Por Ricardo Noblat -
10.1.2008
A mim não interessa que a imprensa seja gratuitamente chapa-branca ou que ela seja gratuitamente oposição. ”
Lula, na revista Brasileiros
10.1.2008
A mim não interessa que a imprensa seja gratuitamente chapa-branca ou que ela seja gratuitamente oposição. ”
Lula, na revista Brasileiros
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Lula pediu para ser entrevistado. E foi
O tom da capa da edição de dezembro/janeiro da Brasileiros, revista mensal de reportagens que chega às bancas semana que vem, está na cara sorridente do personagem principal: Lula.
A manchete diz tudo: "De bem com a vida".
A atração extra é a chamada: "Uma conversa franca do presidente com nosso repórter", Ricardo Kotscho, diretor-adjunto da revista, um dos maiores repórteres do jornalismo brasileiro e, até o final de 2004, Secretário de Imprensa do próprio Lula no Palácio do Planalto.
Na sexta pergunta, o repórter lembra ao presidente "a crise política permanente que não sai das manchetes da imprensa", tomando o cuidado de não pronunciar o palavrão que sobrevoa a pátria petista – "mensalão". "Lembro que nos primeiros dias de governo o senhor sempre dizia que 'só não podemos errar na política'. O que deu errado?", pergunta o repórter.
Lula responde, também evitando o palavrão: "Eu penso que é preciso avaliar corretamente o que deu errado na política. Alguns companheiros meteram os pés pelas mãos, fizeram tudo aquilo que o PT sempre combateu ao longo da vida. Afinal de contas, foi para isso que criamos o PT, para moralizar a política brasileira..."
Era o Lula falando, sem falar, do mensalão que engoliu o PT e sua bandeira. Pela primeira vez, não negou o que o Supremo Tribunal Federal reconheceu, acatando a abertura de processo contra os 40 mensaleiros e aquele apontado como chefe da quadrilha, José Dirceu.
Por vias tortas, Lula acabou fazendo na Brasileiros o que Dirceu fez na na revista Piauí – falou com desassombro sobre o escândalo, sem negá-lo, sem vestir no mensalão a fantasia esfarrapada do Caixa 2.
Pelo tom da pergunta, parecia que a entrevista ia engrenar, decolar, pegar fogo. Mas foi apenas a exceção que confirmou a regra da conversa amistosa que se esparrama por nove generosas páginas da revista. Uma conversa que às vezes lembra um papo de compadres, reconhecida na abertura camarada que ilustra o encontro de antigos companheiros: "Entrevista risonha e franca", avisa o texto. Pura verdade.
O colóquio, mais risonho que franco, justifica a euforia "nunca-antes-neste-país" escancarada pelo entrevistado, mas não faz jus ao talento e à biografia respeitada do entrevistador. Dava para desconfiar do resultado quando o próprio Kotscho, no texto de abertura, lembra que a idéia da entrevista partiu de Lula, ao final de um almoço em meados de novembro passado no Palácio do Alvorada, com a presença de dona Marisa, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, e o repórter.
- Todo mundo me pede entrevista, menos você. Não quer fazer uma entrevista comigo? Vamos fazer um balanço de tudo o que aconteceu até agora" - provocou Lula.
O experiente Kotscho deveria ter driblado a provocação. Só Lula se deu bem ali. Vendeu todo o peixe que tinha, repetiu platitudes, citou a si próprio, ecoou frases feitas e maravilhou-se com o seu próprio desempenho. É uma espantosa entrevista sem notícia.
Lula negou o terceiro mandato ("nem se o povo pedir"), lavou as mãos nas mudanças que o país pede ("se os partidos não querem fazer a reforma política, não é o presidente que vai fazer"), jurou seu único arrependimento ("em 2005, com medo da inflação, aumentamos a taxa de juros") e repicou sua idéia fixa ("minha prioridade é fazer com que os pobres tenham condições de melhorar de vida").
