TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sábado, 5 de setembro de 2009

Da Mary W.

Da MARY W.

Durante muito tempo as salas de aula do Brasil foram divididas pela performance dos alunos. Assim que tínhamos a 7aB e a 7aD etc. No meu tempo de colégio era assim. E eu estudei em escola pública e uma das salas sempre era uó. Os alunos tinham pecha de delinquentes mesmo. Na minha cidade não tinha escola particular e mesmo naquela época eu achava que a divisão era por classe social. Sendo que um ou outro aluno pobre que se destacasse, era "promovido". O principal aspecto da inclusão é esse. Não se refere apenas ao aluno deficiente. A ideia geral é que um ambiente heterogêneo se tornaria um ambiente mais estimulante para a aprendizagem. Só um completo idiota seria a favor da volta da 7aB. Acho que todo mundo percebe que agrupar alunos por desempenho estigmatiza e transforma o fluido em definitivo. Eu falo isso porque há um problema no meu trabalho. Que a gente perde quase todo o tempo do mundo com alunos "problema". São minoria e consomem quase toda a nossa energia. Existe até uma fala entre os coordenadores pedagógicos da minha faculdade. Eles dizem que "aluno bom é aquele que você não conhece". Em sala de aula não é assim. E a gente sabe quem são os ótimos e os ruins. Os médios se perdem. Eu falo sempre isso com meus chefes. Que eu acho que tem que haver uma estratégia pra lidar com isso. O aluno jamais estaria a par de tal estratégia, mas ela deve existir. Eu chamo de aluno "problema" porque ele não apenas tem um desempenho fraco. Ele tem problema mesmo.
São meninas que engravidam e voltam no meio do semestre sem qualquer condição e aí precisam de acompanhamento (que na verdade é apenas ajuda e empurrão).
São meninos que começam um curso, não gostam e transferem mais de uma vez. Aí a gente não vence administrar aquele mundo de adaptação. E outros casos assim. Veja que não deveriam ser casos problemas. Mas SEMPRE são. Porque são decisões individuais (ter filho, trocar de curso) que não são encaradas como problemas pessoais. Como os alunos estão muito infantilizados, eles acabam querendo que a gente resolva as questões que ficam pendentes. E tomam muito tempo. Eu lido também, hoje, com um aluno que não sabe segurar um mouse. São pouquíssimos. Mas tomam quase todo meu tempo. Sempre que um aluno chega reclamando eu sento o cara na frente do PC. E o resultado é vixê. De qualquer maneira, esse aluno, vai precisar se empenhar. Se a faculdade vai dar curso de computação, se ele vai pagar para, se vai aprender com a vizinha. Ele vai ter que dedicar um tempo. E ele reluta em fazer isso. E quando vai chegando o prazo de entrega das atividades, eles lotam a minha sala. E querem que eu faça com eles, ao lado deles. Coisas assim. Que se tornam insuportáveis. Porque o aluno virou cliente. E porque a concorrência entre as faculdades é imensa. Onde eu trabalho foi criado um negócio chamado Curso de Nivelamento. E o aluno tem aula de tudo, como se estivesse no colegial. Biologia, Matemática, Português, Física, Química. Não há aula de História e eu peço muito. Pelo menos um módulo ensinando o que é Revolução Industrial. Que é a primeira aula que eu sou obrigada a dar em qualquer disciplina. Porque eles não sabem e não é possível conversar de ciências sociais sem isso. Mas enfim. Tem dado super certo o nivelamento. E eu gosto porque é uma estratégia específica para lidar com o aluno ruim. As universidades públicas não tem tantos alunos ruins, mas tem também alunos "problema". E o sistema de créditos resolve bastante isso. O sistema de grade emperra demais etc. Porque o aluno passa a ter problema na grade inteira etc. Acho que é óbvio. O aluno "problema" das públicas fica vagando lá. Por anos. Mudando de curso, graduando-se em 7 anos. O aluno das particulares fica carregado e transforma o professor num picareta. Eu tenho alunos que carregam 17 disciplinas num período. Entre DPs e adaptações. Ninguém no mundo acha viável isso. Todos sabem que não é possível dar conta. Mas existe. Por puro tecnicismo etc. Há uma possibilidade no estatuto e essa possibilidade um dia se materializa, né? Outro problema é aluno que tranca o curso e volta milênios depois. E a grade tá toda alterada etc. Um desses alunos alega ter assistido dois filmes no Cineclube, em 2005. E quer o certificado. Eu tinha um sistema de emitir certificado quando o curso acabava. Assinava ali, na hora, com os alunos na sala. E agora fico atrás de arquivos velhos e listas de presença do tempo do onça. Chega um caso desse tipo pra mim quase todo dia. E pros outros professores também. Claro que eu sei que é problema meu. E eu acho que eu tenho que achar a bendita lista de presença. E adaptar a grávida e o aluno que muda de curso todo semestre. Também tenho que ensinar Revolução Industrial pra quem não sabe