TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 10 de julho de 2011

Pensar dói!




Ontem ouvi na CBN local, Maringá, um radialista afirmar que a Universidade Estadual de Maringá tornou-se um OBSTÁCULO ao trânsito em Maringá. O que falar quer dizer? Que a única INSTITUIÇÃO DE ENSINO PÚBLICA DA CIDADE não ajuda os carros da cidade. Ideologia pura! Mas, talvez o radialista não conheça as questões mais duras que arquitetos e historiadores fazem dos carros nas cidades. Maringá orgulha-se do trânsito. Trânsito é sinal de cidade grande, progressista. É uma pena que o senso comum seja a tônica dos intelectuais da imprensa local.



Passo o texto do historiador André Gorz e do sociólogo Serge Moscovici:



A IDEOLOGIA DA CARRO A MOTOR por André Gorz



O que há de pior nos carros é serem como castelos ou mansões à beira do mar: bens luxuosos inventados para o prazer exclusivo de uma minoriamuito rica, os quais em concepção e natureza nunca foram direcionadospara o povo. Ao contrário do aspirador de pó, do rádio, ou da bicicleta, que têm seu valor de uso quando todos possuem um, o carro, como uma mansão à beira do mar, é somente desejável e útil a partir do momento que as massas não têm um. Por isso, tanto em concepção quanto na sua finalidade original o carro é um bem de luxo. E a essência do luxo é a de que ele não pode ser democratizado. Se todos puderem ter o luxo, ninguém obtém as vantagens dele. Do contrário, todos logram, enganam e frustramos demais, e é logrado, enganado e frustrado por sua vez. Isto é de muitíssimo conhecimento comum no caso das mansões à beira mar. Nenhum político ousou ainda reivindicar que democratizar o direito às férias significasse uma mansão com praia particular para cada família. Todosc ompreendem que se cada uma entre 13 ou 14 milhões de famíliasdevessem usar somente 10 metros da costa, tomaria-se 140.000km de praia para que todos tivessem sua parte! Para dar a todos sua parte teria-se que cortar as praias em tiras pequenas - ou espremer tão fortemente as mansões - que seu valor de uso seria nulo e sua vantagem sobre um complexo hoteleiro desapareceria. De fato, a democratização do acesso às praias aponta a somente uma solução: a solução coletivista. E esta soluçãoestá necessariamente em guerra com o luxo da praia particular, que é umprivilégio que uma minoria pequena toma como seu direito às custas detodos. Agora, por que aquilo que é perfeitamente óbvio no caso das praias não égeralmente visto da mesma forma no caso do transporte? Como a casa depraia, um carro também não ocupa espaço escasso? Não priva os outros queusam as estradas (pedestres, ciclistas, motoristas de ônibus, etc.)? Nãoperde seu valor de uso quando todos usam os seus próprios? No entanto háuma abundância de políticos que insistem que cada família tem o direito aomenos a um carro e que é até encargo do "governo" tornar possível quetodos possam estacionar convenientemente, dirijam facilmente na cidade, epossam viajar no feriado ao mesmo tempo que todos outros, indo a 70Km/h nas estradas, às estações de férias. A monstruosidade deste absurdo demagógico é imediatamente aparente,no entanto, mesmo a esquerda não desdém de recorrer a ela. Por que ocarro é tratado como uma vaca sagrada? Por que, ao contrário de outrosbens "privados", ele não é reconhecido como um luxo anti-social? A resposta deve ser procurada nos dois aspectos seguintes da atividade dedirigir. A massificação do automóvel efetua um triunfo absoluto do ideologiaburguesa no nível da vida diária. Dá e sustenta em todos a ilusão de quecada indivíduo pode procurar o seu próprio benefício às custas de todos osdemais. Leva ao egoísmo cruel e agressivo do motorista que em todos os... Leia mais aqui



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Moscovici (do livro A natureza, Editora Mauad)



Nosso psiquismo está ocupado pelo automóvel; pela ideia de liberdade, individualidade e rapidez. Não inventem nada. Não avaliem se há ou não outros meios de atender nossos desejos, as nossas condições de existência [...]
Cada um está fechado em seu carro dentro de uma concha: lugar da solidão, lugar da dessocialização. Ninguém se comunica. Todos se evitam, se fecham em si mesmos, prisioneiros do cinto de segurança, do volante, do assento, das portas e janelas (MOSCOVICI, 2007, p. 206-207).





Só há uma maneira de sair dessa: a bicicleta. [...] ela não imobiliza o corpo, mas mobiliza as pernas, os braços, os cinco ou seis sentidos – já que a cabeça sonha. Se alguém cair, a pessoa se levanta e acorda cercada de seres humanos. [...] A bicicleta zomba dos regulamentos, ignora as proibições, circula em todo tipo de terreno e estaciona em qualquer lugar – na varanda, por exemplo. Em toda sociedade de consumo, é a bicicleta que consome menos; vez ou outra um pouco de ar e músculos (idem).

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