TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Gerações ...

Do blog Água Lisa, Portugal AQUI
Para esses mesmos, os “gentis amigos que conservais as mãos tão puras” e que descem as baínhas já curtas das calças do estalinismo serôdio. Como essa deputada Rita que tirou uma licenciatura em ciências políticas e ainda hoje deve pensar que Kolima era a marca de pasta de dentes vendida nos armazens do povo da ú-érre-ésse-ésse. E para mais um punhado de outros tantos, aqueles que morrerão tão comunistas que jamais lerão um livro que fale de Kolimá, lá por coisas, numa espécie de pressentimento.
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do Blog A natureza do mal AQUI
Varlam Chalamov (1907-1982) viveu uma vida impar, num século cruel. Prisioneiro do Gulag siberiano, em Kolimá, partilhou condições de detenção no limite da resistência humana e, felizmente, sobreviveu para contar. Alguns escreveram que, depois do Holocausto, a poesia era impossível. A poesia e todas as disciplinas criativas que transmitam qualquer ilusão sobre a existência de um princípio moral que, mesmo de forma mitigada, governe as vidas humanas. Quando leio Relatos de Kolimá alguns amigos olham-me com uma expressão onde adivinho tédio, preocupação, reticências. Tédio porque eles sabem tudo sobre a destruição a que se entregaram os avós e a memória do holocausto, como a do Gulag, são hoje instrumentos de luta ideológica e politica. Preocupação por temerem que me ponha a ler excertos, prosélito insuportável. Reticências sobre a qualidade literária de textos de denúncia.
Relatos de Kolimá, um pequeno livro da Relógio D’Àgua de 2000 e que, em Espanha, a editorial minúscula, de Barcelona, edita em 6 tomos, é um livro sobre os homens em situação extrema. Sobre a forma como os homens se comportaram, num tempo em que razão, solidariedade e justiça pareciam suspensas e o que contava era saber resistir à fome, à sede, ao frio, à doença e sobretudo à maldade e à banalidade do mal.
A escrita é poderosa, seca, pobre de adjectivos. A realidade descrita é tão brutal que só um absoluto despojamento narrativo podia torná-la suportável.
Os relatos de Kolimá são uma obra fantástica da literatura russa, um fresco de personagens multifacetadas procurando sobreviver . É também uma narrativa difícil de ignorar. Foi possível, sim, delicados amigos humanistas, gentis amigos que conservais as mãos tão puras. Eu sei que virá o claro dia e que toda esta gente já morreu, as vítimas e os algozes, se os houve, pois todos cumpriam ordens, nada sabiam, nem viam ou cheiravam. E sei que uma ideologia não pode ser culpada se alguns a usaram para justificar a velha exploração de uns homens pelos outros. Mas esta ideologia da classe messiânica, da classe contra classe, do partido de classe, da vanguarda iluminada, vinha mesmo a calhar. E Kolimá existiu entre o final dos anos 20 e o início dos anos 60. Nos campos de Kolimá, em temperaturas de Inverno sempre inferiores a -10ºC e muitas vezes a -30ºC, trabalharam na exploração mineira milhares de “inimigos do povo”, enviados sem julgamento ou com processos sumários, para os campos de trabalho, em viagens que podiam durar 3 meses. Eram entregues ao frio e à fome, à violência dos prisioneiros de delito comum, dos guardas e do complexo sistema de regras do Gulag. A sociedade responsável por esta aberração queria construir um homem radicalmente novo. Como aconteceria anos mais tarde no Cambodja de Pol Pot ( a propósito ler um relato, também nas edições minúscula, da autoria de Denise Affonço, a que A.Muñoz Molina fez comovida alusão na Babelia de 31 de Outubro). Se hoje nos preocupamos com a fatalidade histórica que, em épocas de recessão económica, ressuscita a xenofobia e o racismo e , de Bruxelas a Moscovo reanima a estrema direita, é justo que se lembre também a vida destes homens. E que o mínimo que se deve exigir a alguns que temos ao nosso lado, por um princípio de coerência e para que o dialogo faça sentido, é, não já que furem os olhos como queria Kundera, mas que, ao menos, leiam Varlam Chalamov

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