CONCORDÂNCIA DO VERBO SER
José Augusto Carvalho, Professor Dr da Universidade Federal do Espírito Santo.
Na concordância do verbo ser devemos considerar basicamente a seguinte hierarquia: a) o pronome pessoal prevalece sobre qualquer classe de palavra; b) o substantivo referente a pessoas, próprio ou comum, prevalece sobre os outros; c) o plural prevalece sobre o singular e sobre os seguintes pronomes sujeitos: quem, tudo, isto, isso, aquilo, o. Se, contudo, houver dois pronomes pessoais, o pronome sujeito predomina na concordância (Ex.: “Você não é eu, e eu não sou você”.). Eis alguns exemplos que ilustram a hierarquia acima: Os donos da fazenda somos nós. Minha filha é os meus mimos. Esta menina é as esperanças da escola. Chico Anísio é os personagens dele. O Brasil são os brasileiros. O telhado eram palhas secas.
Obs.: Se o predicativo for parte do corpo, também é possível fazer a concordância com ele: Maria é dois olhinhos azuis. Maria são dois olhinhos azuis.
Se o sujeito for o pronome quem, a concordância se fará com o predicativo, conforme vimos: Quem são os interessados no negócio?
Se o predicativo forem as expressões pouco, muito, bastante, demais, dando idéia de quantidade, a concordância se fará no singular Ex: Um é pouco, dois é bom, três é demais. Dez reais é pouco para comprar uma casa. Cinquenta quilômetros é muito para uma maratona. Três colheres de sopa já é bastante para matar a fome dele.
Obs.: Com o adjetivo suficiente funcionando como predicativo, o verbo poderá ir para o singular ou para o plural, dependendo da flexão desse adjetivo. Ex;: Cem reais é suficiente para o que ele quer comprar. Três livros são suficientes para meu lazer de uma semana.
O verbo ser relacionado a expressões ou a idéias de tempo, distância e medida concorda com o numeral: É uma hora. Daqui até minha casa são vinte quilômetros.
Na acepção de tempo, aparecendo as expressões perto de, cerca de, pode-se usar o singular ou o plural. Ex.: Era perto de duas horas. Eram cerca de duas horas. Nas datas, a concordância deve fazer-se com o numeral se a palavra dia não estiver expressa (há um equívoco oriundo de uma lição do livro de 1961, Manual de Expressão Oral e Escrita, de Mattoso Câmara Júnior, renegada por ele mesmo, posteriormente, na segunda edição, mas generalizada entre gramáticos que pressupõem indevidamente a elipse da palavra dia e admitem a concordância tanto no singular quanto no plural): Hoje é dia 15. Hoje são 15. (É incorreto, portanto, dizer-se “Hoje é 15”.Cf. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999, p. 558)
A expressão de realce é que é invariável se os elementos que a formam estão juntos; se estiverem separados, a concordância se fará normalmente, segundo as regras gramaticais. Ex.: “As rosas é que são belas./ Os espinhos é que picam. / Mas são as rosas que caem./ São os espinhos que ficam.”
Com títulos articulados ou nomes de países com artigo, a concordância do verbo ser se faz com o artigo. Admite-se, segundo Evanildo Bechara (Moderna gramática portuguesa. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. p. 564-5), a concordância com o predicativo no singular só com títulos. Ex.: Os Lusíadas são (é) um belo poema. Os Estados Unidos são um país poderoso. Se o verbo do predicado não for o verbo ser, a concordância se fará obrigatoriamente com o artigo dos títulos: Os Sertões contam (plural) o episódio histórico de Canudos.
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