TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Do SOLDA
O multifacetado Luiz Antônio Solda se reinventou depois de enfrentar e superar uma depressão, publicou livros, mantém um blog e desenha muito. Foto de Daniel Castellano.

Solda faz fusão de desenho com letras, em estilo
inconfundível e traço solto.
Luiz Antônio Solda faz sucesso no Piauí, apesar de muita gente não acreditar que o estado nordestino seja real. O dramaturgo Nelson Ro­drigues costumava dizer que o Piauí não existe. Mas o artista paulista radicado em Curitiba participa todos os anos, desde 2002, do Salão Internacional de Humor do Piauí, um dos mais importantes do país, que chegou a sua 26.ª edição em julho passado.
Em Teresina, entre goles de suco de caju, em meio aos habituais 40ºC, Solda distribuiu autógrafos, posou para fotos, concedeu entrevistas, ministrou cursos e viveu no estado em que costuma viver: o estado de poesia.
O olhar dos outros Saiba o que cartunistas, desenhistas e outros profissionais da área falam do Solda
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Albert Piauí
Presidente da Fundação Nacional do Humor.“Desde 2002, o Solda participa do Salão Internacional de Humor do Piauí. É uma honra para o evento e para o estado do Piauí. O Solda é um dos mais importantes humoristas gráficos do Brasil. Tem um traço elegante. E escreve muito bem. O blog do Solda é um dos melhores do país. Ele é um ícone da cultura brasileira.”
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Ademir Paixão
Chargista da Gazeta do Povo.“Desde que comecei a fazer charge, cartum, desenho, sempre acompanhei o trabalho do Solda. Aprendi muito com ele. É um artista genial, brilhante. Depois, o conheci e hoje sou amigo do Solda. O talento dele é tão admirável quanto o caráter. É um exemplo, um mestre.”
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Pryscila Vieira
Chargista, desenhista e ilustradora.
“A primeira palavra que penso quando escuto o nome Solda é talento. Ele é um gênio. Na década de 1990, coordenei a Bienal de Humor do Mercosul, aqui em Curitiba, e ele participou. Tenho o maior orgulho de ter conhecido o Solda, que hoje é meu amigo.”
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Benett
Cartunista da Gazeta do Povo.
“O Solda é tão iluminado que seu DNA brilha no escuro.”
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Marco Jacobsen
Cartunista, chargista e ilustrador.“O Solda é o único cartunista que eu conheço que consegue fazer humor com poesia e poesia com humor.”
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Tiago Recchia
Cartunista da Gazeta do Povo.“O Solda, visto assim de lado, parece superficial. Visto de outro ângulo qualquer, é profundamente genial. Cartunista-poeta, ou vice-versa, corre o risco a torto e a direito para dizer aquilo que pensa (ele pensa sempre ontem o que vamos pensar amanhã). Kamikase que não se espanta, gasta de uma a três canetinhas diárias de nanquim como se fossem espadas para decepar/dissipar o mau humor.
Olha aí, mestre, fiz minhas as tuas palavras. Mas devolvo logo, porque todos precisam delas.” “Um poeta sentado/ é um poeta/ em pé de guerra”, escreve Solda em um de seus haicais (outros aparecerão ao longo deste texto).
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A esposa, Vera Prado, conta que o marido dorme das 13h32 às 14h37. “É a hora em que ele está em "estado de charge", diz Vera. Depois do almoço, Solda deita durante aproximados 60 minutos para pensar nas charges que tem de fazer diariamente. Mas da cama até o estúdio, que fica nos fundos de sua casa, tudo o que ele havia imaginado, as idéias para transformar em desenhos, se desmancham no ar, passo após passo. “Na verdade, eu faço mesmo uma siesta”, diz.
“Eu sou genial!/Sempre profundo em minha cultura/ superficial.”
Em 1965, Solda chegou, diretamente de Itararé (SP), para morar na Vila Hauer, com o seu pai, Eurides, já falecido. O que o menino mais gostava era comprar discos, livros e camisetas. Mas ele teve de fazer uma opção. O salário, que ganhava gastando sola de sapato como contínuo, teria de ser investido na mensalidade da escola ou na aquisição de discos, livros e camisetas. Ele optou pela segunda alternativa.
