Foto de Lina Faria, morador de rua, na Cruel-ritiba, como diz o Solda. Cap-tirei a foto de lá.Essa foto lembra-me um período que vivi em São Paulo. Década de 1980. Seu início. Estava eu procurando emprego (como professora, babá, revisora de livros didáticos) e me vi na Avenida dos grandes bancos. Olhei para cima, um céu poluído e senti-me um ser abandonado. Uma moradora de rua. Sem emprego, sem um gato para puxar o rabo (claro, com carícia), ou como dizia meu pai: "no bico do urubú". Pronta para ser solta para a morte. Penso que nessa época vivi a experiência de ser só, de morar na rua de não ter nada e vagar no nada. Quando vejo os moradores de rua, é inevitável: penso em mim. Ainda ontem levei minha filha ao médico para um pequeno procedimento cirúrgico. Na chuca intensa, no frio, um cavalo puxado por um catador de lixo. Isso me dá a sensação de que ninguém pode dizer que um dia não seremos jogados. Somos todos indesejáveis.
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