TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

terça-feira, 16 de março de 2010

Da Mary Blog A feminista

Eu não ia nem assistir Avatar. Eu não me interesso muito por filme de fantasia. E nem me interessava por ficção científica. Cada vez me interesso mais. A nossa sociedade foi ficando tão boba e os anseios ocidentais são tão idiotas que só filmes desse tipo dão conta de retratar toda a estupidez do imaginário.
Eu gostei demais de Avatar, esse é o ponto. Primeiro por conta desse negócio de fazer o avatar dos nativos. E toda essa construção que a gente tem de diferença e igualdade através do corpo. É sempre a partir disso que vamos montando o nosso quadro de afinidades. E aí pra ser na'vi você tem que ser azul. E depois, no final, aquilo de tentar levar a cientista e o Jake pro corpo dos na'vi pra sempre e tal. Veja que eu pensei mesmo que Shrek e mesmo A Bela e a Fera eram um marco da superação do corpo. E volta esse resgate todo e tals. Eu gosto muito disso, de olhar pra isso. Mas o melhor do filme, pra mim, foi constatado a partir de um comentário do meu irmão. Que assistiu comigo. Quando avisam os na'vi que os americanos vão invadir. E eles não temem o suficiente. Meu irmão disse "esses na'vi são uns tontos, eles tem que fugir". E eu acho que esse é o xis da gaita de todos esses filmes a respeito da eliminação sistemática do Outro. É que o Outro nunca tem a menor ideia. Do tamanho da maldade na nossa cultura. O quanto somos capazes de ser maus e de não ter escrúpulo. Acho que a gente relativiza tanto pra dar conta mesmo. Da nossa flexibilização moral. Que é quase infinita. E então ninguém é tonto. Nem na'vi nem Incas nem ninguém. Eles apenas não conseguiram imaginar o tamanho do Mal. Porque é realmente uma construção social muito bem engendrada, a nossa maldade. Ela não é da natureza humana. Nós tivemos um trabalho imenso para construí-la e isso nos tornou imbatíveis mesmo. Todos os confrontos com o Ocidente simulam algum tipo de combate inteligível, né? Então temos os EUA fazendo isso e o Iraque respondendo com aquilo. Uma coisa assim. E de repente. Degringola. Todo mundo se lembra da primeira noite de ataque dos EUA ao Iraque. Aquilo que põe fim a qualquer tentativa de interação etc. É avassalador. E com tudo é assim. A empresa vai lá e conversa com a aldeia de pescador. E o líder dos pescadores fala isso, o porta-voz da empresa fala aquilo. E aí panz. Num belo dia são tratores e motosseras passando por cima. E eu acho que é isso que mais incomoda todo mundo por aqui. A gente sabe que toda negociação, todo diálogo é uma ilusão. E aí aquele chefe dos fuzileiros no filme. Impaciente com a simulação. E ele fica num papel de vilão, mas na verdade é o herói. Porque todo mundo ali conhecia o desfecho e só ele tratava com transparência. Então eu gostei muito de toda essa construção no filme. Que a gente já sabe o desfecho e assiste ele ser adiado e tals. Como todo mundo, eu acho que o final não deveria ter sido feliz. E embora eu ache que ainda é recorrente, discordo demais do "amor pela natureza" como alternativa para a maldade. Parece ser a única que encontramos. E então o final é sempre pobre. Se eu acho que a eliminação do Outro pelo ocidente deve ser ainda discutida, considero que precisamos de outras alternativas para o incômodo. E eu não tenho ideia de qual seria. Os dois focos de resistência "humana"* também me agradaram. A cientista pelo motivo óbvio. O irmão da Phoebe chega a verbalizar. Essa merda paga a sua ciência. E isso é um ponto. Porque essa ideologia de combate à maldade através da natureza, acaba combatendo a própria ciência. A gente sabe que a ciência é o maior pilar do capitalismo e não é possível que ela seja usada para outros fins que não o da eliminação dos obstáculos para o capital. Introdução ao marxismo de boteco, eu sei. Mas é a pura verdade. O Jake porque os motivos dele são todos extremamente individuais. Primeiro ele quer andar. Depois ele se apaixona por uma na'vi. O único papel que vale a pena é o da moça que pilota o helicóptero. Ela seria a única antissistêmica. E veja que ela não fez papagaiada de vestir avatar azul nem nada. Ela apenas se opôs e tal. Como a gente pensa que faz. Nós pensamos que essa lógica da maldade acontece fora da gente e tal. Enfim. Eu gostei do filme por esses motivos. E por aqueles outros. Eu gostei da rede em que eles dormem. E dos troncos da floresta. Achei bonito.


