TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Lulu, literatura, lendo...


A LULU escreveu:

"[...] Sabem, quando vocês falaram aquele negócio de livros tristes eu fui estudar. E li um livro que chama A teoria do Romance, do Georg Lukács. E uma das coisas que ele diz lá é que o romance moderno é mesmo necessariamente meio triste, ou é triste ou é entretenimento.Porque na modernidade o mundo não está dado, ele não é harmonioso, não tem um sentido a priori, uma essência que faz com que tudo tenha seu lugar e a vida faça sentido. É a gente que tem que construir o nosso mundo, sabe? Ir juntando as pecinhas partidas, criando nossos sentidos... Para o Lukács, o romance moderno trata justamente dessa construção: o herói do romance moderno tem que construir a si mesmo e ao mundo, criar um sentido para si e para as coisas do mundo. Esse é o grande tema.

O problema é que, para esse autor, essa construção necessariamente está fadada ao fracasso. Porque se o herói se adapta e vence no mundo ele perde algo de si mesmo, da sua verdade. Ele se torna, sei lá, ou um pouco hipócrita, um pouco cínico, sei lá... perde a sua integridade. Isso acontece por exemplo no romance Ilusões Perdidas, do Balzac, que mais tarde vocês deveriam ler.

Por outro lado, se o herói mantém sua integridade, ele não cabe no mundo. Aí vira por exemplo um inseto, coitado, como na Metamorfose. Ou mesmo no Apanhador no campo de centeio. O Holden acha todo mundo meio ridículo, meio patético, tem uma consciência e o Holden só se ferra. Tem um amigo meu que inclusive acha que esse romance é reacionário, porque no fundo diz que se você tem essa consciência hipertrofiada e quer ser fiel a si mesmo e aos seus valores, você vai acabar tendo um troço, sendo expulso de todas as escolas, e terminando numa clínica de repouso".


Comentário: Lulu, eu creio que só a literatura dá um sentido às nossas vidas. Eu que fiz um Curso de Ciências Biológicas e depois fui para as Ciências Sociais, carreguei meus livros de literatura no meio dessa formação. Na biologia eu penava vendo meus colegas devorarem livros e teorias da bio. Que alienação! Nas sociais de política. Devorei, degluti e senti a literatura. O apanhador no campo de centeio foi um livro que li aos 13 anos de idade. Fiquei apaixonada. Conheci, com o Holden, minha escola, aquela bedel infernizante, aquela professora de geografia que copiava o livro sem ficar envergonhada por nos enganar. Senti cumplicidade. (Anos mais tarde fui tomada de uma ternura imensa pela bedel da escola, a dona Cida. Ele era uma moralista de mão cheia. Era chata, feia, gostava de chavecar os alunos. Um dia, ela chegou em casa e viu seu marido na cama com a empregada de 20 anos. Teve um enfarte e morreu. Que dor ela não deve ter sentido, não? Fiquei comovida com essa história).

++++++++

Com o Sartre senti o inferno. Interessante: fui me desajustando. Ao concordar com os personagens dos livros fui saindo da "realidade real" até ir parar em um psicanalista! hehehehe. Mas, os psicanalistas também amavam os mesmos personagens! Encontrei minha turma assim. A literatura me levou a conhecer minha turma.


Quando chego em casa muito cansada, existencialmente quebrada... vou à minha estante de literatura. Os livros me devolvem o amor à vida. Por isso, eu adoro ler suas experiências com os alunos. Me vejo como aluna. Lá nos idos da década de 70 passeando na aridez de uma cidade interiorana como Porto Ferreira, com seus políticos escrotos, incultos e feios, com sua elite idiotizante ... no meio de livros encontrando uma beirada de mel, no prato cotidiano de nossa existência. Viva você e seus alunos! Viva a literatura!

2 comentários:

l disse...

Marta,
fiquei emocionada com esse seu escrito. Significou um monte para mim. Obrigada.

Anônimo disse...

Obrigado pelo mote, Marta. Aliás, você está certíssima em seu ofício: sempre aprendo muito vendo suas manifestações sinceras.

Braziu!

Braziu!

Arquivo do blog

Marcadores

Eu

Eu

1859-2009

1859-2009
150 anos de A ORIGEM DAS ESPÉCIES

Assim caminha Darwin

Assim caminha Darwin

Esperando

Esperando

Google Analytics