TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Em São Carlos, SP uma rua muda de nome...

Do Blog do Antonio Morales
Morei em São Carlos-SP, nos anos 80.A cidade exibia um conservadorismo exacerbado, especialmenteno que se refere ás suas chamadas “elites”. Isso se refletia, claro,na Câmara Municipal e no poder público. Prefeitos foram eleitos com a força e influência dessa gente. Ocorreu, nessa época, outrofato lamentável que considero estreitamente relacionado com essa mentalidade.
Um livro foi queimado em praça pública na praça central da cidade.
Um espetáculo típico da pior censura e perseguição ideológica.
Era um livro didático utilizado na escola pública que continhaum poema sobre o Natal e falava em Cristo em sua dimensão humana e criticava o consumismo da data em oposição aos sentimentoscristãos.
A mesma São Carlos que colocou o nome de um torturador emuma de suas ruas e que agora se redime. É uma boa notícia, queo professor Caio N. de Toledo, da Unicamp, comenta em seu artigo reproduzido abaixo.
São Carlos repudia torturador 14 de maio de 2009
Na incessante luta pelo aprofundamento da democracia política no Brasil, os vereadores de São Carlos, SP, foram responsáveis por uma decisão histórica: na tarde do dia de 12 maio, por unanimidade, os vereadores dessa cidade aprovaram um projeto de Lei que altera o nome da rua Sérgio Paranhos Fleury. A partir dos próximos dias, com a sanção da Lei pelo prefeito municipal, a rua passará a se denominar D. Hélder Pessoa Câmara.
Certamente, este ato em nada mudará o cotidiano dos moradores da rua nem dos demais habitantes da cidade. No entanto, na batalha em defesa do “direito à memória e do direito à verdade” sobre os fatos ocorridos durante a ditadura militar, a decisão dos vereadores de São Carlos tem um inestimável valor simbólico.
Por meio deste ato, um dos mais violentos e sádicos torturadores da ditadura militar – cujo nome foi imposto à cidade por meio de decreto de um obscuro prefeito, no ano de 1980 – em breve, deixará de ser lembrado pelos habitantes de São Carlos: pelos que transitam pela rua, pelos registros dos imóveis, pelas correspondências recebidas por seus moradores etc.
Mais do que isso: todos progressistas e democratas do país que conheceram a sinistra e brutal atuação desse policial – sempre acobertado e respaldado pelos altos escalões militares -, ficarão aliviados com este ato de justiça reparatória. Depois de quase 29 anos, a vexatória homenagem – conferida ao policial que comandava sessões de torturas nos sinistros porões da OBAN/DOI/CODI e que foi agente direto em ações que resultaram nas mortes de combatentes da ditadura militar – será, finalmente, varrida da cidade.
Simbólica e singular vitória dos democratas e progressistas que reconhecem e respeitam a memória de brasileiros e brasileiras que tiveram suas vidas sacrificadas no combate à ditadura militar.
Dupla derrota dos que ainda hoje cultuam a ditadura militar: é escorraçado da cidade de São Carlos o nome de um dos “heróis” do regime militar; em seu lugar entra o pequeno e frágil, mas, sempre destemido, “bispo vermelho” – D. Helder Pessoa Câmara.
A decisão dos vereadores de São Carlos – tendo à frente o presidente da Câmara, Lineu Navarro (PT), e apoiada vivamente por entidades em defesa dos direitos humanos, por acadêmicos de várias partes do país, estudante, artistas, jornalistas etc. – deveria se constituir em exemplo para todos legislativos brasileiros.
A defesa do “direito à memória e do direito à verdade” deve implicar também a luta pela ressignificação dos nomes de nossas ruas, praças, edificações públicas etc. que hoje cultuam os “heróis” e os patronos da ditadura militar de triste memória no Brasil.
Caio N. de ToledoProfessor da Unicamp
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Um comentário:

Tereza Freire disse...

Um gesto de reparação que à princípio parece ser tão pequeno e frágil como D. Hélder. Em tamanho físico sim, mas representa, assim como ele, a fortaleza moral diante de tão ultrajante comportamento humano durante a repressão militar. Abraços, Marta. Bom ver nosso Dom (da Paz) Hélder Câmara atuante ainda que não esteja mais entre nós.

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