TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Imagem: Alfred Klubin
CLÓVIS ROSSI, 8.9.09 A impunidade da ignorância

Enviada pelo Grozny Arruda. Grata!


LONDRES - Pelo choque que me causou, repasso ao leitor o essencial de artigo do escritor espanhol Rafael Argullol para "El País". Começa relatando que alguns dos melhores professores universitários espanhóis estão se aposentando "precipitadamente". Cita dois motivos: "o desinteresse intelectual dos estudantes e a progressiva asfixia burocrática da vida universitária". Explico o sentimento de choque: não sei se a situação ocorre também no Brasil, mas sei que o caldo de cultura descrito por Argullol é parecido no Brasil (como, aliás, no resto do mundo). Os professores, escreve Argullol, "se sentem mais ofendidos pelo desinteresse [dos estudantes] do que pela ignorância". Acrescenta que um amigo lhe disse que "os estudantes universitários eram o grupo com menos interesse cultural da nossa sociedade, e isso explicava que não lessem a imprensa escrita, a não ser que fosse de graça, que não buscassem livros fora das bibliografias obrigatórias, ou que não assistissem a conferências se não fossem premiados com créditos úteis para serem aprovados". É o triunfo do que o escritor chama de "utilitarismo". Os estudantes são adestrados na "impunidade ante a ignorância", porque o conhecimento é um "caminho longo e complexo" e perde para o imediatismo da posse instantânea. Não tenho informações para afirmar se essa situação ocorre também no Brasil. É evidente, em todo o caso, que há ou houve recentemente uma discussão sobre a asfixia burocrática. Gilberto Dimenstein já comentou, tempos atrás, o fato de que professores de universidades públicas estavam se aposentando cedo e passando ao ensino privado. O utilitarismo e o predomínio do individual são características contemporâneas globais. Estamos nós também cevando "a impunidade ante a ignorância"?

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COMENTÁRIO: Os colegas que passaram para as universidades privadas deparam-se também com outra escuridão: a dos donos. Em Ribeirão Preto, contou-me uma colega que aposentou-se na USP de lá e está trabalhando em uma privada que os docentes em algumas dessas instituições estão ganhando por jornada. Éa terceirização que o Bresser Pereira apostou no governo do FHC. Explico: jornada: vc ganha pelos dias que dá aula, não contam sábado, nem domingo. Não é o professor horista. É pior.

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