Cacareco. Um ex-aluno levou-me o livro do Domenico di masi ontem. Cacarequei. Fui ciscar debates para enviar a ele.
Do site aqui
Sobre "DOMENICO DI MASI"
Gilberto Dupas.
Domenico De Masi
Novas regras para uma sociedade nova
Na sociedade pós-industrial, em que a riqueza provém da arte e da ciência (mais rentáveis e menos poluentes que os bens materiais), o sociólogo italiano preconiza um estilo de vida que inclui estudo e lazer. "Esta é a única forma de produzir idéias geniais."
A solicitude e a cordialidade inesgotáveis, combinadas com um jeito de vovô bonzinho que acabou de sair da barbearia, escondem um vulcão de idéias capaz de encantar a muitos e, como sempre acontece, deixar irados outros tantos.
Estamos falando do sociólogo italiano Domenico De Masi, um dos mais conceituados e polêmicos teóricos das modernas relações entre o homem e o trabalho, autor de best-sellers sobre o assunto (veja quadro) e que, no Brasil, já foi chamado de "guru do ócio" por uma famosa revista, graças à interpretação geralmente equivocada que se faz das suas idéias.
Do alto de seus 63 anos de idade, quarenta dos quais dedicados ao ensino universitário, o sociólogo apregoa um tipo de ócio diferente do clichê que a palavra inspira - muita sombra, água fresca e nenhuma ocupação para o resto da vida. O ócio que defende é o "ócio criativo", uma forma inteligente e construtiva de utilizar o tempo.
A lógica é simples: a média de vida da população, hoje, é mais do que o dobro da média de nossos avós, ao passo que o progresso tecnológico e o desenvolvimento organizacional, característicos da sociedade pós-industrial surgida na metade do Século 20, permitem produzir mais com menos esforço.
"Um homem que vive 60 anos viverá cerca de 530 mil horas. Se trabalhar 40 anos, trabalhará 80 mil horas. Outras 220 mil horas serão dedicadas aos chamados cuidados com o corpo (dormir, alimentar-se, tomar banho, etc). O que fazer com as restantes 230 mil horas? Temos todo esse tempo para descansar e viver", argumenta.
O ócio criativo consiste, exatamente, em saber empregar o tempo livre. "Chegou o tempo de trabalhar sem o suor do rosto", afirma De Masi. "Temos o direito de trabalhar aproveitando o trabalho. O ócio criativo une o trabalho com o estudo (conhecimento) e o lazer (jogo e diversão). Podemos organizar nosso tempo e fazer com que todos os três coincidam. Esta é a única forma de produzir idéias geniais."
Para as empresas da era pós-industrial, voltadas para a produção de bens imateriais (valores, serviços, informação, estética, etc. ) e que dependem da criatividade para permanecer no mercado, De Masi propõe uma revisão das regras que controlam a produção intelectual. "No trabalho manual, dobrando o tempo, tínhamos o dobro de quantidade, mas não se pode dizer o mesmo do trabalho intelectual, que não tem tempo nem lugar. O controle não serve para nada, senão para inibir a criatividade."
De Masi esteve no Brasil recentemente, para palestras na Universidade Anhembi-Morumbi e na sede do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP), onde conversou com a reportagem da Revista do IMAPES.
Revista do IMAPES - Algumas pessoas confundem o ócio criativo com o dolce far niente, o não fazer nada. Além disso, muitos empresários acham que estarão sendo logrados se não tiverem a presença física dos funcionários na empresa. No meio empresarial, como é a receptividade dos administradores em relação a suas idéias?
De Masi - Eu acredito que as resistências culturais são muito fortes, e que precisamos de tempo para aceitar essas idéias. As teorias industriais de Taylor e Ford, em 1903, levaram cem anos para se difundirem por toda a América e o mundo. Eu não acho que as minhas idéias serão aceitas rapidamente, mas isso deverá ocorrer.
Revista do IMAPES - O que o leva a acreditar nisso?
De Masi - Se observarmos bem, vemos que existe um interesse muito forte em todo o mundo. Meu livro "O Futuro do Trabalho" foi muito vendido na Itália e no Brasil. Aqui no Brasil foram seis edições em trinta dias. Já o livro "O Ócio Criativo" vendeu até agora sessenta mil cópias. Então, eu acredito que existe esse interesse, em muitas partes do mundo.
Revista do IMAPES - Qual a principal razão desse interesse?
De Masi - Os managers que trabalham muito estão começando a compreender que não vale a pena trabalhar tanto e deixar de lado aspectos da vida que são tão ou mais importantes.
Revista do Imapes - A conquista do ócio criativo deve ser do funcionário ou pode-se esperar que as empresas o adotem?
De Masi - A empresa se interessa apenas pela riqueza. Eu acredito que com o ócio criativo os funcionários teriam mais idéias e a empresa poderia ganhar mais. Mas o que é a empresa? São outros funcionários. E estes funcionários têm a mentalidade industrial. Por isso, não compreendem que para termos mais idéias temos que ter mais liberdade. Acreditam que temos que fazer como quando queremos produzir mais parafusos: estabelecendo mais horários e controles.
