Fonte: fabio Guibu in Folha de São Paulo, 29/7/2010.
Gabriel García Márquez, no belíssimo discurso proferido em 8 de dezembro de 1982 perante a Academia Sueca de Letras, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, falou sobre a praga das ditaduras na América Latina. Em determinado momento, disse assim:
“Nossa independência da dominação dos espanhóis não nos pôs fora do alcance da loucura. O general Antonio López de Santana, três vezes ditador do México, providenciou um magnífico funeral para a perna direita que ele perdera na chamada Guerra dos Pastéis. O general Gabriel García Moreno governou o Equador por 16 anos como um monarca absoluto; em seu velório, o corpo ficou sentado na cadeira presidencial, vestido com o uniforme completo e decorado com uma camada protetora de medalhas. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teosófico de El Salvador, que teve 30 mil camponeses aniquilados num massacre selvagem, inventou um pêndulo para detectar veneno em sua comida, e mantinha as lâmpadas das ruas envolvidas em papel vermelho para vencer uma epidemia de escarlatina. A estátua do general Francisco Morazán, na praça principal de Tegucigalpa, é na verdade do marechal Ney, comprada num depósito de esculturas de segunda mão em Paris.” (tradução de Gilberto G. Pereira).
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Lutar contra essa súcia, essa malta, esse bando de fascínoras e assassinos sempre representou um divisor de águas entre gente de bem – independente de ser “de esquerda” ou “de direita” – e gente do mal. Acontece que, por razões históricas, a “esquerda” acabou por se tornar proprietária dessa bandeira – e com ela fez revoluções, com ela venceu eleições. O problema é contar a história dos governos “de esquerda”. Um dos melhores historiadores de nossa época, Tony Judt, faz isso maravilhosamente bem nos indispensáveis capítulos V e VI de sua obra seminal, “Pós-Guerra” (ed. Objetiva, 2008, pp.143-236). Lá está a frase-síntese do líder comunista da Alemanha Oriental, em 1945: “É muito claro – a coisa deve parecer democrática, mas precisamos ter tudo sob o nosso controle” (p. 145). Aí está o orgasmo do totalitarismo de “esquerda”, “ter tudo sob o nosso controle”. É a mais perfeita substituição de Deus pela Estatal – a fé continua. Esse “tudo” é revelador dessa estratégia! Isso é puro George Orwell, puro “1984”. E lá está também a frase magnífica (p. 186) do escritor Lawrence Durrell, em uma carta escrita de Belgrado a um amigo grego no final da década de 1940: “As condições aqui são bastante deprimentes – é quase uma situação de guerra, superpovoamento, pobreza. Quanto ao comunismo, meu caro Teodoro, uma breve visita aqui será o bastante para fazer qualquer pessoa concluir que vale a pena lutar pelo capitalismo. Por mais negro que seja, com todas as manchas de sangue, é menos deprimente, menos árido, menos desesperador do que este Estado policial inerte e pavoroso”. Estado policial inerte e pavoroso. Epifânico resumo!
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Tudo isso para dizer o seguinte: quando uma candidata à presidência da República declara desejar ser uma mãe para o povo brasileiro, há algo mais pavoroso do que isso? Quem é que precisa de um Estado-brontossáurico-controlador-policialesco-Mãe? Onde há Mãe demais, não florescem apples. Será que alguém em sã consciência consegue imaginar Bill Gates sendo atendido pelo paquidérmico BNDES? Desculpe, senhora candidata, tenho profundo respeito por seu passado de luta por um país melhor, decente, agora, Mãe não dá. O que começa na Mãe em política, acaba em ditadura. Basta citar Cuba, Venezuela, China, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Egito, só para citar alguns, não por acaso apoiados e idolatrados pelo partido da candidata e seu líder supremo, certamente o PAI dessa triste história. Por outro lado, não é necessário viajar para tão longe para se saber isso. Quem puder passar um mês dentro de qualquer estatal, seja municipal, estadual ou federal, terá uma idéia muito precisa sobre o que significa o Estado-Mãe: gastos sem limite, endividamento elefântico, nenhum controle sobre nada, multiplicação gigantesca de cargos de chefias, diretorias, licitações falsificadas, salários absurdos, o pior da política interferindo 24 horas por dia em tudo, contratos leoninos de terceiros, e assim por diante. Mãe? Nem pensar. Está na hora desse país começar a desmamar.
Gabriel García Márquez, no belíssimo discurso proferido em 8 de dezembro de 1982 perante a Academia Sueca de Letras, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, falou sobre a praga das ditaduras na América Latina. Em determinado momento, disse assim:
“Nossa independência da dominação dos espanhóis não nos pôs fora do alcance da loucura. O general Antonio López de Santana, três vezes ditador do México, providenciou um magnífico funeral para a perna direita que ele perdera na chamada Guerra dos Pastéis. O general Gabriel García Moreno governou o Equador por 16 anos como um monarca absoluto; em seu velório, o corpo ficou sentado na cadeira presidencial, vestido com o uniforme completo e decorado com uma camada protetora de medalhas. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teosófico de El Salvador, que teve 30 mil camponeses aniquilados num massacre selvagem, inventou um pêndulo para detectar veneno em sua comida, e mantinha as lâmpadas das ruas envolvidas em papel vermelho para vencer uma epidemia de escarlatina. A estátua do general Francisco Morazán, na praça principal de Tegucigalpa, é na verdade do marechal Ney, comprada num depósito de esculturas de segunda mão em Paris.” (tradução de Gilberto G. Pereira).
