TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

domingo, 26 de agosto de 2007

No fundo do poço com os livros

Imagem: escultura de Camille Claudel

Alguém me solicita descrever 20 livros que li e me marcaram. É difícil, mas vou descrever alguns. Em 1963 iniciei minha jornada às letras. Aprendi a ler graças à minha tia avó, Sianinha, de Sinhá Aninha. Portuguesa, gostava de ler, embora as condições não fossem lá essas coisas. Quem tinha livros em casa? Pobres, os meus parentes portugueses acreditavam no trabalho e nos estudos. Minha tia avó guardava pedaços de jornais com poesias; escrevia algumas poesias. Adorava letras, palavras, frases... O valor do estudo para minha tia era um valor para entender a vida, pensar a existência, lutar... Eu tenho esse hábito: guardar notícias de jornais...com o advento da internet esse hábito muda...mas tenho ainda coleções de papéis...


Um livro que li aos 12 anos foi O amante de Lady Chatterley. Meu vizinho me emprestou. Minha mãe ficou preocupada. Mas, mais do que os encontros secretos da amante Lady, impressionou-me os lugares, os vestidos, a atmosfera do romance....

Nessa época, li de Jack London, O chamado selvagem. Para uma adolescente, chamado selvagem era o chamado da idade: ir embora da terrinha, sair da casa dos pais. Li com 13 anos, Hermann Hesse, Debaixo das Rodas e outros. Que loucura! Uma adolescente lendo Hesse é uma corrente levando você rio abaixo.

Aos 15 anos tive aulas com o Victor. Professor de literatura dos BONS. Ele amava João Guimarães Rosa. Lemos com ele muitos livros do Rosa. O professor Victor era tão tímido, mas declamava Rosa.... As faíscas de seu entusiasmo chegavam até os alunos. Miguelin....buritis... Li nessa época A hora e a vez de Augusto Matraga.

O triste fim de Policarpo Quaresma me levou ao fundo do poço. Meu Deus! Existia um país, o Brasil, e gente diferente. Lendo e conhecendo um país estranho! Porto Ferreira era um pedaço do Brasil, era estranho isso...

Neste fundo do poço fiquei por muitos anos lendo Machado de Assis. Eu unia minha dor e minha ironia. Era sensível e irônica. Era ... ?

Gosto muito dos contos do Machado. A Cartomante foi um luxo. Amo este conto. Questão de vaidade...outro conto do Machado. Não posso de deixar de falar do Eça de Queirós, O primo Basílio. Putz, fiquei furiosa com a hipocrisia ....

Na adolescência li Érico veríssimo. Primeiro porque o professor solicitou ler Olhai os lírios do campo. Confesso: amo este livro! Leio sempre. Parece que preciso sentir a Olívia dentro de mim e ver bondade no mundo e nas pessoas.

O senhor embaixador do Veríssimo pai me devolvia a ironia. Entre a sensibilidade e o realismo da vida, li: Thomas Mann, Os Budenbrooks, decadência de uma família, Bom dia para os defuntos de Manuel Scorza, Eugene O´Neil, Longa jornada noite adentro; Almas Mortas, Gogol; Quarup, de Antonio Callado; Kafka, O processo ...


No fundo bem no fundo.... estão guardados a Clarice Lispector e o Machado. Um dia comento isto.

Fiquei no poço lendo muitos anos. Creio que só sai deste poço em 1982.... Como José, sai diferente. Muito diferente. Isso lá é outra história. Nesse caminho, Doris Lessing, Simenon... eu leio até bula de remédio...e com atenção.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marta,

Como é bom ter lembranças das primeiras leituras.
Diferente de voce, começei com gibi, lia de montão, adoro o Peninha e a Mônica. Depois foi a vez de Victor Hugo, Hess - fiquei encantado com Os Miseráveis -depois vieram os Machados de Assis.... os filósofos - por conta do curso - e ai vai... acredito que aqueles que apreciam um boa leitura sempre tem uma bucólica lembrança de seu passado literário.
Abraços

Anônimo disse...

Marta, cada árvore tem sua história mesmo. Na minha jovem rebeldia eu estava agarrado ao violão que Dona Elvira me dera (sei que disso você sabe), porém o dia que um amigão também rebelde (Gaspar Magalhães), roqueiro-cantor privilegiado na voz, parceiro de composição nos festivais, me viu no quarto lendo o GRANDE SERTÃO:VEREDA, ele quase teve um troço: "Você lê um livro desse? Dessa grossura e sem nenhuma fotografia? - inquiriu-me, certamente pensando em obras musicais coloridas.


Ainda hoje quando nos encontramos e ele me vê escrevendo (o tal romance de que lhe falei) ou lendo, sempre se refere ao fato... um pouco constrangido. Eu só digo: – Pois é, continuo moleque... ou será que eu já era "grande" quando moleque? Arremato.

Braziu!

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