Fui!

Arte: do Acir Vidal.

Após uma reunião, ontem, do Conselho Editorial da Universidade onde trabalho, faço uma reflexão.

- a demanda para a publicação de livros aumentou muito. Como a nossa História na Universidade é contada de 5 em 5 anos, período estabelecido pelos órgãos de pesquisa, de 5 em 5 anos desaparecemos no mundo da produção. Daí corremos para que nada mude nesse intervalo em que as agências nos permitem viver como seres históricos (sic).

- como a corrida contra o tempo é dura entramos em depressão. Não porque o tempo corre. Quem corre somos nós. O problema é que desvalorizamos nosso passado, nossa história e temos que recontrui-la todo dia, como Sísifo. Quando desvalorizamos nosso passado e o presente é o todo, emerge o nosso narcisismo. Mas é um narcisismo sustentado por um tempo ínfimo. Hoje estou feliz porque publiquei, mas amanhã estarei preocupado porque ainda não publiquei. Ainda não orientei. Ainda não fiz a história presente.

- sentimo-nos permanentemente rebaixados. Nossa auto-estima é estimada pelos órgãos de fomento; amanhã estarei fora do esquema, pensamos. Entramos em luto. Depressão. Melancolia. Tomamos fluoxetina. Afinal, estamos sempre investindo em um Lattes (objeto) perdido. Eles mudam nosso Lattes a cada 5 anos. A cada 2 anos. A cada minuto. Aumenta o gosto pelo efêmero, pelo modismo, não pode haver passado, nem futuro. Competimos. Competimos duramente. descobrimos, finalmente, que estamos competindo conosco mesmo. Daí, você se aposenta e vira um velho ranzinza. Deu seu sangue para uma causa perdida. E o nosso lattes fica lá, no Google, com aquela fotografia sorrindo de bobo que fomos.

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P. S. Não sou contra a publicação. Sou a favor. Mas, por favor, não me venham com excessos. Ontem entreguei o parecer de 4 livros propostos por uma mesma autora. Quem escreve 4 livros em um ano?