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Lutar contra essa súcia, essa malta, esse bando de fascínoras e assassinos sempre representou um divisor de águas entre gente de bem – independente de ser “de esquerda” ou “de direita” – e gente do mal. Acontece que, por razões históricas, a “esquerda” acabou por se tornar proprietária dessa bandeira – e com ela fez revoluções, com ela venceu eleições. O problema é contar a história dos governos “de esquerda”. Um dos melhores historiadores de nossa época, Tony Judt, faz isso maravilhosamente bem nos indispensáveis capítulos V e VI de sua obra seminal, “Pós-Guerra” (ed. Objetiva, 2008, pp.143-236). Lá está a frase-síntese do líder comunista da Alemanha Oriental, em 1945: “É muito claro – a coisa deve parecer democrática, mas precisamos ter tudo sob o nosso controle” (p. 145). Aí está o orgasmo do totalitarismo de “esquerda”, “ter tudo sob o nosso controle”. É a mais perfeita substituição de Deus pela Estatal – a fé continua. Esse “tudo” é revelador dessa estratégia! Isso é puro George Orwell, puro “1984”. E lá está também a frase magnífica (p. 186) do escritor Lawrence Durrell, em uma carta escrita de Belgrado a um amigo grego no final da década de 1940: “As condições aqui são bastante deprimentes – é quase uma situação de guerra, superpovoamento, pobreza. Quanto ao comunismo, meu caro Teodoro, uma breve visita aqui será o bastante para fazer qualquer pessoa concluir que vale a pena lutar pelo capitalismo. Por mais negro que seja, com todas as manchas de sangue, é menos deprimente, menos árido, menos desesperador do que este Estado policial inerte e pavoroso”. Estado policial inerte e pavoroso. Epifânico resumo!
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Tudo isso para dizer o seguinte: quando uma candidata à presidência da República declara desejar ser uma mãe para o povo brasileiro, há algo mais pavoroso do que isso? Quem é que precisa de um Estado-brontossáurico-controlador-policialesco-Mãe? Onde há Mãe demais, não florescem apples. Será que alguém em sã consciência consegue imaginar Bill Gates sendo atendido pelo paquidérmico BNDES? Desculpe, senhora candidata, tenho profundo respeito por seu passado de luta por um país melhor, decente, agora, Mãe não dá. O que começa na Mãe em política, acaba em ditadura. Basta citar Cuba, Venezuela, China, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Egito, só para citar alguns, não por acaso apoiados e idolatrados pelo partido da candidata e seu líder supremo, certamente o PAI dessa triste história. Por outro lado, não é necessário viajar para tão longe para se saber isso. Quem puder passar um mês dentro de qualquer estatal, seja municipal, estadual ou federal, terá uma idéia muito precisa sobre o que significa o Estado-Mãe: gastos sem limite, endividamento elefântico, nenhum controle sobre nada, multiplicação gigantesca de cargos de chefias, diretorias, licitações falsificadas, salários absurdos, o pior da política interferindo 24 horas por dia em tudo, contratos leoninos de terceiros, e assim por diante. Mãe? Nem pensar. Está na hora desse país começar a desmamar.
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Comentário: esse costume brazileru é terrível. Os políticos de todas as searas (vereadores, reitoráveis, presidenciáveis ... ) vêm conversar com aquela VOZ MACIA, CALMA (lembro-me da música de meu coral: ela é a dona de tudo, ela é a rainha do lar, ela é para mim, o céu, a terra e o mar... mãe é a palavra mais linda ...). Se você discorda dele, aí, o bicho pega.
Um comentário:
Penso que essa é a herança que Lula está nos deixando, a visão que tem de um país infantil, ingênuo, imaturo, o que não deixa de ter razão. Ele, esperto como uma raposa, observou durante anos o comportamento de nossas elites empresariais. Homens voltados para os seus negócios, mas pouco afeitos à política, acostumados por uma outra elite, esta sim política, a serem recebidos e tratados como príncipes nos salões do poder. Pouco se importavam ou se importam se o governo é de direita, esquerda, centro, etc. Tudo o que querem é resultado em suas empreitadas. Assim, pouco se lhes dá se estamos nos encaminhando para uma ditadura, para um modelo que favorece a pelegada sindical, se os impostos vão aos céus, se a iraniana é apedrejada ou enforcada. Chamam a essa atitude de foco. "Não se pode perder o foco nos negócios". Pouco se dá se o Maranhão é dominado pela família Sarney e é um dos mais atrasados do Brasil. Corrupção? "Sou, mas quem não é", como diria o personagem do Chico Anisio. Educação, segurança, saúde, transporte, mal ou bem tudo vem. Formamos uma nação de aleijões intelectuais, de estudantes que pouco estudam e de trabalhadores que dão o mínimo - refiro-me à maioria - para reivindicarem o máximo. Todos contribuindo para a esperteza geral. Assim, somos conhecidos como o país do futebol, das mulheres gostosas, do carnaval, do oba-oba. E com muito orgulho! Falta-nos qualidade de ser. Falta-nos um mínimo de seriedade para que não percamos de vista o que é certo e o que é errado, pois o relativismo que está vigorando confunde a cabecinha da maioria de nossos companheiros de jornada. Lembro-me com pânico a frase de um amigo: "Não se preocupa, homem, o Brasil não corre nenhum perigo de se tornar uma nação decente".E, como sequência natural, vem aí a mãezona. Fria e dura como uma pedra, mas, como diria o ídolo dos estudantes imbecís, o Guevara, "...sin perder la ternura".
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