*Na verdade, humanos norte-americanos.

Um comentário:

educador que não se cala disse...

Olá Marta,
Sinceramente eu não vi o filme, pelo mesmo desinteresse pelas fantasias americanas. Mas recebi recentemente em um dos grupos de e-mail que participo, uma discussão em cima do texto de Luis Bolognesi pro Estado de SP. Segue trechos do texto e um comentário que chamou minha atenção

"Quem viu a cerimônia, percebeu na hora que a indústria da Guerra não poderia sair derrotada pela indústria do cinema...ambas muito amigas desde sempre.
A mudança não foi dessa vez ... Mas um dia a casa cai....
;-)

E ganhou a máquina de guerra
Filme vencedor transforma os assassinos que dizimam culturas em heróis-santos

Análise,
LUIZ BOLOGNESI, ESPECIAL PARA O ESTADO

POLARIZAÇÃO - O abraço do derrotado Cameron na ex-mulher vitoriosa, Kathryn: o filme dela não passa de “caubóis contra os apaches”

Ao contrário do que parece à primeira vista, a polarização entre Avatar e Guerra ao Terror não traduz uma disputa entre cinema industrial e cinema independente, nem batalha entre homem e mulher. O que estava em jogo e continua é o confronto entre um filme contra a máquina de guerra e a economia que a alimenta e outro absolutamente a favor, com estratégias subliminares a serviço da velha apologia à cavalaria.
(...)
Mas calma lá, cara pálida, uma incoerência desse tamanho, você acredita que passaria despercebida? O general americano, vilão? As companhias americanas que extraem minério debaixo das florestas tratadas como o império das sombras? Alto lá. Devagar com o andor, mister Cameron.
Aí, alguém chegou correndo com um DVD na mão. Vocês viram esse filme da ex-mulher do Cameron? Não, ninguém viu? Então vejam. É sensacional. Ao contrário de Avatar, nesse DVD aqui o soldado americano é o herói. Aliás, mais que herói, ele é um santo que arrisca sua própria vida para salvar iraquianos inocentes. Jura? Temos esse filme aí? Sim, o pitbull americano é humanizado e glamourizado, mais que isso, ele é santificado(...).
No filme de Cameron, os na”vi azuis podem ser os apaches que derrotam o general e expulsam a cavalaria americana. Mas isso é apenas uma ficção. Na vida real do Oscar, a cavalaria precisa continuar massacrando os apaches."

Bem, o Luis tece seus comentários ressaltando os pontos positivos do Avatar, segue o comentário:

"Achei bem legal o artigo.
Só que pra mim Avatar é também propaganda bélica americana. Tudo bem que no final o exército perde, mas isso é só lá no longínquo final! Durante o todo o filme acontece o desfile de toda a parafernália de equipamentos de guerra americanos: suas naves, suas bombas, suas roupas especiais, seus monitores transparentes, sua tecnologia de ponta... e o James Cameron até mal da Venezuela conseguiu falar ... isso num filme intergalático!
Quando acabou o filme eu não consegui me recordar da imagem da bandeira americana ter aparecido durante toda a sua exibição...será que não apareceu mesmo?? Que milagre!!! Talvez também aí Mr. Cameron tentou aliviar pros seus compatriotas mas pelo jeito não deu certo. E por que? Porque, no fundo, com bandeira ou sem bandeira, todo mundo sabe que era o exercito americano... e pra mim, nosso subconsciente vai se lembrar muito mais de todo o poder do exército durante todo o decorrer do filme do que de uma vitoriazinha forçada dos nativos no final...afinal, blockbuster que se preze tem que ter happy end né!
Inácio"
Cordialmente,
Educador que não se cala! (em Greve!)

Braziu!

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