Revista do IMAPES - Não é assim que uma empresa deve funcionar?
De Masi - Nós produzimos bens materiais quando muito controlados, e produzimos boas idéias quando muito motivados. As empresas, normalmente, costumam usar o controle, e não a motivação. Mas algumas empresas começam a compreender essa nova realidade.
FRASES PARA REFLETIR
"A produção de idéias é mais rentável e menos poluente que a produção de bens materiais. Na sociedade pós-industrial, os países ricos produzem idéias, enquanto as fábricas de bens materiais migram para países do Terceiro Mundo, onde a mão-de-obra é mais barata e as leis de proteção ao meio-ambiente são menos exigentes. O fator determinante para fazer parte do primeiro grupo é a produção de arte e ciência."
"As transformações tecnológicas, culturais, psicológicas e éticas ocorrem em passos diferentes. Já passamos para a sociedade pós-industrial mas mantemos a mentalidade da época industrial. O trabalho criativo está herdando as regras organizacionais do trabalho físico. Milhares de administradores são preparados para aplicar, na produção de idéias, os mesmos métodos e processos da indústria metal-mecânica."
PONTOS DE VISTA
A favor
"Talvez a solução seja mesmo um novo modelo sócio-econômico, ou seja, transformar o homo faber no homo ludens: mais lazer, mais férias. Às vezes é preciso adotar o estilo dolce far niente. Por enquanto, somos dependentes do trabalho, tanto do ponto de vista econômico quanto cultural, mas a busca da utopia é legítima. Um mapa do mundo que não inclua Utopia não merece uma olhada sequer, porque omite justamente o país em que a humanidade está sempre desembarcando."
Wilson Luiz Sanvito, médico e professor
universitário, no "Jornal da Tarde" de 23/12/2000
Contra
"Com a redução crescente da proteção social e cada vez menos tempo para acumular poupança para o restante da vida, uma pergunta começa a martelar a cabeça dos mais velhos: para que serve viver cada vez mais? Mas essas questões não abalam a todos, especialmente os otimistas bem-sucedidos. Não é à-toa que o fulgurante Domenico De Masi (...) continua a descer de helicóptero sobre grandes platéias de várias metrópoles mundiais, inclusive de países pobres, para afirmar que agora teremos muito mais tempo para gozar a vida."
Gilberto Dupas, coordenador geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, no "Jornal da Tarde" de 23/04/2001.
Gilberto Dupas.
Domenico De Masi
Novas regras para uma sociedade nova
Na sociedade pós-industrial, em que a riqueza provém da arte e da ciência (mais rentáveis e menos poluentes que os bens materiais), o sociólogo italiano preconiza um estilo de vida que inclui estudo e lazer. "Esta é a única forma de produzir idéias geniais."
A solicitude e a cordialidade inesgotáveis, combinadas com um jeito de vovô bonzinho que acabou de sair da barbearia, escondem um vulcão de idéias capaz de encantar a muitos e, como sempre acontece, deixar irados outros tantos.
Estamos falando do sociólogo italiano Domenico De Masi, um dos mais conceituados e polêmicos teóricos das modernas relações entre o homem e o trabalho, autor de best-sellers sobre o assunto (veja quadro) e que, no Brasil, já foi chamado de "guru do ócio" por uma famosa revista, graças à interpretação geralmente equivocada que se faz das suas idéias.
Do alto de seus 63 anos de idade, quarenta dos quais dedicados ao ensino universitário, o sociólogo apregoa um tipo de ócio diferente do clichê que a palavra inspira - muita sombra, água fresca e nenhuma ocupação para o resto da vida. O ócio que defende é o "ócio criativo", uma forma inteligente e construtiva de utilizar o tempo.
A lógica é simples: a média de vida da população, hoje, é mais do que o dobro da média de nossos avós, ao passo que o progresso tecnológico e o desenvolvimento organizacional, característicos da sociedade pós-industrial surgida na metade do Século 20, permitem produzir mais com menos esforço.
"Um homem que vive 60 anos viverá cerca de 530 mil horas. Se trabalhar 40 anos, trabalhará 80 mil horas. Outras 220 mil horas serão dedicadas aos chamados cuidados com o corpo (dormir, alimentar-se, tomar banho, etc). O que fazer com as restantes 230 mil horas? Temos todo esse tempo para descansar e viver", argumenta.
O ócio criativo consiste, exatamente, em saber empregar o tempo livre. "Chegou o tempo de trabalhar sem o suor do rosto", afirma De Masi. "Temos o direito de trabalhar aproveitando o trabalho. O ócio criativo une o trabalho com o estudo (conhecimento) e o lazer (jogo e diversão). Podemos organizar nosso tempo e fazer com que todos os três coincidam. Esta é a única forma de produzir idéias geniais."
