TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sábado, 17 de outubro de 2009

Escola, professor...

Do Blog da Mary W.
Imagem: Gustave Igler. Left To Their Own Devices, 1881

Eu acho mais ou menos assim. Eu já falei isso outras vezes. Eu acho que "acabou" a escola. E os professores "acabaram" também. Mais ou menos como quando apareceu a imprensa e muitas pessoas começaram a ler etc. E aí várias coisas aconteceram. Tipo romantismo e todo um público leitor e, então, coisas escritas. Revolucionou tudo isso. Mas. Um monte de gente não aprendeu a ler. Um monte de gente não é leitor de nada. E agora isso acabou. Aconteceu outra coisa. A internet mesmo. E as pessoas estão se virando aqui sem saber ler ou escrever. E há uma preocupação em inseri-las e tal. Mas ao mesmo tempo a gente vê as campanhas do governo dizendo "Meu amigo livro" e sabe que não vai rolar. Já foi isso. E nunca todo mundo participou da cultura letrada. E ela já acabou. Eu acho que isso vai acontecer com o direito ao aborto também. Daqui a pouco vai haver uma tecnologia reprodutiva que vai colocar um fim em gravidez indesejada. E que bom, claro. E a luta pela legalização vai passar sem nunca ter conseguido fincar-se de fato. E a escola é assim, eu acho. Como esses dois exemplo aí. Um monte de gente não teve acesso. Um monte de gente não tem cultura escolar. E à medida em que pensamos estar caminhando para universalizar o direito à educação através da escola, ele escapa dela. Não tá mais na escola a educação. Acho que o Giddens que usa a expressão "crise das múltiplas autoridades". Pra falar de como pai e mãe não estão mais com essa corda toda por conta das várias referências que povoam o mundo da criança (e que antes não povoavam). Eu acho que o professor foi ferido de morte nessa crise aí. Ele não é mais referência. Ele não é mais respeitado. Ele não tem mais nada para ensinar. E assim por diante. Eu acho mesmo que o sistema escolar só fica em pé por conta dos laterais. Lugar pra mãe deixar o filho. Mercado de trabalho imenso. Sem qualquer mimimi de falsa modéstia. Hoje. Quem precisa de professor de sociologia? Quase ninguém. Não tô falando de mestrado e doutorado. Que aí eu acho necessário ainda. Mas graduação, não acho. As melhores experiências que eu tenho com aluno são todas de ordem "existencial". Você acaba "inspirando" o cara. Mas não ensina bulhufas. O que eu ensinei esse ano? De mais legal? Eu ensinei duas alunas a fazerem uma monografia sobre mulheres tratoristas numa usina de cana. Quebrou tudo o trabalho delas. Entrevistas incríveis e análises bastante boas. Elas vinham aqui na minha sala e eu ficava mostrando uns livros pra elas. Olha como essa fulana fez. Fiquei encadeando. Primeiro fala de trabalho, depois inserção da mulher no mercado e aí trabalho rural. Daí olhava e não gostava. E mudava. Daí ensinei a fazer entrevista. Com livro dos outros. Palpitei no questionário. E elas foram pra campo e arrebentaram. Deu tudo certo. Tudo. Mas quando que você pode fazer isso? Sentar com duas alunas e ler Heleieth Safiotti com elas? Nunca. E não quero cair naquela tonteira lá. Que educar é ensinar a fazer pesquisa. Porque eu acho que existiu um lugar para a docência pura etc. E tem muita monografia de DOER. Que você não consegue nem corrigir. Mas essas meninas conseguiram fazer algo. Tem uma outra que fez uma revisão de literatura sobre maioridade penal. Nossa. Ficou ótima também. Ela quis ver assim. Como os diferentes profissionais que lidam com menor infrator se posicionam. Daí entrevistou um monte de gente de conselho tutelar e autoridades etc. Pra ver como é o racha ali e tal. Eu não entendo nada desse assunto, ficava só corrigindo mesmo. Uma aluna bem mala, ela. Vinha todo dia encher com alguma coisa e pedir pra eu ler um negócio. Ela se empenhou um monte. Eu gostei do trabalho dela. Mas não tanto quando o das tratoristas. Por isso nem cito muito. Nem sei mais o que eu tô falando. Assim, acho. Claro que eu contribuo na vida dos meus alunos. Mas são poucos diante dessa estrutura toda. Dentre milhares, só um pingo está interessado em cultura escolar. Como se a cultura escolar fosse tipo querer estudar latim. Sei lá. Uma coisa desse tipo. E eu tenho cada vez mais certeza que não é realmente importante. Eu gosto de pessoas que têm cultura escolar. É meu tipo de gente. Mas não indica nada isso. Nem mais inteligência, nem mais dinheiro. Veja que tô falando de cultura escolar e não de anos de escolaridade. Que contam, claro. Porque o ÚNICO lugar que tem pra ir aprender alguma coisa é a escola. Daí conta no mercado e blá. Mas cultura escolar não rola mais. Professor de curso técnico tá em ascensão, Mary. Isso que você pode me dizer. Que existe um tipo de ensino nos moldes que conhecemos e que apenas o que está sendo ensinado é que mudou. O professor de filosofia me explicou isso maravilhosamente bem no dia em que ele foi demitido. Mas eu não quero falar sobre isso. Ele foi demitido em junho e eu não consigo falar sobre, aqui. Mas tem a ver com isso. De fim da filosofia e da sociologia como conhecimentos escolares. E aí pode enfiar esse post no buraco. Porque a cultura escolar está firme e forte. Só o conteúdo que eu sei é que saiu dela. Enfim. Eu discordo dele nisso aí. Mas não queria falar porque já comecei a chorar. Não lido bem com a demissão dele. E tô na faculdade agora. Tentando faz duas horas terminar esse post. Colocar os negritos e tal. Cada hora chega um.
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Eu estou certa de que conhecimento é sinônimo de tecnologia. Ou melhor. De conhecimento técnico. Então falam de Sociedade do Conhecimento. Eu truco. É Sociedade do Conhecimento Técnico.
A Informação também é técnica. Acho que informação tem mais a ver com capacidade de armazenar dados. Por isso prefiro o termo Sociedade do Conhecimento. Porque conhecimento guardado vira informação. Alguém diz que sempre tivemos conhecimento, que o quente agora é termos transformado o tal em informação. Não concordo com quem diz isso.
Tem o sentido senso comum da palavra Informação. E eu gosto demais disso, em tempos de twitter. Informação, no twitter, é saber de Katylene e de Maitê Proença e tal. Eu sempre tô correndo atrás dessa informação. Veja bem, se pegarmos por aí. Veja bem onde está a cultura escolar. Todo um mundo à nossa frente. Um bando de letrados. E a gente fica atrás de moça da laje. Essa que é a verdade.

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