“Sensacional/ Minha amargura não sai/ no diário oficial.”
A formação oficial foi substituída, anos depois, por uma espécie de universidade livre, informal e, acima de tudo, divertida. O endereço: Rua São Francisco, 50, no Setor Histórico. Era a casa onde moravam os irmãos Luiz Antônio e Manoel Carlos Karam. Solda começou a frequentar o amplo casarão e não demorou para ganhar o direito a uma cama.
“A vida passa assim:/ na metade/ já estamos no fim.”
Em 1973, Karam fundou o grupo Margem, que viabilizou experiências inusitadas no palco do extinto Teatro de Bolso, na Praça Rui Barbosa. Solda atuava como ator, tocava baixo, fazia cenários, limpava o palco e colava cartazes em muros de Curitiba, quando era possível caminhar sem medo pelas ruas da cidade durante as madrugadas. Solda e Karam compravam um mesmo disco de vinil: cada um era dono de um dos lados.
“Este é um poeminha/ popular/ favor agitar/ antes de usar.”
O escritor Wilson Bueno conta que somente o Solda era chamado publicamente de gênio por Paulo Leminski. Solda e Leminski dividiram muitos momentos. Trabalharam lado a lado em diversas agências de publicidade nas décadas de 1970 e 1980. Leminski deixou o traço de Solda mais poético. Solda impregnou de humor a poesia de Leminski.
“Torta minha caneta/ o soneto me saiu/ meio Emiliano Perneta.”
Se, como diz o clichê, não existe almoço grátis e todo o excesso cobra o seu preço, um dia Solda recebeu de seu médico uma sentença: se continuasse bebendo, teria, no máximo, três meses de vida. Solda saiu do consultório, foi até um bar e tomou o seu último drinque. Isso há mais de duas décadas. Desde então, só bebe refrigerante em eventos sociais, e café descafeinado e água em casa. Parou de fumar faz três meses.
“Não se iluda, meu amigo/ nesta vida/ não tem poema para tudo.”
Solda saiu de cena durante a década de 1990. Submeteu-se a um tratamento para depressão em clínicas e hospitais. “Foi uma temporada no inferno”, lembra. Em 2002, Robert Amorim e Gilson Camargo bateram palmas na porta de sua casa, no final de uma avenida no Conjunto Solar, no Bacacheri, e o convidaram para fazer uma exposição no Beto Batata do Alto da XV.
“Lá em cima o céu,/ e eu aqui,/ debaixo do meu chapéu.”
O retorno foi, sem exagero, triunfal. Em 2002, Solda publicou os livros Almanaque do Professor Thimpor e Kamikase do Espanto. Dois anos depois, saiu o seu “Livro Branco”, com apresentação do Jaguar, que a partir do significado da palavra solda (ligar, unir) escreveu o seguinte: “Seu cartum fatalmente teria que desaguar nas letras. Ele (Solda) é um cartunista de letras.”
“Eu, assim de lado/ pareço/ um retrato falado.”
Ele tem um blog que recebe mais de 3 mil visitas por dia e alia textos poéticos, imagens, agenda cultural e difusão de ideias.
“Em verdade vos digo:/ nada tenho/ contra meu umbigo.”
No flamenco, quando a bailadora transcende, dizem que ela está com o duende. Há quem diga que, se está “inspirado”, é porque “baixou o santo”. Outros falam que, para “algo” acontecer, é preciso deixar o passarinho pousar no ombro.
Solda, aos 57 anos, é assim: nunca procurou o pote de ouro no fim do arco-íris, nem deseja a mala cheia de reais. Espera, sim, o passarinho (a poesia) pousar em seu ombro.
E quer mais discos, livros e camisetas.
Marcio Renato Santos/Caderno G/Gazeta do Povo.
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Comentário: Lindo, muito lindo.
Algo em comum: em 1980 a 1982, dois anos de pura e impura depressão. Sarei, mas tenho equelas.

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