Para as empresas da era pós-industrial, voltadas para a produção de bens imateriais (valores, serviços, informação, estética, etc. ) e que dependem da criatividade para permanecer no mercado, De Masi propõe uma revisão das regras que controlam a produção intelectual. "No trabalho manual, dobrando o tempo, tínhamos o dobro de quantidade, mas não se pode dizer o mesmo do trabalho intelectual, que não tem tempo nem lugar. O controle não serve para nada, senão para inibir a criatividade."
De Masi esteve no Brasil recentemente, para palestras na Universidade Anhembi-Morumbi e na sede do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP), onde conversou com a reportagem da Revista do IMAPES.
Revista do IMAPES - Algumas pessoas confundem o ócio criativo com o dolce far niente, o não fazer nada. Além disso, muitos empresários acham que estarão sendo logrados se não tiverem a presença física dos funcionários na empresa. No meio empresarial, como é a receptividade dos administradores em relação a suas idéias?
De Masi - Eu acredito que as resistências culturais são muito fortes, e que precisamos de tempo para aceitar essas idéias. As teorias industriais de Taylor e Ford, em 1903, levaram cem anos para se difundirem por toda a América e o mundo. Eu não acho que as minhas idéias serão aceitas rapidamente, mas isso deverá ocorrer.
Revista do IMAPES - O que o leva a acreditar nisso?
De Masi - Se observarmos bem, vemos que existe um interesse muito forte em todo o mundo. Meu livro "O Futuro do Trabalho" foi muito vendido na Itália e no Brasil. Aqui no Brasil foram seis edições em trinta dias. Já o livro "O Ócio Criativo" vendeu até agora sessenta mil cópias. Então, eu acredito que existe esse interesse, em muitas partes do mundo.
Revista do IMAPES - Qual a principal razão desse interesse?
De Masi - Os managers que trabalham muito estão começando a compreender que não vale a pena trabalhar tanto e deixar de lado aspectos da vida que são tão ou mais importantes.
Revista do Imapes - A conquista do ócio criativo deve ser do funcionário ou pode-se esperar que as empresas o adotem?
De Masi - A empresa se interessa apenas pela riqueza. Eu acredito que com o ócio criativo os funcionários teriam mais idéias e a empresa poderia ganhar mais. Mas o que é a empresa? São outros funcionários. E estes funcionários têm a mentalidade industrial. Por isso, não compreendem que para termos mais idéias temos que ter mais liberdade. Acreditam que temos que fazer como quando queremos produzir mais parafusos: estabelecendo mais horários e controles.
Revista do IMAPES - Não é assim que uma empresa deve funcionar?
De Masi - Nós produzimos bens materiais quando muito controlados, e produzimos boas idéias quando muito motivados. As empresas, normalmente, costumam usar o controle, e não a motivação. Mas algumas empresas começam a compreender essa nova realidade.
FRASES PARA REFLETIR
"A produção de idéias é mais rentável e menos poluente que a produção de bens materiais. Na sociedade pós-industrial, os países ricos produzem idéias, enquanto as fábricas de bens materiais migram para países do Terceiro Mundo, onde a mão-de-obra é mais barata e as leis de proteção ao meio-ambiente são menos exigentes. O fator determinante para fazer parte do primeiro grupo é a produção de arte e ciência."
"As transformações tecnológicas, culturais, psicológicas e éticas ocorrem em passos diferentes. Já passamos para a sociedade pós-industrial mas mantemos a mentalidade da época industrial. O trabalho criativo está herdando as regras organizacionais do trabalho físico. Milhares de administradores são preparados para aplicar, na produção de idéias, os mesmos métodos e processos da indústria metal-mecânica."
PONTOS DE VISTA
A favor
"Talvez a solução seja mesmo um novo modelo sócio-econômico, ou seja, transformar o homo faber no homo ludens: mais lazer, mais férias. Às vezes é preciso adotar o estilo dolce far niente. Por enquanto, somos dependentes do trabalho, tanto do ponto de vista econômico quanto cultural, mas a busca da utopia é legítima. Um mapa do mundo que não inclua Utopia não merece uma olhada sequer, porque omite justamente o país em que a humanidade está sempre desembarcando."
Wilson Luiz Sanvito, médico e professor
universitário, no "Jornal da Tarde" de 23/12/2000
Contra
"Com a redução crescente da proteção social e cada vez menos tempo para acumular poupança para o restante da vida, uma pergunta começa a martelar a cabeça dos mais velhos: para que serve viver cada vez mais? Mas essas questões não abalam a todos, especialmente os otimistas bem-sucedidos. Não é à-toa que o fulgurante Domenico De Masi (...) continua a descer de helicóptero sobre grandes platéias de várias metrópoles mundiais, inclusive de países pobres, para afirmar que agora teremos muito mais tempo para gozar a vida."
Gilberto Dupas, coordenador geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, no "Jornal da Tarde" de 23/04/2001.
Nenhum comentário:
Postar um comentário