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terça-feira, 6 de julho de 2010

Atenção: direita esquerda, volver!


Gazeta do Povo.
Eleições 2010

Do Blog de
Roberto Romano

Caçada ao voto
Ideologia: eu (não) quero uma para viver
Candidatos abrem mão de discursos mais fortes para tentar chegar a uma parcela cada vez mais ampla do eleitorado

04/07/2010 00:17 Rogerio Waldrigues Galin

Houve um tempo em que os principais candidatos à Pre­­­sidência da República representavam claramente uma ideologia. Esses tempos se foram. Em 1989, por exemplo, Fer­nando Collor de Mello acusava seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, de “defender teses estranhas ao nosso meio, teses marxistas”. As acusações foram feitas em debate para a televisão, em rede nacional. E Lula não desmentiu. Claramente, Collor, naquele contexto, representava a direita. Lula era a esquerda. Hoje, não é bem assim.

É claro que os candidatos continuam tendo seu modo de pensar, muitas vezes se alinhando a uma ideologia tradicional. Cientistas políticos afirmam que os três candidatos mais fortes à Presidência deste ano, por exemplo, vêm da esquerda. Isso não significa, porém, que qualquer um deles fosse gostar de ser chamado de marxista diante do eleitorado. Pelo contrário: isso não pegaria bem. Assim como não pegaria bem alguém ficar com o rótulo de candidato “da direita”. Parece que todos querem, um pouco para lá ou para cá, ficar no centro.

Saiba mais
Coligações de última hora mostram sede de poder
Saiba mais - Esquerda e direita rivalizam desde o século 18
Os conceitos de esquerda e direita nasceram na Revolução Francesa, no século 18, mas se tornaram mais importantes no século seguinte.

A esquerda passou a designar a ideologia que pregava mudanças no regime econômico. O pensador que levou a ideia ao extremo foi Karl Marx: para combater os abusos da Revolução Industrial, que levava os trabalhadores a jornadas longas e cruéis, propôs uma grande transformação em que todos seriam iguais e os operários se tornariam os donos dos meios de produção.

No mundo moderno, esquerda não representa necessariamente um projeto radical como esse. Segundo o filósofo italiano Norberto Bobbio, porém, a base do pensamento de esquerda continua sendo a tentativa de diminuir a desigualdade entre as pessoas. Para isso, lança mão de impostos pesados para redistribuir renda, prega a reforma agrária e defende programas de assistência social. Isso exige um Estado forte.

A direita, ainda segundo Bobbio, é a ideologia da liberdade. A crença, nesse caso, é de que o governo não deve interferir demais na sociedade. Nem na economia nem em outros campos. A ­­ideologia pressupõe uma con­fiança no sistema capitalista: a ideia é que o próprio desenvolvimento ­­da sociedade, com impostos baixos e liberdade para desenvolvimento sem interferência estatal, levará ao crescimento e à pros­­peri­da­de.

A mesma situação se repete nos estados. Todos migram para uma “zona neutra”, o que acaba possibilitando aos políticos fazer coligações que ninguém imaginaria, por um lado. E, por outro lado, dificulta para o eleitor saber exatamente em quem está votando. Em última instância, é uma situação que acaba fazendo duvidar da própria existência de direita e esquerda ou outra ideologia. Mas, afinal de contas, porque os candidatos não querem ser ideológicos?

Eleitor médio

A migração para o centro é velha conhecida dos cientistas políticos. “Esse é um fenômeno antigo, que foi descrito por um norte-americano chamado Anthony Downs”, conta Adriano Codato, professor de Ciência Política da UFPR. “A tese dele é de que existe um eleitor médio, que é uma abstração, claro, e que fica mais ou menos no meio do espectro ideológico. Não é nem de direita, nem de esquerda”, diz.

O ponto, afirma ele, é que a maior parte do eleitorado acaba ficando muito perto desse centro. E acabam sendo raros os que se alinham a uma das extremidades. Como eleição se ganha com o apoio da maioria, ainda mais num processo em dois turnos, os candidatos tendem a ocultar qualquer posição mais radical. “É o que se chama de estratégia catch all (pega todo mundo)”, diz Codato.

Ou seja: a intenção é não assustar ninguém. Assim, se um candidato é a favor, digamos, de pôr limites à propriedade privada, não vai dizer isso com todas as letras. Vai, de preferência, evitar o assunto, e falar apenas dos pontos em que todos concordam. Por outro lado, um político à direita não vai defender o fim de programas de assistência social: no máximo, não vai falar em ampliá-los.

“Os candidatos não querem desagradar aos seus possíveis eleitores. Assim, o elemento ideológico, da maneira como o debate acontece nas campanhas eleitorais brasileiras, é rebaixado ao mínimo”, afirma o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. E, para evitar qualquer discurso que possa desagradar a alguém, a discussão acaba centrada em propostas vagas e promessas genéricas. Fala-se em melhorar a educação, a saúde, dar mais segurança, garantir empregos. E só.

Carta

Para o cientista político Sérgio Braga,
da UFPR, historicamente o cenário político brasileiro mudou em 2002, quando Lula e o PT divulgaram a Carta ao Povo Brasileiro. O documento, lançado às vésperas da quarta tentativa de Lula de chegar à Presidência, sinalizava que o partido, até então símbolo da esquerda brasileira, poderia fazer concessões, estava se suavizando, e não pretendia tomar nenhuma medida mais radical.

Hoje, os especialistas dizem não ter dúvidas de que os três principais candidatos têm origem na esquerda. Dilma Rousseff é o exemplo mais claro. Para combater a ditadura militar, foi filiada a movimentos radicais, ligados à guerrilha. José Serra disse recentemente “estar à esquerda de Lula” e tem o pensamento ligado à Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe. Mari­­na Silva é ligada à esquerda ambi­entalista.

No entanto, até mesmo a necessidade de fazer coligações para conseguir mais apoios e tempo de televisão faz com que as candidaturas se pasteurizem. “No caso do Serra, por exemplo, ele é de esquerda. Mas como está ligado ao Democratas, acaba tendo uma candidatura de centro-direita”, diz Leonardo Barreto, professor de Ciência Política na Universidade de Brasília.

Postado por Roberto Romano

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