TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Entrevista de 2007


Resenha Eletrônica
Entrevista - Roberto Romano
Revista Época - 29/01/2007
“SEM LULA, O PT VAI SE DISSOLVER”
o partido só se une em torno do presidente e poderá rachar quando ele deixar o governo, diz o filósofo

Leandro Loyola

SENTADO NA SALA REPLETA DE LIVROS, O FILÓSOFO

Roberto Romano relata suas relações hostis com a ONG de defesa de seu bairro, em São Paulo. “Todo mês eles mandam o carnê, e eu não pago”, afirma. “Vou pagar mais um imposto? De jeito nenhum!” a reclamação tem também viés político. Um dos mais argutos críticos do governo Lula, Romano vê na lata carga tributária um sinal de um Estado absolutista que concentra poder demais nas mãos do presidente. Outro sinal é a fragilidade dos partidos políticos. Para Romano, o PT só existe como partido por causa de Lula e corre risco a partir da saída dele do poder.

ÉPOCA – O que o senhor achou do discurso do presidente Lula no lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), em que ele falou em promover o crescimento aliado ao respeito à democracia?Roberto Romano– O mise-e-scène da apresentação do PAC me lembra a técnica do Lobo Mau e do Chapeuzinho Vermelho. Primeiro vem, o presidente Lula e fala a belezura – é o Chapeuzinho Vermelho. Depois, os ministros assumem o papel do Lobo Mau e negam verbas aos governadores. O uso do discurso do crescimento por Lula é uma técnica de persuasão do público interno e do externo. O público interno são os adeptos do PT e de outras iglas, que pagam tributo à memória de esquerda. Eles engolem por razões táticas, ou estratégicas, que seu presidente e seu ministério tenham uma política macroeconômica oposta ao pensamento de esquerda. Mas eles querem, pelo menos, uma política de desenvolvimento econômico. Então, ele lança esse tipo de chamariz para essas pessoas, como aliás fez durante a campanha eleitoral, chamando a atenção para as privatizações dos tucanos. O publico externo é a sociedade, para a qual ele precisa dar sinais de que busca uma receita de crescimento econômico.

ÉPOCA – O PAC é apenas propaganda?

Romano– o discurso do crescimento representa uma irresistível opção pela propaganda, uma técnica essencial de poder. O primeiro passo da propaganda é você convencer a si mesmo daquilo que é impossível. Você tem realmente de substituir a realidade, que é medíocre, pela promessa de um futuro que vem da força de um líder, de um partido, de uma nação. No Brasil, nós temos essa tradição. O PT é um partido que se fez com propaganda
Ele tinha um líder popular, que supostamente estava se dirigindo contra a ditadura, o capitalismo e que representava o novo na política. É uma forma de marketing muito utilizada no PT. No poder, em vez de modificar os procedimentos políticos, eles mudaram a propaganda. Não é por acaso que o propagandista (Duda Mendonça) de uma pessoa extremamente conservadora e de direita, que é o Maluf, tenha sido empregado para conseguir a vitória do Lula.

ÉPOCA - O PT depende muito do presidente Lula. Como será em 2010, quando ele não poderá ser candidato?

Romano – O PT está numa crise muito grande, mas tenho a coragem de confessar que essa crise de desagregação é bem menor do que eu imaginava dois anos atrás. Não imaginava que o PT tivesse essa capacidade de resistência e sobrevivência tão grande. Mas acho que sem o Lula o PT vai se dissolver. O que faz com que trotskistas, católicos, sindicalistas, liberais, um verdadeiro mix, fiquem juntos? O Lula é uma espécie de cimento que junta tudo isso. Eles fizeram um pacto de subserviência com o Lula. Houve uma época em que intelectual petista falava “de que”, para falar igual ao Lula. Sem o Lula, esse cimento some.

ÉPOCA – O PT se dissolverá sem o Lula ou se unirá em torno dele para 2014?

Romano– Todas as chances podem ser pensadas. Não descarto a possibilidade de você criar nesses quatro anos um sucessor do Lula dentro do Pt. Depende de saber se o grupo do Lula, e o próprio Lula, está disposto a isso. Eles podem esperar quatro anos. Se um aliado chegar ao governo, Lula se coloca numa posição discreta e tentará voltar me 2014. vai ter 68 anos de idade. Mas praticamente todos os partidos políticos tem sede de poder, não têm o costume da paciência história e não tem um programa para ir se solidificando. Não conheço partido político brasileiro que tenha essa genuína confiança no processo democrático.

ÉPOCA – A ministra Dilma Rousseff poderia ser aliada criada nesses quatro anos para suceder ao presidente Lula?

Romano– acho difícil. Ela não tem muito jeito negociador. O Lula é autoritário, mas tem a capacidade de sindicalista de aproximar interesses contrários. Para funcionar como chefe de Estado no Brasil e não se suicidar, tem de ter esse perfil negociador.

ÉPOCA – O cientista político Leôncio Martins Rodrigues disse que o presidente Lula pode se aproveitar da alta popularidade para mudar a Constituição e obter o direito a um terceiro mandato. Outros falam até no risco de ele tomar um caminho semelhante ao escolhido pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. É possível?
Romano - Lula é uma figura muito interessante, que chegou á política depois de ter sido sindicalista. E uma das atividades importantes do sindicalista em regime de força, como era o da ditadura militar, era procurar estabelecer pontes entre patrões, empregados e Estado. Era ser o melhor mediador entre esses três atores. O Lula foi um sindicalista exemplar. Ele é muito hábil na tarefa de negociar, de recuar, de fingir que não está vendo nada. O Chávez é militar. Mas, mesmo que ele caminhe para essa linha, o modelo do Lula se assemelha muito mais com um modelo absolutista do que com o das ditaduras militares sul-americanas que nós herdamos do século XIX.

ÉPOCA – Como, absolutista?
Romano - Nós, o Brasil, em relação à concepção de Estado, somos uma espécie de TFP (Tradição, Família e Propriedade, corrente conservadora da Igreja Católica). A TFP é um anacronismo ambulante. Você conversa com um sujeito da TFP e ele fala como se estivéssemos no século XII: defende o rei, a ordem, a igreja falando latim e tudo o mais. Em relação ao Estado, nós brasileiros, também temos esse anacronismo. Todos os preceitos do Estado democrático de direito são alheios à ordem brasileira. Por exemplo: o princípio da República, que é a igualdade formal de todo cidadão dentro da lei. Quando você tem o foro privilegiado para os políticos, você tem uma ordem que é aristocrática.

ÉPOCA – Por isso, o senhor não considera o Brasil democrático?

Romano – Exatamente. A idéia do poder de reis ser um poder superior, a do chefe de Estado ser um poder superior aos demais poderes. Nós fizemos isso com o poder moderador do império, que foi incorporado à Presidência da República depois, e até hoje temos essa característica. Nós somos um Estado em que o governo arranca quantos impostos quiser, sem nenhuma objeção séria dos outros poderes. Então você tem uma ordem absolutista

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