TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 6 de setembro de 2009

A liberdade não mora mais aqui...




Em nome da liberdade, de Leonardo Ferrari, Curitiba. Veja o BLOG aqui.
Anúncio do torneio de tênis “US Open” in The New York Times Magazine, 30/8/2009.
A liberdade, mito, é linda. Porta de entrada dos famintos e desesperados, dos perseguidos e humilhados, dos feridos e angustiados, ela também é a porta de saída. O problema acontece na entrada e na saída. Na entrada porque, ao contrário da lenda, nenhuma liberdade foi dada a ninguém. Ela teve que ser duramente conquistada, selvagemente disputada, e, pior, tem que ser renovada dia a dia, ela não é permanente – nenhum italiano, nenhum negro, nenhum asiático ganhou nada. Tiveram de se organizar, arrombar portas à força, abrir janelas, windows, à unha. Já na saída, o problema é outro. É quando o mito se transforma, se encarna em uma causa e decidem sair com ela para libertar os fracos, decidem levá-la a dar uma volta pela Europa para derrotar o fascismo, bravo, exceto pelos excessos em seu nome, como Hiroshima, Nagasaki e tantos bombardeios desnecessários, para os alvos, evidentemente, como Dresden. Mas, hoje, quando a levam para o Iraque e para o Afeganistão, e ali ela é usada, abusada e estuprada, seu nome é apregoado em cada ação militar funesta, insensata, devastadora, aí dói demais. Nada foi aprendido com o Vietnã, a não ser novas técnicas para torturar, novas técnicas para dizimar melhor, novas técnicas para assassinar sem deixar pegadas. Técnicas, técnicas, técnicas. Nada de humanidades, zero.
Contra quem joga a liberdade? Quem escolhe seus adversários? Há vitória quando se dizima toda uma população civil indefesa? Dá para vibrar quando um voleio destrói noventa civis através de uma única bomba jogada ontem no Afeganistão por um bombardeiro alemão – ironia das ironias? Dá para torcer quando um simples smash liquida vilarejos inteiros, a história de vidas humanas nunca registradas, nunca divulgadas? Que open é esse que se abate pesadamente em cima de quem vive diferente, se veste diferente, pensa diferente, quer uma vida diferente? Sobre isso, convém lembrar o que diz John Le Carré sobre a guerra do Iraque em seu livro “Amigos Absolutos” (editora Record, 2005):

“Cada guerra é pior do que a anterior, senhor Mundy. Mas esta é a pior que já se viu no que diz respeito às mentiras. Não importa que tenha terminado a guerra fria. Não importa que estejamos globalizados, que sejamos multinacionais ou o que for. Enquanto soam os tambores e os políticos soltam suas mentiras, ali teremos os arcos e as flechas e a bandeira, a televisão vinte e quatro horas por dia para todos os cidadãos leais. Três hurras pelas explosões, e o que me importam as baixas enquanto elas permanecerem do outro lado? E não me venha com essa palhaçada da Velha Europa. Aqui nos encontramos com a América mais velha da história: fanáticos puritanos que assassinam os selvagens em nome do Senhor. O que existe de mais velho do que isso? Foi genocídio antes e é genocídio agora”.

John Le Carré in Amigos Absolutos, citado por Javier Valenzuela in La Aldea Global es una Novela Negra, El País, 31/7/2009.

Nenhum comentário:

Braziu!

Braziu!

Arquivo do blog

Marcadores

Eu

Eu

1859-2009

1859-2009
150 anos de A ORIGEM DAS ESPÉCIES

Assim caminha Darwin

Assim caminha Darwin

Esperando

Esperando

Google Analytics