TUCA PUC 1977
EU QUASE QUE NADA SEI. MAS DESCONFIO DE MUITA COISA. GUIMARÃES ROSA.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Moebius!


De Leonardo Ferrari, psicanalista, Curitiba
Fonte: Mario Serenellini in La Repubblica, 25/7/2010.

Sensacional! No La Repubblica de ontem, uma homenagem fabulosa ao artista-desenhista francês Moebius. Haverá uma exposição em Paris de 12 de outubro a 13 de março de 2011 na Fundação Cartier, “Moebius transe-forme”. Mario Serenellini foi a Paris escutar Moebius: “Aos seis, sete anos, me sentia já puxado por dois pólos de atração: a história da arte, com toda sua sacralidade soberana, a solenidade de uma catedral, e os quadrinhos, na época Mickey Mouse e Tintin. Eram duas vozes lutando dentro de mim: uma me empurrava para a rua dos meios de comunicação, a outra para o mundo mais vasto e aleatório da arte. No final da infância, me encontrei no meio do caminho dessa escolha, entre quadrinhos e a pintura. Mas, a arte já me parecia nessa época muito longínqua, eu já me sentia excluído dessa catedral. Os quadrinhos, ao contrário, tinham um ar mais acolhedor, convidativo, como uma corrente de ar fresco.” E aí, em meio a Piranesi, William Blake, Gustave Doré, as vozes materna e paterna, Moebius se vê diante do mistério: “Quanto mais um fenômeno é vago, inefável, tanto mais precisa deve ser sua descrição. É o trabalho da poesia, que revela o desconhecido através do conhecido. Uma maçã, na poesia, não é mais somente uma maçã. É o objetivo da arte transformar o mundo em algo enigmático, limpá-lo da obviedade. É por isso que amo a arte contemporânea. Marcel Duchamp, com as novas epifanias dos objets trouvés [“ready mades”, objetos da vida cotidiana deslocados para outras significações], fez uma inversão do sentido que libertou para sempre a visão e a refinou”. É o que reconhecia Folon sobre o trabalho de Moebius: “Moebius transforma uma pedra em montanha, vê o oceano em uma gota d’água”.” Conheci Moebius pela primeira vez através do Éder em Carazinho. Em sua Mounlinsart, Éder tinha um livro encadernado da revista Metal Hurlant, a edição de Portugal. É incrível isso. No meio de uma brutal ditadura militar – há sobre isso o relato excepcional de Elio Gaspari no maravilhoso e triste capítulo “A Roda de Aquarius” no seu imprescindível “A Ditadura Envergonhada” (ed. Cia. das Letras, 2002, da página 211 à 235 – é para se ler à cabeceira dos berçários foi isso que o Supremo Tribunal Federal do Brasil ajudou a sepultar em infeliz e recente decisão sobre os desaparecidos), onde o silêncio e a disciplina eram as regras – “onde está meu tio?”, silêncio, “por que minha tia foi para a Itália?”, silêncio, lá vinha o Éder com Moebius!! Lá estava o que muito mais tarde virou “Blade Runner” e “Alien”, lá estava “Blueberry”, sensacional anti-herói inspirado nos gigantes Sergio Leone e Sam Peckinpah – há no Brasil uma pequena parte, os três primeiros livros da série, publicados pela editora Panini. Moebius para mim sempre significou esse irmão querido, novos horizontes, saídas, caminhos, mundos, respostas, a palavra no lugar do silêncio. Aliás, ri muito quando, sem querer e sem imaginar essa possibilidade, me deparo com Moebius em Lacan muitos anos depois. Era outro Moebius, agora o matemático, mas era o mesmo Moebius. Obrigado Éder. Sem você, o silêncio teria vencido.

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