação racional pra isso. Só pode ser porque consideramos o expressar-se como algo. E aí ele chega à ética mais comum do nosso tempo. E precisamente aqui, meu queixo cai. Ele diz que a ética que mais floresce é a da afirmação da vida cotidiana. Eu noto mesmo. Que o mais importante, para um número gigante de pessoas, é a vida da produção e da reprodução. Daí trabalho e família etc. O sentido da vida está aí. O respeito ao outro está aí (a gente vê as pessoas sempre dizendo "e se fosse meu filho", sempre, pra justificar respeito ao outro). E a dignidade também. Você é respeitado por ser pai de família e um funcionário exemplar. Eu sou um pai de família é *a* evocação para exigir dignidade. Então nós temos. A "Ética da Vida Cotidiana". A "Ética Guerreira" e a "Ética Racional" relegam o cotidiano a segundo plano. Há coisas imensas para serem conquistadas etc. E de onde vem essa valorização do cotidiano? Morra. Porque vou transcrever. Pra não parece que eu tô mentindo.
A afirmação da vida cotidiana envolve, portanto, uma posição polêmica diante dessas concepções tradicionais e de seu elitismo implícito. Isso se aplicou às teologias da Reforma, que são a principal fonte do impulso a essa afirmação nos tempos modernos.
Veja que ele diz O CONTRÁRIO do Weber. Porque a "Ética Protestante" é a ética da razão. E o Charles Taylor fica falando da vida cotidiana e chamando de "Ética da Reforma". E ele chega a citar o Weber quando fala da atualização da ética do Platão. E toda essa leitura que a gente tem? De que a ética católica vigora nos países latinos. Isso faz sentido se pensarmos em termos de encantamento do mundo. Mas vida cotidiana? Não faz nenhum. Enfim. A culpa é do Lutero. Acho que só eu que não sabia. Porque, nossa. Tá na cara.
Não é minha "área". Mas claro que eu me considero militante GLBT. Mas não entendo do assunto. Só milito mesmo. Me arrepia um pouco pensar a luta gay por essa ótica. Mas assim. Me arrepia MUITO. Nós, feministas, temos um histórico de luta estrutural que eu não vejo tão seriamente abalado por essa ética. O movimento gay me parece estar sucumbindo. Mas enfim. Não entendo mesmo do assunto.

Nenhum comentário:

Braziu!

Braziu!

Arquivo do blog

Marcadores

Eu

Eu

1859-2009

1859-2009
150 anos de A ORIGEM DAS ESPÉCIES

Assim caminha Darwin

Assim caminha Darwin

Esperando

Esperando

Google Analytics