o que é. Não é esse o caso. O caso é que eu praticamente só faço isso na vida. A revisão do exame era paga na faculdade. Esse semestre deixou de ser. Porque o aluno tem o direito de ver uma prova tão importante quanto o exame final. Daí todos os alunos reprovados pediram revisão de exame. E assim vai. Tudo pra entrar no tema em si desse post. Que não é sobre isso que eu falei. É sobre o resultado do MEC. Do ranking das faculdades. Que foram divididas em G1, G2, G3, G4 re G5. A faculdade que eu dou aula é uma faculdade G3. E eu entendo a chiadeira. Porque nós somos G4 em estrutura e corpo docente. Caímos pra G3 porque nossos alunos são muito fracos. Chegam pra gente muito fracos. É outro aluno. Não é o mesmo aluno das G5. Em alguns cursos somos G5 em todos os quesitos, menos desempenho dos alunos. Principalmente nos cursos mais técnicos, né? Enfermagem, Farmácia. A gente tem nível de excelência nesses cursos. O aluno acaba se saindo melhor. E isso é tão problemático também. Porque os cursos de humanas demandam um preparo do aluno que os cursos de saúde não demandam. E fica a impressão de que a área de saúde é que é séria e tal. Inclusive o MEC acha isso. E aplaude iniciativas bobas desses cursos. E TCCs tacanhas. Os alunos da Fisioterapia lidaram com um problema. Foram fazer fisioterapia em pacientes com hanseníase e notaram que eles estavam subnutridos. Daí os alunos de saúde se juntaram e fizeram campanha de arrecadação de alimento. E todo mundo achou o máximo. E eu também achei, que fique claro. Porque sempre parece que a gente é favor de pessoas com câncer de pulmão, passando fome e abortando sem parar. E eu não sou a favor dessas coisas. Mas, né? Não é uma atividade acadêmica isso. E não é também aquilo que o MEC fala. De aproximar a universidade da comunidade. Não é isso. É apenas um ato de solidariedade. E que bom que tenha sido feito. E eu doei montes de alimento. Mas o MEC acha que é algo. Mesma coisa com os alunos da licenciatura. Que o MEC acha que tem muita teoria e pouco prática. E querem que eles "adotem" salas de ensino médio e fundamental. Ai, francamente. Eles nem sabem nada direito. Adotar o quê? Vai aprender biologia, o professor de biologia. Mas isso é voto vencido meu. Que a tendência é mesmo considerar que toda informação está disponível para o professor. E que ele precisaria mesmo ser craque nas técnicas de ensinar etc. Fugi do assunto de novo. O G3. Então. É errado isso de G3. Porque ficou uma categoria imensa. Com centenas de faculdades. E elas não estão todas no mesmo nível. Quando é criada uma categoria dessas, a gente não consegue enxergar as coisas. Tipo. Qual é o problema da minha faculdade? Eu digo que é o aluno. Mas, né? Não vale nada isso. É puro achismo meu. Vira tudo uma coisa só. E quem trabalha com educação sabe. O nosso trabalho é um trabalho de exceção. A gente vive de exceções. As normas gerais nunca cabem em lugar nenhum. E o governo estadual e federal vivem disso aí. De criar modelos que são impraticáveis. Ou que só seriam praticáveis se vivessemos de aluno médio. E eles são a maioria. Mas são engolfados e somem. Aí quando saem os resultados de qualquer coisa, a gente fica sabendo o que já sabia. Que a maioria das faculdades é meia-boca. Uma parte significativa é horrorosa. E que as excelentes são as públicas. Um diagnóstico aí que todo mundo já tinha. O caso que eu quero dizer é assim. É preciso dividir todas as escolas em camadas. Sem contar com o aluno. O aluno deveria entrar depois na análise. Porque fica uma coisa assim. Todo mundo é a favor da inclusão. Mas ela "sobrou" pras particulares. As públicas fazem sua seleção. A gente não faz seleção. As públicas tem critérios. A gente inclui. E assim por diante. E eu não acho que a pública tá errada. Pelo contrário, acho que tem que se manter ali, como centro de excelência. Nem é esse meu ponto. Meu ponto é que essas avaliações são a respeito do G3. O G5 e G4 estão salvos. G1 e G2 dependem de mil coisas (principalmente região). Estamos falando das faculdades que estão aí, desafogando o sistema etc. O que fazer com ela. A repercussão midiática é muito em cima das públicas que não foram tão bem. E não é o caso, na minha opinião. O caso é como lidar com essas G3 que estão atoladas em mil coisas e estão fazendo a inclusão e não tá dando tão certo.
Engraçado o negócio das cotas. Que é um lampejo de inclusão das públicas. E eu vejo um argumento. Dizendo que depois os alunos não conseguem acompanhar o curso. Veja o que eu estou falando. Todo mundo acha muito natural mandar esse aluno pra mim. Na hora de incluir, ninguém quer. Porque é difícil mesmo. E ninguém sabe ainda como fazer direito. Estamos construindo isso. Na base da tentativa e erro. Está num momento empírico do negócio. Qualquer teoria ainda é balela

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