Deu para medir o dedo do gigante na primeira pergunta e na primeira resposta:
Kotscho – Como vai, presidente Lula?
Lula – Eu vou bem porque o Brasil vai bem...
E por aí vai, por ali foi... Maldade de Lula com Kotscho.
O tom da capa da edição de dezembro/janeiro da Brasileiros, revista mensal de reportagens que chega às bancas semana que vem, está na cara sorridente do personagem principal: Lula.
A manchete diz tudo: "De bem com a vida".
A atração extra é a chamada: "Uma conversa franca do presidente com nosso repórter", Ricardo Kotscho, diretor-adjunto da revista, um dos maiores repórteres do jornalismo brasileiro e, até o final de 2004, Secretário de Imprensa do próprio Lula no Palácio do Planalto.
Na sexta pergunta, o repórter lembra ao presidente "a crise política permanente que não sai das manchetes da imprensa", tomando o cuidado de não pronunciar o palavrão que sobrevoa a pátria petista – "mensalão". "Lembro que nos primeiros dias de governo o senhor sempre dizia que 'só não podemos errar na política'. O que deu errado?", pergunta o repórter.
Lula responde, também evitando o palavrão: "Eu penso que é preciso avaliar corretamente o que deu errado na política. Alguns companheiros meteram os pés pelas mãos, fizeram tudo aquilo que o PT sempre combateu ao longo da vida. Afinal de contas, foi para isso que criamos o PT, para moralizar a política brasileira..."
Era o Lula falando, sem falar, do mensalão que engoliu o PT e sua bandeira. Pela primeira vez, não negou o que o Supremo Tribunal Federal reconheceu, acatando a abertura de processo contra os 40 mensaleiros e aquele apontado como chefe da quadrilha, José Dirceu.
Por vias tortas, Lula acabou fazendo na Brasileiros o que Dirceu fez na na revista Piauí – falou com desassombro sobre o escândalo, sem negá-lo, sem vestir no mensalão a fantasia esfarrapada do Caixa 2.
Pelo tom da pergunta, parecia que a entrevista ia engrenar, decolar, pegar fogo. Mas foi apenas a exceção que confirmou a regra da conversa amistosa que se esparrama por nove generosas páginas da revista. Uma conversa que às vezes lembra um papo de compadres, reconhecida na abertura camarada que ilustra o encontro de antigos companheiros: "Entrevista risonha e franca", avisa o texto. Pura verdade.
O colóquio, mais risonho que franco, justifica a euforia "nunca-antes-neste-país" escancarada pelo entrevistado, mas não faz jus ao talento e à biografia respeitada do entrevistador. Dava para desconfiar do resultado quando o próprio Kotscho, no texto de abertura, lembra que a idéia da entrevista partiu de Lula, ao final de um almoço em meados de novembro passado no Palácio do Alvorada, com a presença de dona Marisa, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, e o repórter.
- Todo mundo me pede entrevista, menos você. Não quer fazer uma entrevista comigo? Vamos fazer um balanço de tudo o que aconteceu até agora" - provocou Lula.
O experiente Kotscho deveria ter driblado a provocação. Só Lula se deu bem ali. Vendeu todo o peixe que tinha, repetiu platitudes, citou a si próprio, ecoou frases feitas e maravilhou-se com o seu próprio desempenho. É uma espantosa entrevista sem notícia.
Lula negou o terceiro mandato ("nem se o povo pedir"), lavou as mãos nas mudanças que o país pede ("se os partidos não querem fazer a reforma política, não é o presidente que vai fazer"), jurou seu único arrependimento ("em 2005, com medo da inflação, aumentamos a taxa de juros") e repicou sua idéia fixa ("minha prioridade é fazer com que os pobres tenham condições de melhorar de vida").
Deu para medir o dedo do gigante na primeira pergunta e na primeira resposta:
Kotscho – Como vai, presidente Lula?
Lula – Eu vou bem porque o Brasil vai bem...
E por aí vai, por ali foi... Maldade de Lula com Kotscho.
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