TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

FANTÁSTICO!



Reinventar trajectórias
Publicado por Rui Bebiano em 17 de Maio de 2011 em HETERODOXIAS21 AQUI


Para Marc Augé «o biciclismo é um humanismo». Escreveu-o no Éloge de la Byciclette (2008), cujo título desenha uma analogia óbvia com o título da famosa conferência proferida por Sartre em 1945 na qual, em debate com os marxistas – para quem o humanismo «esquece o homem concreto» –, o filósofo parisiense lançou as bases de uma certa «popularização» do existencialismo francês. O humanismo do qual falava nada tinha, porém, a ver com a noção, ultrapassada para ele, do valor do indivíduo como «fim em si mesmo» ou, muito menos, enquanto «valor superior». Em «O existencialismo é um humanismo», Sartre falava antes do homem como um ser «para o qual os valores existem» e do humanismo como uma atitude que, por este preciso motivo, lhe podia conceder alguma dignidade.

A posição de Augé une-se de algum modo a esta noção de um combate humano pela dignidade que lhe é própria. Fá-lo de uma forma muito pragmática, ao sentar o indivíduo sobre o selim da sua bicicleta pessoal, a partir dela inventando percursos de acordo apenas com a sua vontade, o ritmo do seu tempo, a energia e os caprichos que vai administrando. Descobrindo um mundo à sua medida enquanto pedala, por onde lhe apetece, parando quando quer, retomando depois o movimento numa qualquer direcção e a diferentes intensidades. Sem os constrangimentos do trajecto a pé mas também sem as limitações, determinadas pela rede de estradas e pelas regras do trânsito, que hoje experimenta o viajante motorizado, esse escravo dos mapas. Totalmente entregue apenas à sua própria escolha, «passando na rua, um domingo, às seis horas da manhã», como num poema de Jacques Réda.

A velha bicicleta é aqui apresentada como indício de futuro, ecológico e limpo, utilizado, a par dos transportes colectivos não poluentes, como meio de livre circulação pelas cidades que estão para vir. Fazendo redescobrir um certo «princípio da realidade» assente numa ligação estritamente pessoal entre o espaço e o tempo, liberto desse mundo invadido pelas imagens de destinos e de veículos no qual vivemos de uma forma bastante passiva. Sempre confinados às cadências do tráfego automóvel ou forçados a circular exclusivamente pelas vias impostas pela organização social do trabalho e pela gestão política dos espaços públicos. Um belo projecto, este de Augé, cuja configuração fantasiosa as actuais condições de restrição do desperdício – quando somos forçados a contabilizar as despesas até ao último cêntimo – tendem a transformar num projecto de vida tão necessário quanto desejável. Tendo como cenário um estado geral de reinvenção das trajectórias.

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