JULIE
Julie Murphy, 7 anos. Fotografia cortesia de Maria Fife, mãe de Julie, via Associated Press na reportagem de John Schwartz in The New York Times, 7 de agosto de 2010.
Ela tem 7 anos de idade e já encarna o espírito empreendedor que faz a América continuar a ser a terra a ser descoberta, a terra a ser inventada a cada dia. No entanto, no meio do caminho, nessa trilha que Huguinho, Zezinho e Luizinho já passaram, que o xarope do Tio Patinhas já correu, que o atrapalhado e maravilhoso, bem por causa disso, Pato Donald já tropeçou, ela se deparou com a pedra. Uma pedra dura, áspera, uma pedra chamada Estado-babaca. O que é o Estado-babaca? Vamos à história de Julie. Aos 7 anos de idade, lá foi ela com sua mãe vender limonada em uma feira de artes na cidade de Portland, Oregon. De repente, o encontro com o Estado-babaca à espreita, de emboscada, à sorrelfa, à socapa. Lá chegam os inspetores-gerais, funcionários-públicos gordos, vinte salários por ano, obesos de benefícios, lentos, pesados, com a lei no bolso, uma lei feita com capricho e rigor por quem nunca teve que vender limonada na rua, lei de nada, lei boba, lei minuciosa que deve ter custado ao Estado-babaca no mínimo vinte vereadores, quarenta deputados e dez senadores para ser aprovada. E a lei é severíssima. Diz esta lei que, para uma criança de 7 anos vender limonada a partir de agora neste Estado-babaca, é necessário uma licença temporária de restaurante, que custa 120 dólares. Aí chegamos ao cerne, ao fulcro, ao ápice da questão. É isso que o Estado-babaca exige para funcionar: mais dinheiro, mais taxas, mais impostos, mais multas. O Estado-babaca, gigantesca figura, grotesco elefante, Leviatã disfarçado de Bem Comum, se incomoda com essa menina, não suporta essa menina. Reparem que cada copinho de limonada custa 50 centavos. Para o Estado-babaca, não interessa. Se vire. É 120 dólares ou nada feito. Julie, ainda com os cachinhos presos, chorou ao ter que desmontar sua barraquinha de venda de limonada. Só depois da sua história ganhar as páginas da internet, virar piada no bendito twitter, é que o prefeito da cidade foi obrigado a pedir desculpas. Não sem frisar que a lei vai continuar e, é claro, o Estado-babaca vai voltar. Maior, com mais fiscais, com mais relações-públicas, com mais propaganda, com mais taxas e mais multas para quem ousar fazer qualquer coisa. Querida Julie, dessa vez eles venceram. Mas, espere, vejo um cachinho seu se soltar ao vento por causa dessa confusão, seus pés quererem mais movimento, suas lágrimas moldarem letras, sua dor virar desejo. Venceram?
Julie Murphy, 7 anos. Fotografia cortesia de Maria Fife, mãe de Julie, via Associated Press na reportagem de John Schwartz in The New York Times, 7 de agosto de 2010.
Ela tem 7 anos de idade e já encarna o espírito empreendedor que faz a América continuar a ser a terra a ser descoberta, a terra a ser inventada a cada dia. No entanto, no meio do caminho, nessa trilha que Huguinho, Zezinho e Luizinho já passaram, que o xarope do Tio Patinhas já correu, que o atrapalhado e maravilhoso, bem por causa disso, Pato Donald já tropeçou, ela se deparou com a pedra. Uma pedra dura, áspera, uma pedra chamada Estado-babaca. O que é o Estado-babaca? Vamos à história de Julie. Aos 7 anos de idade, lá foi ela com sua mãe vender limonada em uma feira de artes na cidade de Portland, Oregon. De repente, o encontro com o Estado-babaca à espreita, de emboscada, à sorrelfa, à socapa. Lá chegam os inspetores-gerais, funcionários-públicos gordos, vinte salários por ano, obesos de benefícios, lentos, pesados, com a lei no bolso, uma lei feita com capricho e rigor por quem nunca teve que vender limonada na rua, lei de nada, lei boba, lei minuciosa que deve ter custado ao Estado-babaca no mínimo vinte vereadores, quarenta deputados e dez senadores para ser aprovada. E a lei é severíssima. Diz esta lei que, para uma criança de 7 anos vender limonada a partir de agora neste Estado-babaca, é necessário uma licença temporária de restaurante, que custa 120 dólares. Aí chegamos ao cerne, ao fulcro, ao ápice da questão. É isso que o Estado-babaca exige para funcionar: mais dinheiro, mais taxas, mais impostos, mais multas. O Estado-babaca, gigantesca figura, grotesco elefante, Leviatã disfarçado de Bem Comum, se incomoda com essa menina, não suporta essa menina. Reparem que cada copinho de limonada custa 50 centavos. Para o Estado-babaca, não interessa. Se vire. É 120 dólares ou nada feito. Julie, ainda com os cachinhos presos, chorou ao ter que desmontar sua barraquinha de venda de limonada. Só depois da sua história ganhar as páginas da internet, virar piada no bendito twitter, é que o prefeito da cidade foi obrigado a pedir desculpas. Não sem frisar que a lei vai continuar e, é claro, o Estado-babaca vai voltar. Maior, com mais fiscais, com mais relações-públicas, com mais propaganda, com mais taxas e mais multas para quem ousar fazer qualquer coisa. Querida Julie, dessa vez eles venceram. Mas, espere, vejo um cachinho seu se soltar ao vento por causa dessa confusão, seus pés quererem mais movimento, suas lágrimas moldarem letras, sua dor virar desejo. Venceram?
2 comentários:
É...são apenas, taxas e mais taxas!Pagamos tantos impostos, IPVA... e um pedágio absurdo como no nosso Estado. R$ 16,00 a cada visitinha a Maringá...
abço fessora..
É isso aí, amiga, igual à babaquice no Brasil: crianças e adolescentes não podem trabalhar, mas podem ficar expostos a todo tipo de exclusão e abandono, até serem presos em cadeias comuns.
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